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Biomarcadores, medicina de precisão e seu papel na luta contra o câncer

Cientista em laboratório trabalhando com tubos de ensaio.

Assunto foi tema da Masterclass realizada pelo Instituto Vencer o Câncer no 5º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer.

 

“É imperativo conhecer bem o inimigo para eliminá-lo”. Com essa frase, o Oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer (IVOC), resume o principal papel dos biomarcadores e da medicina de precisão nos tratamentos de câncer. O assunto foi abordado na Masterclass com o tema “Múltiplas razões: medicina de precisão e biomarcadores”, organizada pelo IVOC em parceria com a Bayer no 5º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer.

Além de Buzaid, participaram da masterclass os oncologistas Lucas Santos e Rodrigo Munhoz, e o hematologista Phillip Scheinberg. O evento contou ainda com depoimento de dois pacientes que relataram suas experiências em pesquisa clínica. Na Oncologia, a medicina de precisão é apontada como um futuro promissor para o tratamento de câncer. Ela substitui a ideia de tratar todos os pacientes da mesma forma para saber o que é melhor para cada um.

Participantes do IVOC no TJCC 2018.
Participantes do IVOC no TJCC 2018.

Buzaid explicou à plateia que lotou a sala da masterclass que a terapia de precisão está crescendo, garantindo melhores resultados. O oncologista demonstrou vários exemplos de sua experiência e de outros colegas, mostrando situações em que a terapia alvo possibilitou aumentar a sobrevida e, em alguns casos, até mesmo zerar o câncer de pacientes que não obtinham mais resultados nos tratamentos tradicionais. Quanto ao papel dos biomarcadores, ele explicou que eles são essenciais para ajudar a achar o paciente que tem chance próxima de 100% de responder ao remédio.

Lucas Santos recordou que no passado se usava o mesmo procedimento para todos os casos, o que gerava resultados positivos para uns, mas negativos para outros. Quanto à utilização de biomarcadores, destacou: “hoje selecionamos pacientes com base em características peculiares em cada um”. Falando especificamente sobre o papel dos biomarcadores em câncer de pulmão, explicou que atualmente não se fala em fazer tratamento de pulmão sem testar uma série de alterações para eventualmente escolher o uso de terapia alvo, que melhora o resultado no primeiro tratamento.

“Biomarcador é um indicador de um processo biológico normal ou um processo patológico ou como resposta à exposição a uma intervenção, incluindo intervenções terapêuticas”. Ao conceito do FDA (Food and Drug Administration), agência federal responsável pela proteção e promoção de saúde pública nos Estados Unidos, Santos acrescenta: “biomarcador é qualquer alteração que possa me levar a escolher um tratamento ou estratégia de cuidado mais apropriada ao paciente. Pode ser molecular, fisiológico, exame de imagem, um pedaço histológico, um recorte patológico de descrição”.

Entre as várias funções do biomarcador, o oncologista comentou seu uso para medir a segurança, monitoramento, avaliação de risco e suscetibilidade, preditiva e diagnóstico, entre outras. Citou exemplos de como os biomarcadores ajudam não só a indicar o melhor tratamento, mas monitorar resultados, além de mais aplicações. “Os biomarcadores são fundamentais para o desenvolvimento de novos tratamentos mais seguros e eficazes. Eles terão utilidade crescente para monitorar pacientes”, concluiu Lucas Santos.

Phillip Scheinberg falou de pesquisa clínica e sobre o conceito de individualização do tratamento: “é o presente e o futuro da Oncologia”. Fazendo uma retrospectiva histórica, recordou que na década de 1920 já se discutia terapia-alvo, o que dá a impressão de que se demorou muito para chegar aos resultados obtidos hoje, mas que isso se deve ao fato de serem necessários muitos estudos e pesquisas para acertar o caminho. “A terapia ideal tem como conceito acertar o oponente onde dói muito”, disse, comparando a batalha contra o câncer a uma luta de boxe. “Precisa descobrir aquele golpe que faz o oponente cair duro e não sair mais do chão”.

Os estudos das últimas décadas voltaram-se a encontrar exatamente esse alvo para os vários tipos de cânceres. “Temos bilhões de proteínas dentro de uma célula e precisamos saber quais importam, descobrir por onde as células se comunicam, que sinais usam e como interferir nessa comunicação. Começamos a desvendar e, em alguns casos, até a descobrir como dar o nocaute”.

Scheinberg acrescentou que no momento está se começando a categorizar as doenças com base nas alterações genéticas, moleculares, celulares, proteicas. “Um tumor pode ter diferentes vias, proteínas, coisas que ligam e desligam em momentos diferentes. Uma terapia pode ser mais efetiva para o mesmo câncer do que para outros tipos”. Todos esses resultados, ressalta o oncologista, vieram de estudos clínicos com centenas de pessoas envolvidas em todo o mundo.

Antonio Buzaid lembrou que o site do Instituto Vencer o Câncer tem uma plataforma que permite encontrar estudos clínicos abertos no Brasil. (link para plataforma)

O oncologista clínico Rodrigo Munhoz tratou dos desafios diagnósticos e terapêuticos no Brasil, chamando atenção para o crescimento da população e dos casos diagnosticados de câncer nos últimos anos, citando dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que prevê 582 mil novos casos de câncer no Brasil em 2018.

Fazendo um panorama dos tratamentos e atendimentos via saúde suplementar e Sistema Único de Saúde (SUS), Munhoz falou dos principais desafios, que são, entre outros, melhoria nos métodos de diagnóstico, acesso aos tratamentos em centros especializados e profissionais habilitados nesses centros. O oncologista destacou os desafios de gestão para vencer barreiras financeiras que levam a atrasos entre o primeiro sintoma, visita ao médico, diagnóstico e início do tratamento adequado.

“Um ponto fundamental no tratamento do câncer é dar nome e sobrenome à doença que se está tratando. Câncer é um nome genérico”, referiu-se à necessidade de especificar cada caso para personalizar o tratamento. Comentando o processo de desenvolvimento de drogas, que considera “lento e penoso”, Munhoz explicou os protocolos de pesquisa, que têm início com poucos pacientes, de 20 a 100 na fase 1, aumentando para 100 a 500 na fase 2 em que se testa além da segurança também a eficácia e finalmente chegando de 1 a 5 mil pacientes na fase 3 de estudo definitivo de registro, em que se compara o novo tratamento com o padrão ou placebo. “Apenas 10% dos medicamentos que entram em fase 1 são aprovados”.

Ele falou ainda das dificuldades de o Brasil participar de estudos e de ter acesso a novas drogas, especialmente por entraves burocráticos: enquanto no FDA leva cerca de 186 dias o processo regulatório, na Anvisa são 449 dias. Para concluir, citou os milhares de óbitos que poderiam ser prevenidos com a incorporação precoce de medicamentos.

 

“Deu minha vida de volta”

 

A frase, do ortopedista Fausto Simões, traduz o sentimento do médico depois de um câncer de pulmão e vários tratamentos com terapias tradicionais que haviam falhado. Ele não via mais perspectivas quando teve uma recidiva; foi quando descobriu que havia novas possibilidades. “Ainda não tinha sido aberta pesquisa para o meu tipo, mas ele abriu um grupo”, diz referindo-se ao oncologista Antonio Buzaid. Há dois anos Simões está apenas em controle e não tem mais manifestação.

Ele fez parte de um protocolo de pesquisa com o medicamento Nivolumabe, assim como Clio Matzenbacher de Moura, que está há três anos em um estudo clínico da droga.

“Valeu muito, sou muito agradecida; não tenho nem sintoma”, comemora a paciente, que não teve efeito colateral para o medicamento. “Hoje consigo viajar, brincar com meus netos. Estou cada vez mais feliz”.

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