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Capital do Mato Grosso do Sul terá primeiro centro de pesquisa oncológica

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Pacientes precisavam se deslocar centenas de quilômetros para participar de estudo.

Os pacientes oncológicos que vivem na região de Campo Grande, capital do estado do Mato Grosso do Sul, e poderiam ter melhores oportunidades de tratamentos participando de pesquisas clínicas nem sempre conseguem se beneficiar dos avanços da área, porque enfrentam o desafio da distância. O centro de estudos clínicos em oncologia mais próximo fica a 450 quilômetros, em Três Lagoas, já na divisa com o estado de São Paulo; o segundo mais perto é em São Paulo, a cerca de mil quilômetros de distância. “Encaminhamos alguns poucos pacientes para São Paulo; é mais fácil do que para Três Lagoas, que tem menos pesquisa e não é possível ir de avião”, avisa Cristina Anjos Sampaio, oncologista clínica na clínica Prognóstica, Centro de pesquisa Onconeo.

Devido à distância e à dificuldade para os pacientes acompanharem os estudos, avalia, acaba sendo acessível apenas a alguns poucos com condições. Na maior parte das vezes acabam sendo beneficiados os que têm convênio médico, mais acesso e podem viajar para participar da pesquisa. “Somos a capital do Mato Grosso do Sul e não temos nenhum centro de pesquisa oncológico na região. Por isso, quando vi a divulgação do edital com a possibilidade de receber suporte e apoio para montar um centro de pesquisa na clínica, percebi que essa era a oportunidade de conquistar algo que já buscávamos realizar”.

Ela explica que houve uma tentativa de estruturar um centro de pesquisa em 2019, mas por inexperiência e dificuldades técnicas, só foi possível avançar com o projeto em 2021. “Mesmo assim, era muito inicial. Digo que foi um projeto piloto. Por isso fiquei muito feliz quando fomos selecionados. O maior benefício é para os pacientes da nossa região”. Cristina Sampaio refere-se ao fato de a unidade ter sido uma das seis selecionadas pelo projeto Amor à Pesquisa Contra o Câncer no Brasil, desenvolvido pelo Instituto Vencer o Câncer, com consultoria técnica do LACOG (Latin American Cooperative Oncology Group). A iniciativa conta com patrocínio da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) e Eurofarma.

Interesse desde o primeiro contato

A oncologista, que é a investigadora principal do centro, diz que se interessou pela pesquisa desde que teve o primeiro contato, ainda na residência. Junto com Jéssica Mota, coordenadora do centro, agora avançam com os preparativos para desenvolver estudos no local.

“Eu fiz residência em São Paulo, no AC Camargo, em 2017, e quando terminei vim para Campo Grande. Foi a primeira vez que tive contato com pesquisa clínica e gostei muito, porque acaba dando oportunidade aos pacientes de fazerem tratamentos melhores do que infelizmente temos no sistema público de saúde. Há seis anos era difícil ver centros de pesquisa no interior; havia apenas nas grandes capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre. Quando retornei para Campo Grande imaginei que não fosse voltar a trabalhar com isso, mas quando vi surgirem centros de pesquisa no interior, pensei: por que não? Podemos conseguir”, lembra, acrescentando que além de atuar na clínica, atende no Hospital Regional do Mato Grosso do Sul. “A clínica atende convênio, mas todos os médicos que trabalham na clínica também atendem no Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa será voltada ao público em geral e nosso maior foco será levar nossos pacientes do SUS, que não têm oportunidades, para dentro da clínica”.

Com as boas perspectivas de oferecer mais aos pacientes e aprimorar a experiência dos profissionais, a equipe está ansiosa para realizar estudos. “Estamos com estratégia de recrutamento em todos os serviços de oncologia do SUS na cidade”, revela a oncologista.

Ela aponta que a incidência da região é bastante similar à média brasileira, com grande número de casos de câncer de próstata e de mama. “Temos também bastante incidência de câncer de cólon e de pulmão. Há pouco melanoma, porque não temos uma população predominantemente branca. Como há muitos pacientes indígenas, que vivem em zona rural, existem muitos casos de tumores ginecológicos, principalmente câncer de colo de útero, que, acredito, a incidência seja maior do que nas grandes capitais”, pondera a doutora Cristina Sampaio, revelando também a percepção de que como a unidade atende muitos pacientes do interior, que têm maior dificuldade de acesso, muitos casos chegam em estágio mais avançado.

“Como estávamos com o projeto do centro quando fomos selecionados, tínhamos uma estrutura, com equipamentos. Estamos instalando aparelhos de ultrassom, eletrocardiograma e outros para fazer também mais exames de diagnóstico além de sangue, que já é realizado”, conta. “Campo Grande é fora do mapa dos centros médicos oncológicos, não tem tradição em oncologia. Quando cheguei, só tinham cinco oncologistas clínicos de formação; hoje são 17. Acredito que, com o centro, vamos conseguir nos organizar ainda melhor como oncologistas clínicos e promover maior impacto para os pacientes”.

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