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Equidade na abordagem do câncer foi o ponto central dos debates do maior congresso de Oncologia do mundo

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O tema do Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia em 2021 foi ‘Equidade: Todos os Pacientes. Todo dia. Em todos os lugares’, com o objetivo de propor formas de garantir que todos os pacientes tenham acesso ao melhor tratamento possível, na região onde moram.

O evento, que aconteceu no início de junho, novamente de forma virtual, apresentou alguns estudos que abordaram as diferenças em diagnóstico e tratamento de acordo com características étnicas, sociais, de gênero e raciais.

Em mensagem destinada a todos os participantes, a presidente da ASCO, Lori J. Pierce, ressaltou que a eliminação das disparidades raciais e socioeconômicas nos resultados do câncer era um compromisso pessoal. “Mas claramente hoje é ainda mais relevante do que nunca – uma vez que a pandemia afetou desproporcionalmente pessoas negras e pardas, e o racismo institucional está finalmente sendo reconhecido como uma praga social que é devastadora para todos nós”, afirmou.

A médica destacou a declaração da ASCO, sobre como lidar com as diferenças: “Devemos colocar energia e foco no enfrentamento do racismo da mesma forma que nos esforçamos para vencer o câncer em si”, reconhecendo que o racismo e a desigualdade nos cuidados de saúde são desafios globais. “Assim como países e comunidades em todo o mundo compartilham desafios comuns, podemos colaborar para compartilhar soluções comuns”, disse Lori.

 

Estratégias para diminuir desigualdades

A presidente da ASCO apresentou alguns números que demonstram a desigualdade na Oncologia, no contexto americano. “Começando com a pesquisa, os negros representam apenas 5% ou menos dos participantes de ensaios clínicos de câncer”, afirmou. Lori J. Pierce. “O conhecimento vence o câncer” e, embora tenhamos feito um grande progresso no entendimento da biologia do câncer, também sabemos que a biologia não pode fornecer todas as respostas para as disparidades da Oncologia”. 

Em 2020, em linha com as recomendações dos Comitês de Equidade em Saúde e Prevenção do Câncer da ASCO, os médicos associados começaram a receber mais dados e informações sobre os determinantes sociais da saúde e os fatores de risco modificáveis ​​para o câncer. “Todos os pacientes com câncer devem ter acesso igual à prevenção, rastreamento e tratamento do câncer de qualidade”, sinalizou a presidente da Sociedade Americana de Oncologia.

Quem recebe o cuidado também foi estimulado a fazer parte dos debates. Pela primeira vez, um grupo de pacientes liderou um trabalho, que destacou o papel do diálogo para auxiliar na eficácia e na aderência ao tratamento. O resultado vai ao encontro do tema proposto para o evento, de dar voz aos envolvidos em todas as etapas da atenção oncológica.

 

Estudos voltam o olhar para as diferenças e a diversidade

Transportar os debates do Encontro da ASCO para a realidade brasileira é um desafio ainda maior, já que o tratamento ocorre na rede privada e no SUS, que representa 75% dos atendimentos oncológicos. “Temos dados nacionais que mostram uma diferença importante na taxa de curabilidade e de sobrevida nestas duas populações”, explica o oncologista Fernando Maluf, cofundador do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). “Isso não significa que o paciente que se trata na rede pública não tenha chances. Mas é inegável que, pela dificuldade do acesso, diagnóstico tardio, demora no tratamento e falta de ferramentas como radioterapia e cirurgia no momento correto, e drogas que mudam a história natural da doença, temos dois cenários completamente diferentes no Brasil”, completa o médico.

Apesar das disparidades, alguns estudos apresentados têm potencial para mudar paradigmas de tratamento. “Uma das pesquisas avaliou 4,5 mil homens negros e mostrou que o rastreamento, pelo PSA e pelo toque retal, diminuiu o risco de desenvolvimento de doença metastática em 40%”, diz Fernando Maluf. “Este foi o primeiro estudo focado especialmente na população negra, que tem em relação ao tumor prostático diferenças marcantes na parte molecular”, destaca.

Outro estudo avaliou 207 pacientes, com tumores semelhantes ao microscópio. Os pesquisadores fizeram testes mais sofisticados, que avaliaram as expressões genéticas dos cânceres. Os cientistas perceberam que 50% dos tumores em negros que pareciam ser tumores indolentes (de baixo risco), tinham características de agressividade, comparado com apenas 10% dos casos em homens de outras raças.

“Começamos a entender que a diversidade tem uma implicação biológica diferente nos tumores”, avisa Maluf. “Por isso, percebemos o benefício do rastreamento especificamente nesta população”. As informações podem servir de subsídios para a adoção de políticas públicas de prevenção, principalmente em países com diversidade étnica, como o Brasil.

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