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Simpósio de Farmácia Clínica do Instituto Vencer o Câncer esclarece dúvidas e destaca importância de medicamentos orais

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Os avanços nos tratamentos oncológicos garantem medicamentos mais dirigidos e que possibilitam melhor qualidade de vida aos pacientes. Esse foi um dos aspectos abordados pelo oncologista Antonio Buzaid na abertura do 3º Simpósio de Farmácia Clínica, realizado pelo Instituto Vencer o Câncer (IVOC), do qual o médico é um dos fundadores. O evento contou com a participação do oncologista Manoel Carlos Leonardi, membro do Comitê Científico do IVOC, da enfermeira oncológica Verônica Torel de Moura e da especialista em advocacy do Instituto, Celina Rosa Martins.

Destaque do evento, as medicações orais ganharam força e papel preponderante durante o isolamento social, já que possibilitam a sequência do tratamento em casa. Buzaid explica que apesar do comumente chamadas de quimioterapia oral, os antineoplásicos orais – medicamentos de combate a diversos tipos de câncer administrados de forma oral – envolvem várias classes medicamentosas, entre eles terapia alvo e a própria quimioterapia.

 

Evolução no tratamento

“Os quimioterápicos orais representam evolução no tratamento do câncer em bases moleculares”, ressalta Leonardi. “Aumentam o controle do câncer em vários tipos de tumores, com a comodidade da administração oral. Constituem uma importante ferramenta e são parte do tratamento total”. Ele explicou a atuação do DNA e alterações que fazem com que a célula passe a crescer e se reproduzir indevidamente, desenvolvendo tumores. Comentou que os tratamentos mais antigos bloqueavam um dos eixos do crescimento das células, mas não era suficiente, já que as células têm inúmeros outros mecanismos de evasão. “Com estudos descobriu-se que havia formas de testar medicações para lidar com eixos de crescimento anormal das células. Com terapias orais muitas vezes conseguimos bloquear e fazer a célula parar de crescer”.

O oncologista cita os tratamentos com terapia-alvo, diferente da quimioterapia, que não ia diretamente para a fonte do problema. Conforme o médico, esses avanços têm levado à individualização do tratamento. “Vamos estudar o tumor do paciente, como ele se formou e qual mecanismo disruptivo do DNA. É a personalização do tratamento, que vamos levar para frente, o que almejamos com o tratamento de câncer para o futuro”.

Leonardi citou como exemplo os tratamentos dos tumores de pulmão: na década de 1990 a Medicina entendia o câncer de pulmão como uma coisa só. Nos anos 2000, constatou-se que existiam tipos desse tumor (pequenas células e não pequenas células) que respondiam de forma diferente aos tratamentos. Com o avanço dos estudos descobriram-se subtipos, até chegar ao reconhecimento de genes específicos mutados e o desenvolvimento de medicamentos dirigidos.

O objetivo, ressalta o médico, é sempre fazer com que pacientes vivam mais e melhor. “Tumores de pulmão, mama, rim, próstata, melanoma, alguns tumores do sistema nervoso central, tumores do fígado e intestino grosso são exemplos nos quais podemos utilizar medicações orais na estratégia do tratamento”.

 

Importância da equipe multidisciplinar

Todo tratamento oncológico necessita de uma equipe multidisciplinar para acompanhar os pacientes, dar apoio e garantir que seja realizado de acordo com a prescrição médica, evitando e minimizando efeitos colaterais. Por isso, a equipe conta com farmacêutico, enfermeira, psicólogo, nutricionista, entre outros profissionais de saúde. Nos tratamentos com medicamentos orais essa atuação se reforça, já que o paciente terá que administrar a ingestão dos remédios.

Especializada em oncologia, Verônica Torel de Moura trouxe ao simpósio sua experiência no cotidiano com pacientes, falou dos mitos e verdades sobre os antineoplásicos orais e as principais dúvidas.

“Os antineoplásicos orais trouxeram mudanças para nós, profissionais de saúde, no seguimento e acompanhamento. Dividimos a responsabilidade com os pacientes, que levam o tratamento para casa. É uma mudança de paradigma: somos corresponsáveis pela terapia oncológica oral”, avalia a enfermeira, acrescentando que nesse cenário o paciente tem maior autonomia sobre o seu tratamento – e também maior responsabilidade.

Uma das principais preocupações é garantir a adesão ao tratamento, para que o paciente siga conforme a prescrição médica e se beneficie ao máximo da terapia. Uma dúvida bastante frequente é se a ação do tratamento oral é equivalente ao injetável. “Alguns acham que o médico receitou medicamento oral porque o tumor está pior ou melhor, mas os antineoplásicos orais, independente da classe farmacológica, têm a mesma ação terapêutica contra o câncer que os injetáveis, assim como também tem potenciais efeitos colaterais”, esclarece a enfermeira. A diferença, lembra, é passar a tomar o medicamento em casa.

Verônica ressaltou que antes de começar o tratamento o paciente deve ter importantes informações: o nome da medicação, como ela age, qual o propósito e duração do tratamento, como armazenar e descartar frascos e medicamentos, como ingerir (dissolver, quebrar), o que deve ser evitado (alimentos, atividades, outros medicamentos), dose, horário e frequência das tomadas. Buscar saber detalhes do próprio medicamento evita erros e ajuda a entender especificações do tratamento. Ela cita como exemplo o fato de a maioria dos antineoplásicos orais não serem armazenados na geladeira, mas alguns são. Os que não vão ao refrigerador também exigem cuidados, como estar em lugar que não fique exposto ao sol.

O descarte também demanda atenção – de preferência no mesmo local em que o medicamento foi retirado, quando presencialmente. “Respeitar a prescrição médica é importantíssimo, considerando frequência dos protocolos, como tomar, pausas, horários, tudo para que o paciente tenha maior benefício com o tratamento”.

 

‘Sim para quimio oral’

Desde 2018 o IVOC promove a campanha Sim para quimio oral, para ampliar o acesso aos tratamentos orais. A especialista em advocacy Celina Martins apresentou a cronologia dos trabalhos realizados, ressaltando que 70% dos lançamentos de medicamentos oncológicos são orais.

O principal objetivo do movimento é alterar a forma como os medicamentos são incluídos no Rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que é atualizado a cada dois anos – ou seja, somente a cada dois ou três anos a ANS incorpora um novo medicamento que deverá estar disponível para os usuários de planos de saúde.

Este ano de 2020 o projeto teve uma importante conquista, com aprovação por unanimidade no Senado Federal. Agora aguarda votação na Câmara dos Deputados.

“Com o grande atraso da colocação dos medicamentos no Rol, alguns pacientes perdem linhas de tratamento. O tumor não é uma doença que espera. Nos primeiros três meses de pandemia, o isolamento custou, em termos de vida, 50 mil vidas, segundo estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Imagina quantas vidas não custam dois anos de espera pela chegada da medicação”, questionou Leonardi.

 

Esclarecendo a quimio oral

Verônica Moura trouxe definições que ajudam a entender melhor os antineoplásico orais:

  • O que são antineoplásicos orais (quimioterapia oral).

É um grupo de medicamentos que combatem o câncer administrados por via oral, com classes farmacológicas diferentes (quimioterapia, terapia-alvo, terapias anti-hormonais).

  • Apresentação

Apresenta-se de formas diferentes: pode ser comprimido, cápsula ou líquido.

  • Indicações

Também têm diferentes indicações, o que significa que o mesmo medicamento pode ser usado para diferentes tipos de tumores.

  • Protocolo de tratamento

O protocolo varia de acordo com cada caso, podendo associar medicações, como por exemplo tratar com quimioterapia injetável associada a quimioterapia oral, reunir droga-alvo com quimioterapia, entre outras opções.

Também varia quanto ao tempo: enquanto em alguns casos o paciente vai tomar o medicamento sem pausa, em outros deverá parar por uma semana, ou ainda tomar duas semanas e parar uma, entre tantos outros formatos.

  • Como tomar

A dosagem dos medicamentos é individual, indicada pelo médico considerando o caso e tipo de tumor, e pode ser adaptada quando há efeitos adversos.

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