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Câncer: como dar a notícia?

A forma com que o médico informa a um paciente um diagnóstico de câncer faz toda a diferença na adesão ao tratamento. Apesar de a maioria dos especialistas ser treinada para dar más notícias, ouvir e dar diretrizes ao indivíduo, alguns médicos optam por ser mais diretos e despejar um monte de informações, ou seja, não esconder nada.

Entretanto, na opinião da psiquiatra e diretora do Departamento de Psiquiatria/Psicologia do A.C. Camargo Cancer Center, Maria Tereza Lourenço, uma série de fatores importa nessa hora. Informações como se o indivíduo é o único provedor da família, se a paciente está grávida, se é uma criança, adolescente ou um idoso, influenciam como a notícia será dada.

“Simplesmente não dá para chegar e dizer: ‘você tem câncer e as chances de cura são de x%’. É preciso sentir, induzi-lo a fazer perguntas, fazê-lo querer saber mais sobre a doença. Outra coisa que faz diferença é o médico dar um direcionamento, um apoio. Ou seja, ele explica os próximos passos, os exames, as próximas consultas. Assim o indivíduo não fica desamparado e diminui a ansiedade”, diz ela.

Leia mais sobre o assunto: Falta de sensibilidade dos médicos é queixa comum ente pacientes

Despejar toda a informação não ajuda muito, pois o paciente, na maioria das vezes, não consegue absorver. Isso porque, no imaginário popular, o câncer sempre costuma vir associado a morte e sofrimento. “Não é raro o paciente, ao sair do consultório, ter um branco. Ele não lembra absolutamente de nada e nem consegue passar informações para os familiares”, completa Lourenço. Por isso, é muito importante nunca ir sozinho às consultas.

Mas, às vezes, seja por conta da situação clínica da pessoa ou do próprio apelo da família — que acredita que o  paciente não vai suportar ouvir o diagnóstico — saber a verdade é um direito do paciente. “A verdade é sempre dita, mas de forma branda, aos poucos. O médico vai fazendo um convite a cada consulta, para que o paciente pergunte, queira saber. É uma forma de preparar. Às vezes a família fica muito ansiosa, vai sofrer junto. Entretanto, quem vai enfrentar o tratamento é o paciente”, ressalta Maria Tereza.

O local onde o médico transmite a notícia ou as informações, tanto para os familiares quanto para o próprio paciente, faz diferença. Salas apertadas, ou no próprio corredor do hospital, de pé, sem qualquer tipo de privacidade, dão a impressão que o especialista não tem tempo para ouvir as dúvidas e angústia do indivíduo acerca do diagnóstico.

Outra dica para quem conhece alguém que esteja passando por um tratamento oncológico é não ficar dizendo: “você tem que ser forte”, ou “vai dar tudo certo”, “vai passar”. “Isso pode irritar o paciente. Na verdade, você só precisa ter um bom ouvido”, diz a especialista.

Cerca de 40% dos pacientes que vão fazer tratamento oncológico vão precisar de um apoio psicológico ou psiquiátrico, pois é nesta fase que surgem medos e ansiedade que, se não forem bem dosados, podem interferir no tratamento ou na ocorrência dos sintomas adversos. “Tem gente que fica muito angustiada, deprimida. Outros conseguem enfrentar melhor”, diz. Atualmente, por lei, todos os centros oncológicos devem ter psicólogos e psiquiatras à disposição dos pacientes e familiares.

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