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Falta de informação dificulta avanços das pesquisas clínicas

Apesar de ser chamada de cobaia, paciente com expectativa de um ano de vida decidiu participar e, cinco anos depois, comemora: “Há mais de três anos estou sem tumor”.

Perfil de um cientista segurando um recipiente de química e uma cientista observando ao seu lado.

No início de 2014, Marlene Pereira, 67 anos, foi diagnosticada com câncer metastático e tinha a expectativa de um ano de vida. Quase cinco anos depois de entrar em um protocolo de pesquisa clínica, ela celebra a vida. “Eu fiz tantas coisas nesses cinco anos. Fiz viagens que eu nunca tinha feito; a gente só trabalha, não viaja. Fui para o Rio de Janeiro, Bahia, Cancun, Punta Cana”, comemora, mostrando na sequência uma foto da netinha, que completou um ano. “Ano passado ela nasceu. Estou muito feliz”.

O câncer entrou na vida de Marlene em 2007, quando uma mamografia apontou um tumor de mama. Ela fez cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Depois de cinco anos teve alta. Quando sentiu falta de ar, tosse e cansaço no final de 2013, não imaginou que poderia ser o câncer voltando. “O primeiro enfrentei com tranquilidade; não usei lenço, só touca. Sofri preconceito e fiquei traumatizada. Falei que não ia fazer tratamento, porque é muito agressivo. Metástase a gente já sabe o resultado”.

Quando foi chamada para a pesquisa, hesitou em participar. “Eu tinha medo. Chamam a gente de cobaias – até a mim chamaram”, explica, dizendo-se encantada com a progressão com que viu seus tumores diminuir. “Calcularam todos os tumores e somavam 8 centímetros. Com três meses de tratamento tinha diminuído para 4 centímetros. Fiquei animada. Com mais três meses, para 2 cm. Logo em seguida não tinha mais tumores. Tem mais de três anos que estou sem tumor. É uma coisa incrível”. No começo fez um pouco de quimioterapia; agora toma Pertuzumabe e Trastuzumabe a cada 21 dias.

Marlene revela o que a levou, mesmo com dúvidas, a entrar na pesquisa. “Eu pensava: ‘vou participar e se não servir para mim, vai servir para outras pessoas no futuro. Acabou servindo para mim. Quando completar cinco anos vou fazer uma festa”.

Obstáculos atrapalham

“A pesquisa clínica é fundamental para o desenvolvimento de novos tratamentos e para o avanço do conhecimento. Então, participar em projetos de pesquisa clínica é absolutamente essencial”, defende o oncologista Carlos Barrios, membro do Conselho Científico do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). Muito dos avanços nos tratamentos do câncer de mama – como de outros tumores – devem-se às pesquisas. Para que as melhorias continuem, é preciso vencer alguns obstáculos.

Barrios explica que o Brasil participa da maior parte dos grandes estudos que trazem novos tratamentos em câncer de mama, mas os avanços esbarram na necessidade de expandir o acesso. “As pesquisas ajudam, mas uma percentagem pequena de pacientes. Acredito que a maior parte ainda não tem acesso, não sabe o que é”.

O oncologista considera a pesquisa clínica “uma atividade virtuosa em que todas as pessoas que participam do processo se beneficiam: o país e as instituições, com entrada de recursos; os investigadores e os centros de pesquisa, com evolução; e os pacientes, participando dos estudos”. Ele lembra que a pesquisa representa uma importante alternativa de acesso. “Num país em que temos tratamentos limitados para 80% das pacientes, que só contam com atendimento pelo SUS, os protocolos de pesquisa apresentam uma oportunidade de acesso ao melhor tratamento disponível, de graça, que não teria no sistema público”.

Para ampliar o acesso às pesquisas, Barrios defende a necessidade de se atuar em várias frentes: que os médicos estimulem os pacientes a participar, incentivo aos médicos para desenvolverem centros de pesquisa e conhecerem onde os projetos estão acontecendo para poder encaminhar os pacientes, e criar centros de pesquisa em regiões em que ainda não há essa disponibilidade.
“Quando a pesquisa acontece no Brasil, facilita para que os órgãos reguladores entendam e possam aprovar os medicamentos mais rapidamente”, argumenta Rita Domingues, diretora do IVOC. O instituto disponibiliza uma plataforma com estudos de diversos tumores que estão sendo realizados no país. Ela ressalta que as pesquisas estão trazendo boas perspectivas, especialmente às pacientes de câncer de mama metastático, que não encontravam mais opções e entravam em cuidados paliativos. “A imunoterapia mudou a forma de tratar o câncer e oferece uma grande expectativa positiva ao câncer de mama metastático, que não tem alta margem de cura”.

Outra vantagem apontada por Rita para a realização de pesquisas no país é a possibilidade de promover o estudo considerando a miscigenação da população, o que permite avaliar se o protocolo de tratamento é cabível. “As pesquisas trazem benefícios individuais às pacientes que participam e também melhorias no macro, para a população”.

Prêmio Nobel reconhece pesquisa contra câncer

As pesquisas em câncer têm papel tão importante que o Nobel de Medicina de 2018 foi para estudos que revolucionaram o tratamento da doença. Os imunologistas James P. Allison, dos Estados Unidos, e Tasuku Honjo, do Japão, receberam o prêmio por desenvolver um novo tipo de terapia contra o câncer, que ajuda a despertar o sistema imunológico para que ataque as células cancerígenas. O trabalho foi considerado um marco na luta contra o câncer, pela Assembleia Nobel do Instituto Karolinska de Estocolmo, na Suécia.

Ambos estudam, desde a década de 1990, proteínas que funcionam como espécies de “freios” de células imunológicas, com diferentes mecanismos. Os pesquisadores buscaram então medicamentos para inibir a atividade dessas proteínas, o que permitiria ao sistema imunológico atacar os tumores. A Assembleia do Nobel reconheceu as pesquisas como “impressionantemente eficientes”, garantindo sucesso no tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer.

Quem tiver interesse em obter informações sobre pesquisas e estudos desenvolvidos no Brasil pode buscar na plataforma disponibilizada pelo Instituto Vencer o Câncer.

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