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Cadê seu peito, mamãe?

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Elias, de 3 anos e meio, sabia que algo acontecia com sua mãe. Antes tão ativa e alegre, sempre o pegava no colo, agora ela mal tem forças para se levantar da cama. Não entende muito bem o que significa a palavra hospital, mas desconfia que coisa boa não deve ser, já que seus pais parecem tristes e preocupados. Até que um dia, logo após o retorno da mãe para casa, ele vê a porta do banheiro aberta e decide entrar. Assustado com o que vê, ele grita: “cadê seu peito, mamãe?”.

A história acima é real e foi vivenciada por Ivna Maluly, que atualmente mora na Bélgica. Diagnosticada com um câncer de mama em 2008, ela precisou passar pela mastectomia (retirada da mama). “O que seria a ausência de um seio para um garoto amamentado até os oito meses?”, questionou ela.

Incentivada por seu terapeuta, Maluly decidiu escrever e colocar para fora o que a angustiava por dentro. Por conta das sessões de químio, ela teve que mudar o estilo de vida e trabalhar menos. Então, quando se sentia disposta e menos cansada, passava horas em frente ao computador escrevendo sobre tudo que acontecia em sua vida. Numa dessas histórias, saiu uma pequena narrativa infantil que tem como protagonista seu filho, um jovem garotinho muito curioso e questionador. Logo que terminou a história, ela mostrou para seu médico, que adorou a história.

“Na verdade, minha maior preocupação era como dar essa notícia para ele. Como eu podia explicar para ele o que estava acontecendo?”. Quando seus cabelos começaram a cair por conta da químio, Elias questionou a mãe sobre o “sumiço” das madeixas. Para improvisar, ela utilizava lenços e perucas, mas além da ausência dos cabelos havia outros efeitos difíceis de esconder. Ivna foi ficando muito cansada, e viu seu corpo ganhar alguns quilos. [relacionados]

“Todas essas mudanças ele ia entendendo do jeito dele, porque eu não deixava de explicar o que ia me acontecendo. Na verdade, eu nunca deixei de brincar com ele, assistir filmes no sofá. Meu marido também foi fundamental neste processo, pois me deu forças e cuidou muito bem do Elias. Nessa idade ele queria mesmo é que eu estivesse lá, presente. Aliás, ele adorava brincar com minhas perucas e beijar minha careca.”

Algumas semanas depois, Ivna decidiu mostrar seus textos para a amiga Thalita Rebouças, escritora brasileira que escreve histórias direcionados ao público adolescente. A amiga a incentivou a ir em frente com a ideia de publicar o livro e indicou algumas editoras que poderiam se interessar.

O livro

“Cadê seu peito, mamãe” foi lançado no Brasil em 2010, quando as sessões de químio haviam terminado, mas ela ainda não havia passado pela cirurgia de reconstrução mamária. Segundo a autora, a previsão é que em 2015 ele seja lançado em inglês e francês. A obra deverá ser distribuída gratuitamente em hospitais e clínicas oncológicas na Europa.

Segundo a jornalista, por mais que o câncer seja uma doença difícil de encarar, é importante nunca esconder nada dos filhos nem da família. “A criança pode se sentir culpada e triste pode não entender o que está acontecendo”, afirma. Ela conta que sentiu essa diferença quando escondeu do filho que a avó estava com câncer de mama. Elias começou a ter diversas alergias no corpo e nada sarava. Até que um dia a dermatologista perguntou se estava acontecendo algum evento importante na família, algo relacionado a doença, e a especialista sugeriu que podia ser algo de fundo emocional.

“Eu decidi contar que a vovó estava doente, mas que tudo ia ficar bem na medida do possível. Então ele melhorou. Quando eu adoeci, não quis repetir a mesma história e sempre fui contando a verdade. As crianças têm uma capacidade incrível de se adaptar a mudanças.”

Assista ao relato da autora sobre o livro:

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