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Câncer de próstata: levantamento traz aspectos essenciais para embasar políticas públicas

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Para ajudar no enfrentamento ao tumor, Instituto Vencer o Câncer promove análise sobre a jornada do paciente no país, as diretrizes nacionais e mundiais 

Como é o tratamento do câncer de próstata no Brasil? Qual o fluxo dos pacientes? Quais são as diretrizes brasileiras para rastreamento do tumor e a comparação com outros países? As explicações para essas e outras perguntas sobre a saúde masculina são essenciais para o estabelecimento de políticas públicas que possibilitem melhorar o cenário da doença no país. 

Em busca de respostas, o Instituto Vencer o Câncer (IVOC) promoveu uma pesquisa diagnóstica aprofundada sobre o tema, uma análise integrada do perfil epidemiológico e das políticas públicas e indicações estratégicas das principais questões críticas, para subsidiar ações propositivas para enfrentamento ao câncer de próstata no Brasil, considerando o cenário atual e futuro. O material foi apresentado no evento online Câncer de próstata e políticas públicas, voltado a pacientes e organizações sociais. Contou com a participação de Daniel Vargas, médico oncologista clínico do Grupo Oncoclínicas-DF e das consultoras técnicas Luiza Cecilio, Vera Osório e Vera Lídia, responsáveis pelo levantamento, com mediação da jornalista Fernanda d´Avila.

A diretora executiva do IVOC, Neide Rocha, ressaltou a importância da união das organizações sociais para promover as transformações necessárias. “Sozinhos não fazemos nada; juntos, conseguimos tudo”. Ela explicou que um dos objetivos do levantamento é reunir o grande volume de dados sobre o assunto em um documento para facilitar o entendimento e a construção de estratégias das organizações, com foco na divulgação de informações, além de possibilitar que os dados subsidiem ações propositivas para enfrentamento do tumor. “Essa é uma premissa do IVOC, comunicação e disseminação de conhecimento de forma acessível a leigos”.

“Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), teremos no Brasil, até 2022, 66 mil novos casos de câncer de próstata a cada ano. Esse tipo de tumor mata 16 mil brasileiros anualmente”, destacou Fernanda, comentando o atual cenário desse que é um dos cânceres mais frequentes no mundo, com tendência de aumento da incidência, com maior expectativa de vida e envelhecimento da população, além da obesidade, inatividade física e fatores alimentares.

 

Entendendo a doença

O rastreamento do câncer de próstata, um dos pontos mais controversos quando se trata do assunto, já que não há consenso nos direcionamentos, é apontado como essencial pelo oncologista, que considera o tema mais amplo, não se restringindo à questão do tratamento do tumor. “É um método de chamar o paciente para medidas preventivas e promoção da sua saúde”, pondera Vargas.

O médico apresentou a aula Câncer de próstata: o conhecimento no combate a essa doença, em que tratou vários pontos, desde a função da próstata e peculiaridades, além de questões sobre o tumor, como epidemiologia, diagnóstico, estadiamento e tratamento.

“Ao longo da vida do homem o volume da próstata aumenta, por isso é comum os níveis de PSA serem mais altos”, avisa, reforçando que nem toda elevação de PSA significa existência de tumor e também que homens com níveis normais podem ter câncer de próstata.

  • O valor máximo da normalidade do PSA no soro é definido em 4,0 ng/mL
  • 75% dos homens com PSA 4,0-10,0 ng/mL que se submetem a biópsia não têm câncer.
  • Existem casos de câncer com PSA no intervalo de 0–4,0 ng / mL

 

O oncologista afirma que a dosagem do PSA não é a única ferramenta para rastreamento – tem também exame de toque retal, ultrassonografia e ressonância magnética da próstata. “Se escolher apenas o PSA, pode perder até 20% dos pacientes com PSA normal e apenas com o exame retal poderia perder até 15% dos pacientes com exame do toque normal e PSA alterado”. Todas essas ferramentas são para rastreamento; o diagnóstico só é feito com a biópsia da próstata. 

O médico lembra que esse tipo de tumor é mais frequentemente diagnosticado em homens entre 65 e 74 anos e possui maior prevalência em pessoas da raça negra. Apenas 10% têm influência genética, sendo o principal gene o BRCA2. Os fatores ambientais correspondem a 60% dos casos e, destaca o oncologista, são os principais para trabalhar em prevenção, já que são modificáveis: tabagismo, consumo de álcool, obesidade, síndrome metabólica e dieta. 

Vargas demonstrou levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realizado em 2012 que mostra a comparação do serviço público com o privado de saúde: no público, o tumor costuma ser diagnosticado em fase mais avançada e também há maior incidência da doença metastática ao diagnóstico, além de haver diferentes abordagens no tratamento inicial. Apresentou ainda recomendações conflitantes entre governos de diferentes países e sociedades médicas nacionais e internacionais quanto ao diagnóstico e rastreamento. 

  • O governo canadense, por exemplo, não recomenda rastreamento em nenhuma idade, enquanto a Associação Canadense de Urologia indica decisão compartilhada para rastreamento, sugerindo oferecer para homens com expectativa de vida acima de 10 anos –  a partir dos 45 anos em caso de alto risco, como histórico familiar, e de 50 a 70 anos na população em geral.
  • O governo do Reino Unido não recomenda rastreamento; já a Sociedade Europeia de Urologia indica abordagem individualizada em homens com boa funcionalidade de expectativa de vida maior que 10 a 15 anos, recomendando para os portadores de mutação do BRCA2 acima de 40 anos; acima de 45 anos em caso de alto risco (história familiar e afrodescendente) e a partir de 50 anos na população geral.
  • O governo americano aponta que de 55 a 69 anos a decisão é individualizada, considerando fatores de risco (idade, raça negra e história familiar) e acima de 70 anos não recomenda rastreamento. A Associação Americana de Urologia indica, de 40 a 55 anos, abordagem individualizada em caso de alto risco (raça negra e história familiar de câncer de próstata, mama, ovário ou pâncreas); decisão compartilhada entre 55 e 70 anos; e acima de 70 anos ou com expectativa de vida menor que 10 a 15 anos não recomenda rastreamento.
  • No caso do Brasil, o governo (Ministério da Saúde e Instituto Nacional de Câncer – Inca) não adota rastreamento populacional, mas o rastreamento oportunístico indicado para homens de 50 a 70 anos que demandam os serviços, a partir de decisão compartilhada. Já a Sociedade Brasileira de Urologia aponta que o rastreamento deve ser realizado após ampla discussão de riscos e benefícios, em decisão compartilhada com o paciente. Para homens a partir de 45 anos quando há alto risco (raça negra ou história familiar em parente de primeiro grau); avaliação individualizada a partir de 50 anos e acima de 75 anos apenas se a expectativa de vida for maior de 10 anos.

 

Estadiamento e tratamento

A partir do diagnóstico confirmado, um fator importante para o tratamento do paciente é o estadiamento, que indicará quão agressivo é o câncer. Vai considerar a extensão do tumor principal, se envolveu os gânglios linfáticos regionais e se houve metástases para outras partes do corpo. “As chances de cura no estágio precoce são próximas de 100%”, avisa Vargas. “Com o avanço do conhecimento sobre a doença, começou-se a considerar se todos os pacientes precisavam de tratamento. Em alguns casos implantamos a vigilância ativa, monitoramento exclusivo de pacientes com câncer de próstata menos agressivo, tendo como benefício postergar ou evitar danos desnecessários de efeito de tratamentos, como alterações no intestino, disfunção urinária e/ou erétil. Cerca de metade dos pacientes com câncer de próstata recém-diagnosticado é elegível para vigilância ativa”. 

Acrescenta que até dois terços falecem por causas não oncológicas, citando especialmente as comorbidades e reforçando a importância de uma abordagem multidisciplinar que envolva Oncologia, Urologia, Radioterapia, Cardiologia, Psicologia, Endocrinologia e Fisioterapia, entre outras especialidades.

Quando o tumor é localizado, o tratamento pode envolver prostatectomia radical (aberta, laparoscópica, robótica), radioterapia de feixe externo (EBRT) e braquiterapia. Na doença localmente avançada, trata-se com prostatectomia radical com retirada dos gânglios linfáticos e radioterapia de feixe externo; associado a bloqueios hormonais, com retirada dos testículos ou uso de medicamentos. 

Quando há metástase, há diversas formas de tratamento, a maioria tendo como base terapia de privação de testosterona. Vargas diz que é comum associar tratamento como quimioterapia e agentes hormonais, radioterapia, terapia-alvo e imunoterapia, com medicações para a saúde óssea, pois a doença metastática na região óssea oferece risco de fraturas e complicações.

O oncologista reforça que em todos os casos a decisão é individualizada, de acordo com características do paciente e preferências pessoais, considerando também outras comorbidades.

 

Para concluir, Vargas citou os tratamentos aprovados no mundo e no Brasil, comparando com as opções disponíveis na saúde pública brasileira. “É necessária a otimização do acesso às novas terapias no cenário nacional, particularmente no contexto da saúde pública”. Comentou a demora para aprovação de novas medicações no país que, apesar de ter melhorado nos últimos anos, ainda precisa oferecer melhores acessos.

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