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O exercício físico na reabilitação do paciente com câncer colorretal

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O câncer colorretal é o terceiro câncer mais comum em todo o mundo. Em 2018, foram diagnosticados ao redor de 1,8 milhões de novos casos. Nas últimas duas décadas, o screening e medidas para diagnósticos e tratamento precoce contribuíram muito para maiores taxas de sobrevivência, chegando a aproximadamente 65%, fazendo deste o maior grupo de sobreviventes de câncer em ambos os sexos.

O tratamento padrão para este tipo de câncer inclui em combinação ou de maneira isolada: cirurgia, radioterapia, quimioterapia e/ou terapias-alvo. Os procedimentos cirúrgicos, em geral, estão associados a um alto risco de complicação que podem incluir: complicações da ferida, infecções e hemorragia. Outros efeitos adversos comuns associados a tratamentos adjuvantes podem ser: dor, toxicidade cardíaca, fadiga, diarreia, disfunção intestinal anorretal e sexual, ansiedade, depressão, redução da aptidão e função física. Sobreviventes de câncer colorretal podem ter suas atividades de vida diária (AVDs) e atividades instrumentais de vida (AVIs) impactando enormemente a sua qualidade de vida (QDV), especialmente na participação de atividades sociais, comunitárias e de trabalho. Hoje é crescente o número de indivíduos sobreviventes do câncer colorretal, entretanto, em um terço destes apresentará recorrência da doença.

Neste sentido, hoje entendemos como essencial a adoção de estratégias eficazes para melhorar a qualidade de vida, bem como a redução e controle desses efeitos relacionados ao câncer colorretal.  Alguns resultados de estudos observacionais têm se mostrado positivos e promissores relacionando a atividade e o exercício físico à melhora da performance e aptidão física e sobrevida nestes indivíduos. Além disso, o exercício físico tem mostrado ser um fator de proteção, reduzindo a mortalidade específica por câncer e mortalidade por todas as causas.

O panorama atual dos estudos científicos de revisões sistemáticas e metanálises tem se concentrado na investigação dos possíveis efeitos e benefícios do exercício físico nos resultados de saúde pós-tratamento, porém, de maneira limitada, aqueles que avaliam a viabilidade de exercício e os riscos potenciais associados ao exercício em todos os momentos, no pré-operatório, durante e após os tratamentos (cirurgia, quimioterapia e radioterapia) para câncer colorretal. Apesar disso, nos últimos anos muitas pesquisas avaliaram aspectos importantes como segurança e efeitos adversos, viabilidade da sua realização e efeito do exercício e resultados na população sobrevivente, incluindo modo do exercício, aptidão aeróbica e resistência, fadiga, grau de supervisão da intervenção, duração da intervenção e tempo em relação ao tratamento e qualidade de vida.

Algumas pesquisas têm apontado a importância de se otimizar a capacidade funcional dos pacientes antes das intervenções cirúrgicas, bem como a necessidade de criação de programas detalhados e supervisionados de treinamento físico com um programa de pré-habilitação multimodal, associando um acompanhamento multiprofissional contando com psicólogos e nutricionistas entre outros profissionais. Por meio dessa abordagem multimodal, a capacidade funcional do paciente é aprimorada no pré-operatório, promovendo uma recuperação acelerada após a cirurgia e início das terapias adjuvantes.

Um recente estudo metanalítico realizado em 2020 apresentou resultados bastante promissores, demostrando que o exercício pode ser viável e seguro para pacientes de câncer colorretal durante e após o tratamento. Além disso, mostrou impactar positivamente no sono, depressão, controle de peso e redução da gordura corporal, condicionamento físico, fadiga, força da parte superior do corpo e qualidade de vida. A realização de exercício físico foi associada a um baixo risco de eventos adverso (1% dos pacientes).

E quais seriam os tipos de exercícios mais indicados para os pacientes de câncer colorretal? Em primeiro lugar, o treinamento aeróbico é bastante importante para a melhora a performance física e aptidão cardiovascular, podendo ser realizado por exemplo em cicloergômetro ou esteira. A intensidade do treinamento aeróbico começa com de leve a moderada (resistência), crescendo progressivamente, podendo evoluir para um treino com alternância entre estas intensidades, sempre de maneira supervisionada e de acordo com a tolerância do indivíduo.

Um treino de força muscular e de extremidades superiores e inferiores complementa o plano de exercícios para estes pacientes, para visando aumentar a capacidade de resistência e força de resistência cardiovascular, e deve variar os parâmetros de intensidade e número de repetições máximas (RM).

Inúmeras diretrizes têm recomendado a prática de atividade física e exercícios para todos os pacientes de câncer. Porém, no caso dos indivíduos com câncer colorretal, esta prescrição precisa especialmente levar em consideração alguns aspectos como idade avançada, prognóstico, presença de comorbidades adicionais, dificuldade de acesso aos cuidados de saúde e performance física, além das barreiras e dificuldades de adesão a prescrição de exercícios. Vale também reforçar que assim como todos os pacientes de outros tipos de câncer, pessoas com câncer colorretal devem buscar um profissional especializado na área oncológica.  Pois estes farão um programa de treinamentos com base numa avaliação completa e específica para cada momento do tratamento e pós-tratamento. Ou seja, um programa personalizado com uma prescrição segura, com tipo de exercício e a dosagem mais indicadas para cada indivíduo.

Referência

Singh et al. Exercise and colorectal cancer- a systematic review and meta-analysis of exercise safety, feasibility and effectiveness International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity (2020) 17:122

 

Tania Tonezzer

  • Mestre em Ciências da reabilitação -FMUSP
  • Fisioterapeuta Especialista em Oncologia e Linfoterapia – Crefito128763-F
  • Coordenadora do serviço de fisioterapia Oncológica da ABCC
  • Membro Diretora da Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia- ABFO
  • Membro da APTA (American Physical Therapy Association)
  • Cofundadora da ONG Onco Movimento
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