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Novembro Azul: paciente demonstra, com sua jornada, que informação e determinação são fundamentais para tratamento de câncer de próstata

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Se alguém ainda tinha dúvidas de que informação de qualidade e conhecimento são essenciais quando se trata de tumores, seja para prevenir, diagnosticar precocemente ou buscar o melhor tratamento, não tem porque continuar com elas depois de conhecer a história de Ubiratan Azevedo de Menezes, 49 anos, professor da Universidade do Estado da Bahia. Contrariando as estatísticas, que apontam que os homens não se preocupam tanto com a saúde, ele sempre considerou uma prioridade, fazendo consultas e exames periodicamente. “Sei que não é muito comum no Brasil os homens frequentarem consultório médico de qualquer especialidade, não só urologista, e sob esse aspecto eu sou o inverso; sempre busquei acompanhar meu estado geral de saúde”. Graças a essa postura, de se cuidar e buscar informações, conseguiu tomar decisões com consciência quando descobriu um câncer de próstata.

O urologista Marcelo Langer Wroclawski, vice-presidente da seção São Paulo da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), lembra que esse é o tipo de câncer mais comum no homem, depois dos tumores de pele não melanoma. “É o segundo que mais mata, só atrás do câncer de pulmão”. Por essa prevalência, alerta, é muito importante que os homens façam acompanhamento médico e exames para identificar em estágio mais precoce, para aumentar a chance de cura.

Menezes conta que desde os 40 anos vai anualmente ao urologista, assim como em outras especialidades. Em uma dessas consultas, aos 46 anos, não entendeu o motivo do médico não fazer exame de toque, dizendo que ele só precisaria a partir dos 50 anos. “Aquilo me soou estranho, porque eu já tinha feito pelo menos duas vezes”.

Suas dúvidas tinham bastante sentido. Conforme explica Wroclawski, a recomendação da SBU é que os homens façam, a partir dos 45 anos, screening com exame de toque retal e PSA, que é o marcador tumoral dosado no sangue; para os que têm algum fator, o indicado é começar aos 40 anos. “São três os principais fatores de risco: idade, raça e questão familiar”, avisa o urologista.

Em relação à raça, os negros têm mais chance de desenvolver tumor de próstata, geralmente em idade mais precoce e mais agressivo do que os brancos, e os brancos têm maior prevalência dos que os amarelos. No quesito familiar, pacientes com pai e/ou irmão com histórico desse tumor possuem mais do que o dobro de chance de desenvolver do que a média da população. No fator idade, 60% dos tumores são diagnosticados a partir dos 65 anos. Wroclawski chama atenção ao fato de 40% serem descobertos antes, o que confirma que não se deve adiar a investigação.

Foi justamente para não deixar seus exames para depois que Menezes decidiu procurar outro urologista, fez os exames de toque e PSA e com os resultados sem alteração retornou no ano seguinte. Ele tinha 47 anos quando seu PSA deu alterado, limítrofe, recebendo a indicação de refazer entre seis e oito meses, por causa dessa mudança. Chegou a pandemia, precisou esperar um pouco mais, mas antes de completar dez meses refez o exame, que deu uma alteração maior. “Passamos para uma investigação mais aprofundada, com ultrassom de próstata, que deu normal, depois ressonância magnética, que acusou a existência de um nódulo que precisava investigar as características. Fiz biópsia e depois de um tempo o laudo anatomopatológico apontou que era um câncer em nível inicial. Também fiz exame imunohistoquímico, com fragmentos da próstata”, recorda. “Esse conjunto de exames me deu a certeza sobre qual seria o melhor tratamento: a extração da próstata. O nódulo estava no ápice direito da próstata, um espaço muito sensível para ruptura da membrana que dá acesso aos outros órgãos”.

O paciente ainda buscou uma segunda opinião, com outro médico, para ter certeza do caminho a tomar. Fez a cirurgia robótica no dia 22 de julho de 2021.

 

Decisão consciente

Menezes tomou a decisão de fazer a cirurgia, junto com seu médico, munido de bastante informação. “Li diversos artigos em português e inglês, conversei com muitas pessoas. Depois que temos o diagnóstico, ficamos sabendo de amigos que tiveram o tumor e nem imaginamos”.

Ele afirma que para se decidir considerou algumas questões, como a idade – mais jovem do que a maioria que tem o diagnóstico –, e o estado geral de saúde com boa resposta fisiológica. “Eu não queria pagar para ver esse câncer avançar nos próximos anos ou meses. Se nos dez meses anteriores ao diagnóstico ele avançou tanto, considerei que estava em um ritmo acelerado, principalmente levando em conta que por natureza o desenvolvimento desse tipo de tumor costuma ser mais lento”.

Ponderou ainda que se fizesse seguimento por alguns anos e depois precisasse de uma intervenção, o organismo poderia não responder tão bem. “Considerando a expectativa de vida aumentada, poder viver com qualidade pesou muito. Não queria fazer a cirurgia com uma condição fisiológica mais comprometida pela ação do tempo. Queria autonomia urinária e da minha sexualidade. Tenho família estruturada, uma filha de 23 anos, um de 19 anos e outro de 18. Não pensava em ser pai novamente, mas queria manter minha sexualidade ativa. Meu modo de vida e minha idade me permitem ter uma estrutura muscular um pouco mais fortalecida para a recuperação”.

Todos esses fatores, unidos ao risco de ruptura e avançar para metástase, ajudaram a optar pela cirurgia. “Só de saber que não precisei de nenhum tipo de terapia complementar, quimioterapia, nem radioterapia ou hormonioterapia, para mim é o reforço da decisão acertada”.

 

Determinação e uma boa recuperação

Desde o início ele estava determinado a manter ao máximo sua qualidade de vida e fazer o que fosse necessário para atingir esse objetivo. “Fiz fisioterapia direcionada para o assoalho pélvico. Ao tirar a sonda oito dias depois da cirurgia, comprei um pacote de fralda geriátrica e saí do hospital usando”.

A recomendação do médico foi tirar assim que chegasse em casa e ficar sem fralda sempre que possível, para não condicionar o organismo. “Estou com o pacote aqui, não precisei usar”, comemora, revelando que no primeiro mês notou um pouco de perda urinária, mas muito discreta.

Para obter bons resultados, sua preparação começou antes do procedimento. “Entre o diagnóstico e a cirurgia intensifiquei meu treinamento na academia, pilates, para fortalecer, e isso me ajudou”.

Quando completou dois meses da cirurgia, avisou ao médico que sentia seu controle urinário exatamente como antes. O foco agora está no novo desafio.

 

Restabelecendo a vida sexual

“Estou focado em buscar alternativas para poder restabelecer plenamente a ereção sexual”, avisa, comentando que na maioria dos casos essa recuperação demora mais do que a incontinência urinária.

Ele diz que os avanços em relação à ereção vão bem, considerando a reabilitação do processo cirúrgico, mas ressalta: “para meu anseio, do jeito que quero e do que acho ser possível, ainda está longe”. Por isso, pretende verificar com o seu médico alternativas que pode colocar em prática para melhorar. “Eu quero, assim como no esfíncter urinário, aproximar muito do que eu tinha antes da cirurgia, mesmo sabendo que a intervenção, a retirada de um órgão, tem um impacto no organismo. Não penso em performance igual ou superior; só quero aumentar minha autonomia”.

A dedicação a esse objetivo começou após a cirurgia. “As recomendações são de muito estímulo o tempo inteiro, desde as primeiras semanas. Confesso que nas duas primeiras semanas eu não conseguia nem pensar nessa questão, por limitação fisiológica, tinha a sonda também, que era terrível, para mim foi a pior parte até agora”.

Para Menezes, muitos homens que têm câncer de próstata e passam por esse tipo de cirurgia acabam abrindo mão dessa funcionalidade, por causa da insegurança e outros fatores. “Preferem ficar no seu canto do que fazer esse enfrentamento e terminam não estimulando. Sem o estímulo pode ter complicações na estrutura fisiológica. Da segunda semana em diante eu comecei”.

O tratamento inclui, além dos estímulos, medicamentos para a função erétil, visando aumentar o fluxo sanguíneo para o pênis. “Logo na primeira auto estimulação o organismo respondeu, obviamente com todas as limitações. Vem numa crescente, rompendo limites, tendo ereções todas as vezes que me auto estimulo ou com a minha parceira, mas a durabilidade da ereção é muito menor. Esse é outro enfrentamento que vou conversar com o médico”.

Menezes acredita que o processo exige do paciente maior autoconhecimento e tem promovido conquistas para ele e para a relação, trazendo mais cumplicidade e proporcionando formas diferentes de sentir. Ressalta que a situação exige da parceira paciência e tolerância para ajudar a criar um ambiente no qual o outro não se sinta com fantasmas de que não irá conseguir. Entretanto, considera essencial que todo encontro seja bom para os dois, não apenas um momento de estímulo, mas prazeroso para que ambos possam vivenciar bem a relação. “Tenho notado que, tirando a ereção, os outros aspectos estão muito melhores, mais prazerosos. Mas a minha busca pela ereção como era antes continua, segue em paralelo”.

Considera que toda situação de ruptura, de mudança de rumo, traz desafios e por mais difícil que seja para enfrentar, também há momentos de grandes descobertas, de novos passos, novos valores, ressignificar e atribuir novos sentidos. “Estou completamente desbloqueado e o que nós tivermos que fazer para conseguir, será feito, porque eu quero”.

 

Compartilhar para quebrar preconceitos

Desde que soube do diagnóstico Menezes tomou uma atitude não muito comum entre os pacientes desse tipo de tumor: compartilhar tudo o que vivencia para desmistificar, para que outros homens se informem, não tenham receio de falar, buscar alternativas e batalhar pela retomada da qualidade de vida da melhor forma possível. A decisão, acredita, tem a ver com sua formação e história de vida, como professor, tendo a base de que conhecimento e experiência devem ser divididos.

“Estou falando de coisas que têm a ver, no imaginário coletivo, com a questão da virilidade, masculinidade, mas acho absolutamente natural. Não há nenhum óbice na minha consciência em relação à minha virilidade, é algo que nunca esteve em risco, e como tenho isso bem resolvido achei que seria bom compartilhar, contando as coisas como são e até as dificuldades vivenciadas, podendo ajudar alguém, em algum momento, em algum lugar”.

Ele compartilha no seu perfil do Instagram @biraamenezes sua experiência, fez vídeos antes da internação, logo após a cirurgia, fazendo fisioterapia, e atualiza as novidades mensais dos avanços. “Quero registrar com toda honestidade, mostrando o que acontece e no momento que algo for superado, também será dividido com as pessoas”.

Espera poder inspirar outros homens a se cuidarem, a darem atenção à saúde, lembrando que não esperem chegar aos 60 anos para fazer exames regulares, porque a ciência cada vez tem mais opções e com o diagnóstico precoce a probabilidade de não ter metástase e curar é maior.

“O paciente precisa entender que, em última análise, a saúde é dele e não dá para simplesmente alienar sua saúde a outras pessoas. Tem que ter uma posição, decidir o que é melhor e se não estiver seguro, buscar informação, outras opiniões”, sugere. A quem não faz acompanhamento médico com medo de descobrir alguma doença, avisa: “Não saber não significa que não tem, não saber não significa que não está ruim”.

No dia da entrevista, Menezes esperava o resultado do exame PSA do terceiro mês. Combinamos que nos avisaria assim que tivesse notícias. No dia seguinte, comemorou e compartilhou a boa nova: “Sucesso total!”.

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