Quantidades elevadas de açúcar na dieta típica ocidental podem aumentar o risco de câncer de mama e metástases para os pulmões. Os resultados do estudo dos pesquisadores da Universidade do Texas MD Anderson Cancer Center, publicados na edição de 1 de janeiro da revista Cancer Research, demonstraram o efeito do açúcar em uma via de sinalização enzimática conhecida como 12-LOX (12-lipoxigenase). Estudos epidemiológicos anteriores demonstraram que a ingestão de açúcar tem um impacto sobre o desenvolvimento do câncer de mama.
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“Os pesquisadores descobriram que em camundongos, a ingestão de sacarose em níveis comparáveis aos de dietas ocidentais levou a um aumento do crescimento de tumores e metástases quando comparado a uma dieta de amido não-açúcar”, afirma o oncologista Antônio Carlos Buzaid, chefe-geral do Centro Oncológico Antonio Ermírio de Moraes (COAEM).
Isto se deve, em parte, ao aumento da expressão de 12-LOX e de um ácido graxo relacionado chamado 12-HETE”, explica Peiying Yang, uma das autoras do estudo, professora assistente de Cuidados Paliativos, Reabilitação e Medicina Integrativa.
Segundo Buzaid, identificar fatores de risco para câncer de mama é uma prioridade de saúde pública. “O consumo moderado de açúcar é fundamental”, acrescentou o especialista.
O consumo per capita de açúcar nos EUA subiu para mais de 100 libras (45 kilos) por ano e um aumento no consumo de bebidas adoçadas com açúcar tem sido identificado como uma contribuição significativa para uma epidemia de obesidade, doenças cardíacas e câncer em todo o mundo.
Métodos e resultados
O estudo investigou o impacto do açúcar na dieta sobre o desenvolvimento de tumores da glândula mamária em vários modelos de camundongos, juntamente com mecanismos que podem estar envolvidos. Segundo os pesquisadores, especificamente a frutose, no açúcar comum, e o xarope de milho de alta frutose, altamente presente no nosso sistema alimentar, foram responsáveis por facilitar a metástase pulmonar e a produção de 12-HETE em tumores de mama. Os dados sugerem ainda que o açúcar induz a sinalização 12-LOX para aumentar os riscos de desenvolvimento de câncer de mama e metástases.
A equipe de MD Anderson realizou quatro estudos diferentes em que os camundongos foram randomizados para alimentação em diferentes grupos de dieta. Aos seis meses de idade, 30% dos animais com uma dieta de controle de amido tinham tumores mensuráveis, ao passo que 50% a 58% daqueles em dieta enriquecida em sacarose tinham desenvolvido tumores mamários. O estudo também mostrou que o número de metástases pulmonares foi significativamente maior nos animais em uma dieta rica em sacarose ou frutose, em comparação com os animais com uma dieta de controle de amido.
Pesquisas anteriores examinaram o papel do açúcar, especialmente a glicose, e sua relação com vias metabólicas baseadas em energia no desenvolvimento do câncer. No entanto, a cascata inflamatória pode ser uma rota alternativa para estudar a carcinogênese impulsionada pelo açúcar, e segundo os pesquisadores, merece um estudo mais aprofundado.
“Não há estudos anteriores investigando o efeito direto do consumo de açúcar no desenvolvimento do câncer de mama utilizando modelos animais de câncer de mama ou examinando mecanismos específicos. Este estudo sugere que a sacarose ou frutose na dieta induz a produção de 12-LOX e 12-HETE em células tumorais de mama in vivo, e indica uma possível via de sinalização responsável pelo crescimento do tumor promovida pelo açúcar”, acrescentaram.
A equipe acredita que o mecanismo pelo qual a sacarose ou frutose na dieta afeta o crescimento do tumor de mama e metástases, especialmente através das vias 12-LOX, merece uma investigação mais aprofundada.
Referência: https://www.mdanderson.org/newsroom/2015/12/sugar-in-western-diets.html
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.