O Instituto Nacional de Câncer divulgou, recentemente, a publicação “Dieta, nutrição, atividade física e câncer: uma perspectiva global – um resumo do terceiro relatório de especialistas com uma perspectiva brasileira”. Com o material, o INCA pretende “fornecer subsídios técnicos para fundamentar intervenções individuais e coletivas promotoras de práticas alimentares saudáveis e de atividade física, contribuindo, dessa forma, para o reconhecimento social da relação entre alimentação, nutrição, atividade física e câncer e para a prevenção e o controle do câncer no Brasil”.
O documento é uma tradução adaptada e ampliada do resumo do III Relatório de Especialistas do Fundo Mundial de Pesquisa em Câncer (WCRF – World Cancer Research Fund) e do Instituto Americano para Pesquisa em Câncer (AICR – American Institute for Cancer Research). Traz o posfácio “Alimentação, nutrição, atividade física e câncer: uma análise do Brasil e as recomendações do INCA”, com dados epidemiológicos e recomendações que consideram a realidade nacional, com base no Guia Alimentar para a População Brasileira.
O texto do guia considera que as mudanças no padrão alimentar e no perfil nutricional dos brasileiros têm gerado um cenário preocupante. “O aumento no consumo de alimentos processados e ultraprocessados, frente aos alimentos frescos, às refeições e às preparações tradicionais, vem sendo acompanhado pelo aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade”, ressalta o material.
As recomendações do INCA listam uma série de hábitos que devem ser adotados para a prevenção do câncer no Brasil, entre eles: a manutenção do peso corporal saudável; ser fisicamente ativo como parte da rotina diária; fazer dos alimentos de origem vegetal a base da dieta; evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas e fast food; evitar o consumo de carnes processadas; evitar o consumo de bebidas alcoólicas e não usar suplementos alimentares para prevenção do câncer.
As orientações também incentivam a amamentação, que protege as mães do câncer de mama e os bebês do sobrepeso e da obesidade ao longo da vida. Uma observação especial é direcionada ao consumo de chimarrão, que não deve ocorrer em temperaturas superiores a 60 °C.
O texto do guia ressalta que “após o diagnóstico de câncer, sempre que possível, o paciente deve seguir as recomendações de prevenção. Durante o tratamento, avaliar, junto ao profissional de saúde responsável, o que é aconselhável”.
Outro apontamento importante chama atenção para o risco de exposição ao tabaco e ao excesso de sol. “Embora cada recomendação individual ofereça benefícios para a proteção contra o câncer, a maior parte do benefício é obtida ao tratar todas as recomendações como um padrão integrado de comportamentos relacionados à alimentação, à atividade física e a outros fatores associados ao modo de vida”, afirma o documento do INCA.
A nutricionista Luísa Nunes, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer, concorda que o conjunto de hábitos e comportamentos saudáveis ajudam a prevenir os tumores. “Falamos de estilo de vida e este conceito engloba sono, atividade física, alimentação, controle do estresse, vida social e afetiva, equilíbrio psicológico e saúde mental.
O câncer tem suas preferências e se pode instalar mais facilmente quando encontra, reunido, o maior número possível de fatores de risco, como predisposição genética, obesidade e vida sedentária, alimentação inadequada, excesso de álcool, exposição à radiação e a agentes químicos, consumo de tabaco, estresse e exposição a plásticos, agrotóxicos e aditivos químicos nos alimentos”, completa Luísa.
“A alimentação tanto pode ajudar quanto atrapalhar a vida de uma pessoa. Uma nutrição bem feita, com alimentos integrais, orgânicos, ricos em polifenóis, fitoquímicos e nutrientes antioxidantes e anti-inflamatórios, é a chave para longevidade. Longevidade é envelhecer com saúde mantendo a capacidade funcional física e cognitiva do indivíduo”, afirma Luísa. A nutricionista exemplifica o impacto da obesidade e vida sedentária sobre o aumento da incidência de câncer de mama, carcinomas de endométrio, tumores malignos de cólon e de adenocarcinoma de esôfago.
Promoção da saúde como compromisso individual e coletivo
A publicação do guia do INCA e a relação entre alimentação e câncer também foram tema de uma reunião do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, realizada em novembro. Durante o encontro virtual, com a presença de representantes de várias entidades, a nutricionista da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Ana Carolina Feldenheimer lançou uma provocação: “a promoção da saúde e da alimentação adequada são uma ação intersetorial, em que há a necessidade de cooperação e comando num sentido único, que promova acesso e disponibilidade. Ficamos muito focados no âmbito individual, mas só ele não esgota as questões de saúde”. No entanto, ela não descartou a responsabilidade de cada pessoa nas escolhas mais saudáveis. “Costumo dizer que é uma poupança que nunca saberemos quando será sacada”, define Ana Carolina.
Maria Eduarda Leão Diogenes Melo, responsável pela Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer do INCA e uma das organizadoras da versão brasileira do guia, também destacou a importância do trabalho em rede e a capacitação nos Estados e municípios para estimular a prevenção por meio de hábitos saudáveis. “Sempre propomos a reflexão sobre os desafios de fazer com que as informações cheguem para os profissionais que têm contato direto com os usuários do sistema de saúde. É um desafio não só do conhecimento, mais ainda, do reconhecimento de que as recomendações fazem parte de um conjunto de políticas que precisam ser implementadas”.
O guia “Dieta, nutrição, atividade física e câncer: uma perspectiva global – um resumo do terceiro relatório de especialistas com uma perspectiva brasileira” pode ser acessado pelo link.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.