Na temporada de verão, muitas pessoas aproveitam os dias de sol em praias, parques e piscinas e um detalhe extremamente importante não pode ser esquecido: a proteção da pele. Se expor ao sol sem proteção pode ter consequências graves e o câncer é uma delas.
No Brasil, são 175.760 novos casos de câncer de pele não melanoma por ano. Já de melanoma, que é o tipo mais agressivo, são 5.670. “As queimaduras solares na infância são um dos fatores de risco para o melanoma. Já o câncer de pele não melanoma está mais ligado à exposição crônica ao longo da vida”, explica o oncologista Rafael Schmerling, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.
Uma lesão que cresceu, sangra e não cicatriza precisa ser avaliada por um dermatologista, assim como pintas com bordas irregulares que mudam de aspecto porque podem ser indicativos da doença.
O tratamento evoluiu muito e o diagnóstico precoce interfere diretamente nos resultados. “Quando se tem um carcinoma, que é uma doença que raramente vai criar metástase, a cirurgia resolve na grande maioria das vezes. No caso do melanoma, se a doença já estiver espalhada, você trata o corpo inteiro. Quanto mais precoce, mesmo a doença metastática, melhores são os resultados que a gente tem tido”, acrescenta o oncologista.
A seguir, você lê a entrevista completa que o oncologista Rafael Schmerling concedeu ao Instituto Vencer o Câncer.
Por que há tantos casos de câncer de pele no Brasil? As pessoas não sabem se proteger?
Os cânceres de pele são os que mais acometem não só os brasileiros, mas qualquer população. Não há uma explicação definitiva para isso, mas a pele é um órgão que está exposto a todas as agressões que a gente tem e a mais comum e contínua é a exposição aos raios ultravioletas, o que leva a formação da maioria dos tipos de câncer de pele.
A exposição ao sol é então o principal fator de risco?
O sol é o principal fator de risco, a gente não tem dúvida, ainda que diferentes tipos de câncer de pele tenham comportamentos diferentes em relação ao sol. Existe o grupo dos carcinomas, que são tumores que formam às vezes cascas, nódulos na pele e acometem mais as pessoas de mais idade, que tiveram uma exposição ao longo da vida bastante grande. Existe também o melanoma, que é o tumor que aparece na forma da pinta, pinta preta, irregular, que cresce; esse está muito mais relacionado às queimaduras solares da infância e da juventude.
Queimaduras solares podem então levar a um câncer de pele?
É um dos fatores de risco para melanoma. Já o câncer de pele não melanoma está mais ligado à exposição crônica; por exemplo, em um lavrador ou uma pessoa que trabalha exposto ao sol sem proteção, o mais comum são os carcinomas. E pessoas de pele mais clara têm um risco maior, assim como os albinos. Os negros têm menos risco de desenvolverem carcinomas, mas têm mais risco para alguns melanomas diferentes que não estão ligados ao Sol e aparecem na planta do pé e na palma das mãos.
O melanoma é o tipo mais grave da doença?
O melanoma é o tipo responsável pelo maior número de mortes. Há outros tipos muito raros de câncer de pele que são muito agressivos, mas são muito menos comuns, a gente não consegue colocar na perspectiva. Em comparação com os carcinomas, o melanoma é muito mais grave.
E quais são esses outros tipos muito raros de câncer de pele?
Entre os tumores de pele mais raros, nós temos os linfomas e o carcinoma de Merkel. Os linfomas se manifestam geralmente em placas na pele e o carcinoma de Merkel com um nódulo avermelhado isolado.
Uma pessoa pode ter um câncer de pele e só percebê-lo quando está mais avançado? Como é a evolução do câncer de pele?
Quando se tem um carcinoma, que é uma doença que raramente vai criar metástase, raramente vai se espalhar pelo corpo, normalmente essa lesão cresce para fora, uma hora começa a incomodar, sangrar, fica nítida e precisa ser removida, e a cirurgia resolve na grande maioria das vezes. No melanoma, não é incomum nós vermos pessoas que negligenciaram suas pintas que estavam se modificando, que estavam crescendo; às vezes, até regridem um pouco e quando aparecem têm metástase. O que é importante é um acompanhamento, ou seja, consultar um dermatologista regularmente para que, na suspeita de câncer, as pintas sejam removidas.
A metástase do melanoma pode aparecer em que órgão?
Virtualmente em qualquer lugar.
O tratamento do câncer de pele sempre passa pela cirurgia?
O primeiro passo é remover a lesão, a menos, no caso do melanoma, por exemplo, se a doença já tiver espalhada, aí isso deixa de ser uma prioridade e você trata o corpo inteiro. A gente tem duas frentes no tratamento do melanoma, uma delas é a imunoterapia em que os remédios vão tentar modular as células de defesa para ficarem mais ativas e caçarem as células de tumor. A outra estratégia a gente chama de terapia alvo. Nela, quando se identifica no tumor um gene alterado, um gene doente que cria uma proteína doente, o remédio vai e bloqueia, como se a gente estivesse bloqueando uma engrenagem louca de um relógio. E quando ele bloqueia essa engrenagem a célula morre. Essas são as duas grandes frentes que hoje nós temos para tratar o melanoma avançado. Quanto mais precoce, mesmo a doença metastática, melhores são os resultados que a gente tem tido.
Uma pessoa que já teve melanoma tem risco maior de ter novamente?
Todas as pessoas que já tiveram melanoma têm risco de ter um novo melanoma. Esse risco chega ao longo da vida em até 10%. Quem teve um carcinoma acaba tendo risco aumentado de ter melanoma também porque são pessoas que têm pele clara e têm risco maior.
Vamos falar um pouco da prevenção. Como pode ser feita de forma adequada?
A principal forma de prevenção de câncer de pele é usar de protetor solar, chapéu, camisetas que protegem a pele e evitar os horários em que o sol está mais intenso. Normalmente o erro mais comum é não passar o protetor corretamente. É importante passá-lo e repassá-lo a cada duas horas.
Quem já teve câncer de pele deve ter cuidado redobrado?
Sem dúvida. A pessoa não precisa viver nas trevas, mas a responsabilidade e o cuidado são maiores. A regra é simples: não pode se queimar; é proibido ficar ardido.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.