Iniciativa propõe estratégias para incentivar vacinação contra o HPV e
rastreamento da doença
O Instituto Vencer o Câncer e o Grupo Mulheres do Brasil lançaram, no dia 26
de agosto, a Aliança Nacional para Eliminação do Câncer do Colo do Útero, um
movimento colaborativo que vai promover ações coordenadas para eliminar um
dos tumores mais incidentes entre as mulheres brasileiras.
O lançamento contou com a presença de representantes do Ministério da
Saúde e de secretarias estaduais e municipais, da OPAS, entidades médicas e
associações de pacientes e comunidades, além de representantes de hospitais
e universidades, e profissionais de saúde.
O objetivo é estimular a vacinação contra o HPV (papilomavírus humano),
principal fator de risco da doença, e o acesso ao rastreamento e diagnóstico
precoce. Para atingir as metas, grupos de trabalho vão atuar em cinco frentes
principais, para fomentar a mobilização social e informar.
Uma destas frentes é a comunicação maciça sobre a prevenção e o rastreio do
câncer do colo do útero. “Até o fim deste ano, todo brasileiro precisa saber o
que é o HPV”, ressaltou a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do
Grupo Mulheres do Brasil.
A Aliança também vai engajar agentes de saúde, escolas e comunidades, além
de debater com o poder público políticas efetivas para o controle deste tipo de
tumor.
“Devemos ser ambiciosos e ter tolerância zero com os baixos índices de
vacinação contra o HPV. Precisamos estabelecer este conceito, para que toda
criança e todo adolescente no país sejam vacinados”, afirmou o oncologista
Fernando Maluf, cofundador do Instituto Vencer o Câncer. “Esta é a medida
mais eficaz, resolutiva e barata contra o câncer”, acrescentou.
Uma dívida com as mulheres
A médica Socorro Gross, representante da OPAS/OMS no Brasil, destacou
que, no passado, não era possível falar em eliminação do câncer do colo do
útero. Já, hoje, existe uma vacina, que foi introduzida no programa de
imunização há uma década. Para ela, a Aliança é um movimento que pode ser
replicado em todo continente americano. “Temos uma dívida com as
mulheres… Esta Aliança tem metas e vamos atingir estas metas, para que
nossas filhas e netas vivam sem câncer”, disse.
O diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Roberto Gil, apresentou
as orientações do Plano Nacional para a Eliminação do Câncer do Colo de
Útero e salientou o papel da sociedade civil no apoio às ações do Ministério da
Saúde. “Precisamos de união, humildade e dados”, comentou.
O oncologista informou que, em breve, será lançada a atualização das
diretrizes de rastreamento da doença no país e citou a incorporação da
tecnologia de testagem molecular para detecção do vírus HPV no SUS como
um marco importante. Gil também destacou algumas barreiras identificadas
pelo INCA para a vacinação contra o HPV e o rastreio.
Entre os jovens e pais, os principais motivos citados para não tomar a vacina
foram os seguintes:
● Desconhecimento sobre a prevenção do câncer pela vacina;
● Medo da vacina, informações falsas;
● Achar que a vacina pode incentivar iniciação sexual precoce.
Entre os profissionais de saúde, as barreiras apontadas foram:
● Desconhecimento da população elegível correta;
● Não se consideravam responsáveis por educação;
● Não se sentiam seguros para informar;
● Desconhecimento da recomendação das diretrizes.
Para o rastreamento, estes são os principais motivos para não realização do
exame:
- 45,1% não achavam necessário;
- 14,8% não foram orientadas;
- 13,1% tinham vergonha;
- 8,8% nunca tiveram relações sexuais;
- 7,3% serviço era distante, demorado ou com horário de incompatível
Segundo a Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da
Saúde, Ethel Maciel, a eliminação do câncer do colo do útero é prioridade para
a pasta. Ela reforçou a importância de uma estratégia de vacinação que leve
em conta as regionalidades e as barreiras locais. Em abril de 2024, o Ministério
adotou a dose única contra o HPV, para meninos e meninas de 9 a 14 anos.
“O Programa Nacional de Imunizações (PNI) investiu para entender (essas)
barreiras. E o retorno da vacinação nas escolas aumentou em 42% a
imunização contra o HPV”, sinalizou Ethel Maciel. Os dados refletem a
comparação entre 2022 e 2023, a partir da implantação do Movimento Nacional
pela Vacinação na Comunidade Escolar, promovido pelos Ministérios da Saúde
e da Educação.
“Esta Aliança pode nos ajudar muito em relação à educação”, avalia a
secretária. “Precisamos romper o desafio da informação, de que os meninos
também precisam ser vacinados”, disse.
Câncer do colo do útero
O câncer do colo do útero é uma doença que pode ser prevenida com sucesso
e curada se detectada precocemente e tratada adequadamente. O HPV é a
principal causa, e a vacina é uma das estratégias mais eficazes para prevenir a
infecção por este vírus. No entanto, a adesão à imunização ainda é um desafio,
muitas vezes devido à falta de informação ou a mitos sobre a vacina.
No Brasil, o cenário do câncer do colo do útero é preocupante. Este tumor é o
terceiro mais comum entre as mulheres, atrás apenas do câncer de mama e do
câncer colorretal. A alta incidência está associada a fatores como a falta de
acesso a serviços de saúde, desigualdades socioeconômicas e a
desinformação sobre prevenção e tratamento.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), só em 2024, mais de
17 mil brasileiras vão receber o diagnóstico da doença. Mais de 6 mil mulheres
morreram por este tipo de câncer em 2020.
Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a estratégia global
para a eliminação do câncer do colo do útero, que insta os países a cumprirem
metas estabelecidas para 2030 através de políticas nacionais de prevenção,
diagnóstico precoce e acesso a tratamento.
O Brasil tem demonstrado seu compromisso com essa causa através de
diversas ações, tendo este ano modificado a estratégia de vacinação contra o
HPV, adotando o esquema de dose única em meninas e meninos de 9 a 14
anos.
Além disso, a Lei 14.886, de junho de 2024, institui o Programa Nacional de
Vacinação em Escolas Públicas, com expectativa de aumentar a imunização
nesta faixa etária. Ainda, o teste molecular para a detecção do HPV foi
incorporado ao SUS em março, e em breve teremos o lançamento da
atualização das diretrizes brasileiras de rastreamento do câncer do colo do
útero.
Estratégias para enfrentar os desafios
Para informar a população sobre o HPV, a vacinação e a prevenção do câncer
do colo do útero, a Aliança desenvolverá campanhas informativas, que vão
utilizar diversos meios de comunicação, como televisão, rádio, redes sociais e
eventos comunitários.
Também irá trabalhar em conjunto com escolas, associações de pais e
mestres, e líderes comunitários para promover a vacinação. A colaboração com
o setor educacional é especialmente importante, pois as escolas são um ponto
de acesso crucial para alcançar meninas e meninos na faixa etária alvo.
Cartilha sobre vacinação
Em parceria com a Aliança, o escritório de advocacia Pinheiro Neto construiu
uma cartilha com orientações acerca de aspectos legais da vacinação de
crianças e adolescentes. Além da discussão da vacinação em si, a cartilha
aborda a elaboração e divulgação de campanhas para o público de crianças e
adolescentes.
Clique aqui e acesse a CARTILHA DE VACINAÇÃO.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.