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Fazer do alimento nosso remédio, filosofia de Hipócrates, ainda é uma das melhores formas de prevenir tumores

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No Dia Mundial do Câncer, IVOC destaca alimentação saudável e alimentos benéficos, umas das bases para prevenir tumores, em lives com fundadores

 

“Eu sou e eu vou”. Este foi o tema do Dia Mundial do Câncer deste ano, 4 de fevereiro, com foco no compromisso de cada pessoa em agir para melhorar o cenário da doença no mundo. A iniciativa global criada em 2000 e liderada pela União Internacional para Controle do Câncer (UICC) tem como meta promover conscientização mundial e impedir milhões de mortes evitáveis, com difusão de informações e estímulo a ações governamentais para melhorar o acesso ao diagnóstico precoce e tratamento. O objetivo é reduzir o número de mortes por câncer e doenças não transmissíveis em um terço até 2030.

O Instituto Vencer o Câncer (IVOC), que tem como sua missão divulgar informações de combate ao câncer, promoveu dois eventos virtuais para aumentar a conscientização e levar conhecimento a pacientes, familiares e público em geral. O oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do IVOC, participou de uma live com Ana Luisa Baccarin, oncologista pelo A.C. Camargo e pós-graduada em Nutrologia. Eles alertaram sobre um dos principais aspectos para prevenir e melhorar o tratamento de diversos tipos de tumores: cuidados com a alimentação.

A atenção para se alimentar bem é uma das bandeiras do IVOC, que realiza a campanha Tarja Verde, para estimular a alimentação saudável. Falando sobre isso, o oncologista Fernando Maluf, também um dos fundadores do IVOC, conversou em uma live com Thiago Vinícius, fundador da agência Solano Trindade, rede de empreendedores da periferia que oferece vários serviços, entre eles armazém de produtos orgânicos com rede de entrega e restaurante.

 

Alimentos que são remédio e que são veneno

“Eu levo a sério pessoalmente e transmito aos pacientes a filosofia que vem de Hipócrates: ‘Faça do seu alimento o seu remédio’”, destaca Buzaid, lembrando que há alimentos que são inequivocamente cancerígenos, como as carnes processadas – presunto, mortadela, bacon -, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) insere na categoria 1, junto com o fumo em relação ao câncer de pulmão. “A carne vermelha está na categoria 2, porque há forte grau de evidência, mas não inequívoco. Estudos mostram que a carne vermelha contribui para inflamar o organismo e inflamações crônicas de várias doenças aumentam o risco de câncer”.

Ana Luisa acrescenta que a recomendação é limitar a ingestão de carne vermelha a no máximo 500 gramas por semana, e o ideal é 300 gramas semanais. “Uma dica prática para ingerir carne vermelha: comer junto com um pratão de salada, que tem fibras, compostos bioativos, antioxidantes e fitoquímicos que vão ajudar a modular o estresse oxidativo da mucosa do intestino. É importante que junto com a carne vermelha cheguem outros alimentos; a célula intestinal entende diferente”.

Buzaid aponta também os riscos da ingestão de açúcar refinado, que considera um grande veneno para o organismo. “No laboratório, se você coloca insulina em células cancerosas, elas crescem mais”, avisa. Por isso, diz, a ideia é manter a insulina baixa com alternativas como jejum intermitente e comer em pequenas quantidades ao longo do dia. “Não é fácil, porque há muitas pressões para comer açúcar. Tem vontade de comer sorvete? Pega o diet. É preciso buscar alternativas que não fazem tão mal”.

Para Ana Luisa, é fundamental ainda diferenciar a ingestão de carboidrato refinado e complexo. “A dieta mediterrânea (baseada no consumo de alimentos frescos e naturais), uma das mais protetoras em relação ao câncer, conta com 55% a 75% de carboidrato bom, complexo, que não vai dar pico de insulina porque a velocidade de liberação do açúcar na corrente sanguínea é baixa”, explica. “Traz a energia sem a parte ruim”.

Já quanto à ideia de que a dieta cetogênica (baseada no consumo baixo de carboidrato, médio de proteína e alto de gordura) pode ser útil no combate ao câncer, a oncologista acredita que há um excesso de empolgação. “Se aprofundar na literatura científica da dieta vai identificar problema de saída: 20% dos estudos pré-clínicos mostram progressão da doença ou estabilidade com essa dieta; 80% tem resposta animadora. Mas precisa entender que não é para quem quer, é para quem pode. Tem uma série de critérios que são aplicados pontualmente”. Buzaid afirma que para alguns tumores que nascem no cérebro parece que a dieta cetogênica pode ser útil, mas é preciso orientação médica.

 

Cuidados com pacientes

As disfunções provocadas por diversos tipos de tratamentos são preocupações constantes dos médicos. O acompanhamento com equipe multidisciplinar ajuda a evitar os efeitos colaterais e suas consequências no organismo. “O tratamento causa muita disfunção fisiológica e metabólica e precisamos nos antecipar, o paciente deve sair bem informado do consultório”, avisa Ana Luisa. Ela cita como exemplo a quimioterapia, que pode provocar disfunção do trato gastrointestinal, levando a vômitos, diarreia, mucosite e aftas na boca, que dificultam a alimentação. Todos esses fatores podem prejudicar o aporte necessário de nutrientes.

“Alguns tratamentos alteram a flora intestinal, o que pode atrapalhar inclusive a eficácia do tratamento. Manter a flora saudável é importante para a eficácia da quimioterapia e em particular da imunoterapia”, relata Buzaid.

Ana Luisa lembra que pacientes metastáticos tendem a ingerir uma quantidade inferior de proteína – quando acontece, a indicação é fracionar a alimentação ao longo do dia para a absorção não ter falhas e combinar o aumento de ingesta proteica com treinos, como de musculação.

Aos que terminam o tratamento e perguntam se é preciso manter uma dieta saudável, a resposta, avisa Buzaid, é sim, porque diminui não apenas o risco de recidiva, como de desenvolver outras doenças. Junto com a alimentação saudável, recomenda a prática de atividade física. “É preciso cuidar do corpo a vida toda. Nutrição e atividade física é tão importante quanto a quimioterapia”.

 

Oncologia imuno-metabólica – a importância do microbioma intestinal e do sistema imunológico

Ana Luisa comenta que a imunoterapia veio reforçar a importância de manter o organismo saudável para que durante e após o tratamento os resultados de saúde sejam melhores. Dentro deste cenário, avisa, o microbioma intestinal tem papel importantíssimo. “Usar as dietas como moduladoras do organismo, reprogramando o organismo, é a nova fronteira da Oncologia. Utilizar o estilo de vida da pessoa para modular respostas terapêuticas, lembrando que a célula tumoral já foi uma célula saudável”, afirma a oncologista.

Buzaid complementa: “As pessoas esquecem que os cânceres aparecem porque o sistema imune falhou. A célula normal, através de mutações, virou bandido, com duas características: proliferação não controlada e capacidade de se espalhar, o que decorre de mutações de uma célula que um dia foi normal”, avisa. “O sistema imune do corpo falhou e para manter funcionando bem é através de nutrição e atividade física. Precisamos usar todas as armas para ter maior chance de cura e isso é tão sério quanto conversar sobre tratamento”. 

Ana Luisa aponta ainda a importância de dormir bem para a saúde: “Nosso corpo tem uma força grande e precisa ser aproveitada para o combate”. Na dúvida sobre a melhor alimentação para a saúde, Buzaid resume: “Veja o que tem na natureza e siga essa regra; é uma boa regra”.

 

Do produtor à periferia, orgânico leva comida boa para a mesa

Na busca de uma alimentação saudável, a ingestão de alimentos orgânicos ganha cada vez mais espaço, mas muitas vezes encontra barreiras no acesso a esse tipo de alimento. Foi justamente para reduzir a distância entre consumidores e alimentos orgânicos, que são mais saudáveis, que a agência Solano Trindade passou a atuar na área. “Criamos o primeiro armazém de orgânicos da periferia de São Paulo”, conta Vinícius. “Há na periferia pessoas com quadro de obesidade e desnutrição. Ter o armazém e o restaurante é um grande encontro de tecnologias sociais”.

Ele comenta que, pela dificuldade de acesso à carne, muitas pessoas na periferia se especializaram em preparar receitas saborosas e saudáveis com vegetais, utilizando inclusive as plantas alimentícias não convencionais – PANCs, que hoje são bastante usadas. O fácil acesso à alimentação fast food, com preços reduzidos e opções para comer em trânsito, diante da correria do dia a dia, aumentaram o consumo desse tipo de alimento na periferia.

Maluf ressalta que o mundo vive pela primeira vez uma fase em que haverá mais crianças com sobrepeso e obesas do que desnutridas. “Pela rotina e pelos custos, muitos optam pela comida que o americano chama de junk food, que chega a preço barato e tem potencial de viciar as pessoas. Também pela pressa, muitos não podem parar e sentar, comem um sanduíche, uma coxinha pelo caminho”.

A proposta, avisa Vinícius, é justamente mudar esse hábito e retomar o conhecimento tradicional. “Temos noção de que não estamos inovando. Trabalhamos com orgânicos, com o coração da banana, por exemplo; as senhoras da periferia conhecem o coração da banana. No nosso trabalho com orgânico sempre tivemos claro que estávamos fazendo uma reconexão alimentar com nosso povo, reconectando nosso povo com o cheiro do alimento, a textura. Quando nossos pais chegaram na periferia, vieram da realidade da roça”. Além de ser mais saudável, Vinícius conta que o alimento orgânico dura mais na geladeira. 

A boa alimentação, reforça Maluf, é essencial para evitar não apenas o câncer, como outras enfermidades. “A dieta vem chegando como maior fator que leva ao câncer, empatando com tabaco. Tem várias dietas ruins, com embutidos, enlatados, açúcares, gordura animal, carne vermelha. A dieta pode ser protetora ou um malfeitor, quando é mal utilizada”.

Além do restaurante que funciona no local, a rede tem delivery de orgânicos com pedidos feitos pelo whatsapp. “Fazemos mil entregas por mês e, dessas, 100 são da periferia. Tem também o armazém onde a pessoa pode vir e escolher, além do restaurante comunitário, com pratos a R$ 9,99 a R$ 11,99”, revela Vinícius. “As pessoas estão consumindo alimento que vem direto da roça. Esse modelo de negócio fortalece a conexão campo – periferia. Além de saudável, é uma alimentação gostosa”. Como é feita diretamente do produtor, os preços são mais acessíveis.

Pensando no aumento da obesidade infantil, que está ficando epidêmica, o Instituto Vencer o Câncer criou a campanha Tarja Verde. Conforme Maluf, a ideia é “ensinar pais, mães, tios, avós, educadores, a melhorar a dieta de crianças e adolescentes, que não têm tanto vício, mais fácil do que mudar a rotina de alguém com 40, 50 anos de idade”. 

A proposta tem muito em comum com o trabalho da agência Solano Trindade que, como conta Vinícius, “parte do pressuposto que comida boa é aquela que a gente faz e sabe de onde veio”.

E a busca pela alimentação de qualidade volta-se, novamente, para o que vem da natureza.

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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