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No mês de conscientização sobre o câncer de rim, acolhimento, boas notícias e apoio para o bem-estar dos pacientes

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‘Precisamos falar sobre como estamos nos sentindo’ é o tema deste ano da campanha mundial promovida pelo IKCC (International Kidney Cancer Coalition) pelo Dia mundial do câncer de rim, 17 de junho, para conscientizar e combater a doença que tem 431 mil diagnósticos por ano em todo o mundo. Especialmente nesse momento de pandemia e isolamento, o apoio social é ainda mais importante para todos.

Ouvir e acolher os pacientes é parte da missão do Instituto Vencer o Câncer (IVOC), junto com a disseminação de informações de qualidade e atualizadas. Por isso, para a produção deste texto decidimos convidar uma paciente de câncer de rim a participar da entrevista, levando também suas dúvidas e anseios à médica Ana Paula Garcia Cardoso, oncologista clínica do hospital Albert Einstein e membro do Comitê Científico do IVOC.

“Abriu minha mente em relação ao tratamento”, disse Andrea Lorenzon, 54 anos, sobre a conversa em que pôde falar das angústias que lhe afligem após a recém-descoberta de um novo nódulo no pulmão direito, fruto da metástase do câncer de rim descoberto há seis anos. Andrea, que teve câncer de rim e metástase com nódulos no pulmão e na cabeça, já contou sua história para o IVOC em 2018. Ela vinha se tratando com Pazopanibe há seis anos e acompanhando periodicamente com exames – e estava tudo bem, até que, em fevereiro deste ano, descobriu uma mancha no pulmão direito.

“Como eu tive covid no final de dezembro, não sabia bem o que era. O exame que fiz em abril apontou que é um nódulo de cinco centímetros. A indicação médica no momento é fazer 20 sessões de radioterapia e continuar com a minha medicação, com algumas cartas na manga em opções, como a imunoterapia. O nódulo está numa posição que me incomoda muito fisicamente, eu nunca senti dor física na doença. Mas a radioterapia vai melhorar os sintomas. Vai dar tudo certo”, afirma, sempre otimista.

Além das questões emocionais, a pandemia tem trazido outro problema aos pacientes: o atraso no diagnóstico. A oncologista comenta que houve um aumento do número de casos diagnosticados já avançados porque as pessoas estão evitando procurar o hospital mesmo com sintomas. “É uma constatação da nossa falta de educação em saúde. Muitos buscam o pronto-socorro ou médicos por razões mais simples, como insônia ou dor de cabeça, e acabam não procurando quando realmente precisam, apesar de ter dor abdominal que não melhora ou sangramento. As pessoas não sabem a hora certa e quando há um motivo importante para buscar ajuda médica”, lamenta.

 

Avanços científicos trazem respostas e esperanças

Cada nova descoberta, cada avanço científico traz grandes possibilidades aos pacientes, muitas vezes tirando um sorriso de esperança, como aconteceu com Andrea após revelar uma dúvida que lhe acompanha há seis anos e ouvir de Ana Paula como resposta uma descoberta apresentada na véspera, no evento mais importante de oncologia do mundo, que traz as novidades mais relevantes, o 2021 ASCO Annual Meeting.

“Quando eu descobri o câncer de rim cheguei na frente do médico sabendo que era maligno, um tumor enorme e que eu teria que tirar o rim inteiro. Na época me foi dito que ele estava encapsulado, não tinha tido nenhum escape. Depois de quase um ano soube que não foi isso que aconteceu – em algum momento teve o escape e houve as duas metástases. Essa sempre foi minha grande dúvida: será que lá no começo eu deveria ter averiguado mais, ter ido atrás para tentar, naquele momento, fazer prevenção através de medicação, para não ter chegado nesse ponto? Isso sempre martela na minha cabeça”, perguntou Andrea.

“Participei online do congresso internacional Asco, em que apresentaram um estudo considerado um dos cinco mais importantes do congresso. Ele avalia a adjuvância em câncer de rim: será que existe uma população de pacientes com doença de alto risco de recorrência ou já metastática que após ressecção se beneficiaria de tratamento complementar com imunoterapia? E a resposta é que parece que sim. O estudo tem resultados ainda pouco maduros, mas já apontam para um benefício de diminuir a chance de recorrência e morte pela doença. Não é para todos os casos, mas para quem tem o tumor mais avançado”, respondeu Ana Paula. “Pela primeira vez se constatou ser positivo acrescentar um tratamento complementar no momento do diagnóstico, em que a totalidade ou parte do rim é retirado. Até um dia antes não havia recomendação de tratamento complementar”,

Andrea sorriu em parte aliviada, por não precisar mais seguir com as dúvidas que tantos pacientes carregam com a impressão de que falharam e podiam ter feito algo mais. Também em parte esperançosa, ao perceber que a imunoterapia, objeto de tantos estudos e que revolucionou a forma dos tratamentos oncológicos, pode ser uma boa alternativa complementar para o caso da sua recidiva. “Nossa, que fantástico. Fico feliz em saber que a associação dos tratamentos é muito importante, nem sabia disso em relação à imunoterapia”, comentou a paciente.

A oncologista faz parte, no hospital Albert Einstein, de um estudo randomizado internacional que testa imunoterapia nesse cenário mais precoce: “É muito provável que esses estudos sejam positivos e vamos começar a usar imunoterapia nesse cenário”.

 

Diante do diagnóstico, o que pode ser feito?

A dúvida de Andrea sobre buscar todas as opções de exames e tratamentos possíveis no momento do diagnóstico é a mesma de muitos pacientes de diferentes tipos de tumor. A primeira indicação é procurar um oncologista. “No meu caso, o urologista fez a cirurgia e o tratamento parou aí. Na época não fui encaminhada; procurei oncologista quando tive metástase nos pulmões”, revela.

Ana Paula esclarece que cada estádio do tumor exige um seguimento diferente e o oncologista pode fazer essa avaliação. “Como é uma especialidade nova e o câncer de rim não era tão frequente em nossa população – o número de casos está aumentando de acordo com a possibilidade de fazer exames -, os profissionais da comunidade médica vão absorvendo aos poucos o conhecimento”.

Os exames de acompanhamento após o diagnóstico, explica a oncologista, irão depender do estadiamento do tumor – tamanho, grau, tipo histológico, entre outros dados. Ela avisa que normalmente é feita ressonância de abdômen alguns meses após a cirurgia, depois pode fazer tomografia de tórax, abdômen e pelve, além de exame de sangue. “Às vezes o paciente não valoriza, mas a avaliação clínica, examinando e ouvindo as queixas, possibilita avaliar sintomas relacionados ao diagnóstico. Não é qualquer sintoma que será investigado, mas pode ter algum que não é tão importante para o paciente, porém relevante. Por isso é essencial a consulta com o oncologista”.

 

Descoberta ao acaso ou diagnóstico avançado

“Eu dava aula 15 horas por dia. O médico perguntou se eu tinha dores nas costas. Quem dá aula durante muito tempo geralmente tem dores o dia todo. Talvez já fosse um sinal”, recorda a paciente. “Só fui apurar o que estava acontecendo quando comecei com uma anemia muito grande e desmaios. Demorei três meses para chegar ao diagnóstico, até que uma tomografia acusou o problema”.

A descrição de Andrea coincide com a de muitos pacientes que descobrem o tumor em estágio avançado, porque na fase inicial ele não apresenta sintomas. O que ocorre, diz a oncologista, é que em grande parte dos casos o diagnóstico precoce é feito por acaso, durante realização de exames pedidos por uma ginecologista, por exemplo, como ultrassom de abdômen, transvaginal ou raio-x de tórax. “Quando tem sintomas já são tumores mais avançados, com dor lombar, sangramento que pode ou não aparecer na urina e apresentar anemia e aumento do volume da barriga. Infelizmente o câncer de rim não é prevenível com exames de rastreamento, que só é feito com doenças muito frequentes na população, quando vale a pena realizar ultrassom de abdômen em todos para diminuir a mortalidade”.

 

Como evitar

As recomendações para evitar o câncer de rim, segundo Ana Paula, são as indicações gerais para prevenir qualquer tumor, controlando os fatores de risco. “Nosso corpo combate todos os dias para que o câncer não aconteça. Diariamente as células sofrem mutações, agressões dos fatores de risco como cigarro, obesidade, sedentarismo e usam mecanismos de autocontrole para evitar que proliferem. Até que um dia os fatores que estão conseguindo controlar o crescimento da célula falham e o câncer se desenvolve”.

O cigarro é o principal fator de risco porque seus componentes tóxicos são capturados pelo sangue, que será filtrado no rim. Em segundo lugar, enumera Ana Paula, vem a obesidade – o excesso de peso também pode estar associado com o aumento do tumor, assim como doenças crônicas, como pedra no rim por muitos anos ou pacientes que sofrem diálise. Também têm maior risco hipertensos, pessoas que usam analgésicos durante muitos anos, além dos fatores genéticos hereditários, que representam um caso em cada dez de câncer de rim. Para prevenir é preciso principalmente evitar cigarro e obesidade, controlar a pressão e uso de analgésicos e praticar atividade física.

Há também as exceções, como no caso de Andrea, que era atleta, tem alimentação saudável e não possuía esses fatores de risco relacionados. Nessas situações, ressalta Ana Paula, são fatores aleatórios que provocam o tumor, relacionados ao modo de vida e ambiente, ainda desconhecidos.

 

Mais opções de tratamento

Antes de 2005 não havia opções de tratamentos direcionados para o câncer de rim – usava-se quimioterapia, que não resolvia e tinha bastante toxicidade. A oncologista conta que a situação melhorou com a terapia-alvo e inibidores de tirosina-quinase, como o Pazopanibe. “Eles mudaram a vida dos pacientes, permitindo que vivessem com qualidade por muitos anos, com a doença controlada”, comemora.

Em 2015 houve mais avanços com a primeira imunoterapia para câncer de rim e alguns anos depois a combinação de tratamentos já na primeira linha. “Hoje vemos pacientes que foram tratados com imunoterapia desde a primeira linha e que o sucesso do tratamento é muito maior. Ter acesso à combinação de tratamentos, especialmente com imunoterapia, faz muita diferença e pode dar mais benefício a longo prazo”, informa. “É uma doença complexa e exige vários mecanismos de ação, pois ela escapa e por isso a combinação de medicamentos diferentes é importante”.

 

Conquiste seu bem-estar psicossocial

As dificuldades econômicas, falta de convívio, medos e inseguranças tornam, nesse momento, mais difícil a convivência com o câncer. Para ajudar os pacientes, o IKCC criou uma iniciativa diferente.

Que tal receber um relatório de bem-estar psicossocial com sugestões para se sentir melhor? Basta responder a nove perguntas no site da campanha.

A ideia é que os pacientes de câncer de rim criem o relatório e compartilhem para transformar a data de prevenção à doença também em um dia de conscientização sobre os problemas psicossociais.

Para saber mais, acesse www.worldkidneycancerday.org

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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