Ontem estava conversando com umas amigas sobre meu pai e bateu aquela saudade.
Grande parte da minha “força” e bom humor vêm dele. Ele, que conviveu dez anos com uma doença no coração (miocardiopatia dilatada), estava sempre com um sorriso no rosto mostrando para todos que estava bem, fazendo piadas sobre tudo e todos mesmo nos últimos dias, quando já não conseguia respirar bem. Acho que a pior parte é você ver uma das pessoas que mais ama sofrer e não poder ajudar de nenhuma maneira. Sei que ele estava sofrendo muito e se esforçava para passar pra gente que ia ficar tudo bem. E eu realmente acreditava que iria ficar tudo bem. Sua morte foi um grande choque para mim e acredito que para todos.
Eu fui a última a estar com ele, me lembro de estar conversando com ele e perguntei: “pai, quais são suas memórias mais legais que você nunca me contou (porque eu estava contando sobre uma vez em que quase fui presa na Alemanha)?”. aí ele começou a contar que as memórias mais divertidas que ele tinha eram com uns amigos dele de São Paulo, de quando eles iam acampar ainda guris, bem antes de casar.
Essa foi a nossa última conversa. Depois cheguei perto dele e fiquei fazendo carinho nos cabelos finos dele. Mas eu sempre estava muito tranquila e confiante de que daria tudo certo. Lembro-me de estar comendo um misto quente no corredor (porque a enfermeira havia dito que não podia comer no quarto) quando ele foi levado para a UTI e passou na maca me dando beijos e tchaus. E eu retribuí com beijos e tchaus. Estava tranquila, eu nunca ia imaginar que era a última vez que eu o veria com vida.
Ele tinha muito amor à vida e principalmente à família. Nos tratava como verdadeiras princesas. Éramos muito unidos e nos dávamos muito bem. Era um pai muito carinhoso e sempre presente. Eu sei que ele está melhor agora, ao lado de Deus, mas a saudade é inevitável. No começo, várias vezes, quando acontecia algo em minha vida, pensava logo “nossa, meu pai precisa saber”. Aí lembrava que ele já não estava mais entre nós e a dor da sua ausência voltava. Hoje não passa um dia que eu não me lembre dele. Sou muito grata a Deus por ter tido um paizão como ele, que sempre fez de tudo por mim e pela minha felicidade, que me ensinou que a vida é boa, que sempre temos que ver o lado positivo das coisas. Que a felicidade é uma escolha ou um estado de espírito, que temos que ter bondade no coração e fazer tudo com amor, que amigos são muito importantes, que família é a maior riqueza que alguém pode ter e que falar “eu te amo todo dia” é muito importante, pois você nunca sabe quando vai ser a última vez que falará com a pessoa.
No fim acho que ele estava me preparando para que eu aceitasse e lidasse com essa doença da melhor maneira possível. Obrigada, Deus, por ter me escolhido para ser uma das filhas dele nesta terra, e pelo prazer de ter convivido e aprendido tanto nesses 25 anos de conivência que tive com ele! Me sinto muito abençoada! “A morte é apenas uma separação física, o amor nunca deixa de existir”.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.