por Viviane Pereira
Um dos grandes desafios dos profissionais de saúde é fazer com que os homens se preocupem com sua saúde – pesquisas indicam que eles se cuidam menos e procuram os serviços médicos com menor frequência.
Segundo o Ministério da Saúde, homens vivem cerca de sete anos a menos do que as mulheres, tendo como causas, além de violência e acidentes de trânsito, as doenças cardiovasculares.
Por isso, nesse Dia do Homem, comemorado 15 de julho, um dos objetivos é chamar atenção para os cuidados que a população masculina ter com sua saúde.
O Instituto Vencer o Câncer aproveita a data para falar dos tumores geniturinários, que envolvem os cânceres de próstata, bexiga e rim – inclusive, julho é o Mês de conscientização sobre o câncer de bexiga, que matou mais de 800 mil pessoas no mundo e mais de 19 mil no Brasil entre 2019 e 2022.
Qual é o principal recado que podemos dar aos homens nessa data?
“Fazer os exames preventivos para o câncer de próstata, que mais comum e terá maior impacto público. E prestar atenção aos sintomas urinários. Se a urina mudar de cor, de cheiro, se notar qualquer alteração, precisa procurar um médico”, alerta Fábio Schutz, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.
Nos três tipos de tumores, a prevenção envolve os cuidados com a saúde recomendados para evitar tantas doenças, inclusive outros tipos de câncer: ter uma boa alimentação, não fumar, não consumir álcool em excesso, praticar atividade física.
Câncer de próstata: diagnóstico precoce é a chave
O oncologista avisa que o câncer de próstata representa 30 a 35% de todos os tumores do público masculino. “Esse é, disparado, o câncer mais comum no homem – tirando do de pele não melanoma, mas felizmente não é responsável pela maior causa de morte desse público, porque a mortalidade pela doença não é tão alta”.
- O tumor que provoca maior mortalidade nos homens é o câncer de pulmão.
- O câncer de próstata é o que tem maior incidência – depois do câncer de pele não-melanoma.
Nesse tipo de tumor, fazer o diagnóstico precoce é a chave para ter não apenas uma sobrevida maior, mas com mais qualidade de vida. As estratégias de rastreamento para câncer de próstata são:
- Toque retal
- Exame PSA
Segundo Fábio Schutz, essas estratégias possibilitam diagnosticar o tumor mais precocemente, aumentando as chances de cura da doença.
“Há também a ressonância da próstata – ainda não é comum no Brasil para fazer rastreamento, mas já existem estudos sugerindo a maior eficácia da ressonância da próstata em relação ao toque retal”, avisa o especialista, ressaltando que não seria viável sua utilização em toda a população masculina, pelo alto custo e demanda de infraestrutura, e que ainda não há guidelines internacionais.
“Do ponto de vista de custo e eficácia, ainda é melhor fazer toque retal e PSA, que são mais simples. Mas é importante sabermos que há vários estudos falando da eficácia da ressonância”.
Ele aponta que com a evolução dos estudos podem ser desenvolvidos guidelines que apontem uma estratificação, indicando os pacientes, de alto risco, mais indicados para o exame.
Os tratamentos, ressalta o oncologista, não sofreram muitas mudanças nos últimos anos. “Continuamos discutindo sobre cirurgia radical, tem o acesso robótico que está disponível há muitos anos – na rede privada. A radioterapia também não é novidade e pode oferecer chances de cura semelhante à cirurgia”, diz.
Outra estratégia listada é a vigilância ativa em tumores de baixo risco, em que o paciente é acompanhado periodicamente com exames, e só passa a fazer um tratamento ativo se e quando for necessário. “São casos em que não é necessário tratar imediatamente, até porque o tratamento sempre tem potenciais complicações. As mais temidas e mais discutidas com os pacientes são as questões da impotência e da incontinência”.
Na doença metastática sistêmica, o oncologista pondera que o tratamento hormonal continua importante e existe, já há alguns anos, os novos agentes hormonais, inibidores da via do receptor androgênico, o ARPI (da sigla em inglês androgen receptor pathway inhibitors).
“Há um novo tratamento chegando para pacientes com doença avançada – o Lutécio PSMA, um radiofármaco ligado ao PSMA”, diz. “É uma medicação nova, aprovada recentemente para tratar pacientes que têm pet-scan PSMA positivo que já falharam tratamentos com quimioterapia e hormonal. É para pacientes com doença avançada”.
- O Lutécio PSMA é um radioisótopo ou isótopo radioativo carregado pela PSMA (proteína que fica na membrana das células cancerosas prostáticas) até o câncer de próstata. Administrado na veia do paciente, consegue percorrer a corrente sanguínea e chegar ao tumor e suas metástases. Ele se acumula quase totalmente nas células tumorais do câncer de próstata e emite radiação beta, destruindo parte do tumor.
O oncologista esclarece que o medicamento está em processo de precificação e que até o final do ano deve ficar disponível para os sistemas privados de saúde.
Outro ponto ao qual ele chama atenção é para as análises genéticas. “Já temos, há cerca de cinco anos, medicações aprovadas especificamente para tratamento de pacientes com alteração em gene de reparo de DNA. Cerca de 10% a 15% dos pacientes têm essas mutações. São medicamentos para linhas mais avançadas de tratamento, para quem tem doença metastática”, explica. “É o olaparibe, uma medicação oral, de custo elevado e ainda não tem cobertura pelo rol de procedimentos da ANS”.
Câncer de bexiga e rim – de olho no sangramento na urina: “Ninguém sangra do nada”
No caso desses dois tumores, como não há estratégia de rastreamento populacional, os homens devem ficar atentos ao seu corpo para descobrir rapidamente quando há um tumor. O principal sintoma, que sempre deve ser levado bastante em consideração, avisa Fábio Schutz, é o sangramento na urina.
“O sangramento sempre precisa ser investigado, porque não é normal sangrar na urina. Precisa fazer ultrassom, tomografia, ressonância. Muitas vezes podem ser pedras ou infecções nos rins e bexiga. Mas quando há a surpresa do sangramento, deve-se verificar, porque pode ser um foco de tumor”.
- Mesmo que o sangramento passe, é preciso verificar, descobrir o motivo que levou a sangrar. Pode haver um sangramento intermitente: a pessoa sangra, para de sangrar e meses depois descobre o tumor, quando já está bem mais grave.
“Teve algum sangramento na urina? Vai atrás, porque alguma coisa errada está acontecendo. Ninguém sangra do nada”, adverte o oncologista Fábio Schutz.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.