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Escola Móvel: esperança para crianças com câncer

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Karoline Pavão tem 14 anos e morava em Manaus até setembro do ano passado, quando teve de vir para São Paulo tratar um osteosarcoma (tumor maligno dos ossos). O que começou como uma dor e um inchaço na perna, sintomas atribuídos a uma possível batida, acabou se transformando na causa de internações e tratamentos agressivos, como quimioterapia e radioterapia. Karoline é uma criança com voz meiga e unhas pintadas com esmalte azul. Depois de três meses em São Paulo, teve que amputar a perna esquerda, comprometida pela doença. Faz radioterapia até hoje para tratar o tumor, que chegou até o osso sacro, e impedir que a doença se espalhe.

É natural que qualquer adulto que seja obrigado a iniciar um tratamento desse tipo tenha dificuldades em alterar sua rotina. Para uma criança ou um adolescente, pode ser ainda mais difícil passar pelas mudanças. Fazer com que a criança sinta que, apesar das horas perdidas no hospital e no deslocamento até lá, a vida continua, é uma das grandes preocupações do Graac que, entre outros objetivos, motivou a criação de um setor importante da instituição: a escola móvel.

A ideia é que, já que as crianças e adolescentes não conseguem ir até a escola com a mesma regularidade, a escola vá até eles. Quando surgiu, há 14 anos, 50% dos pacientes não estavam matriculados em escola regular. Atualmente, o índice é de 5%. As aulas são realizadas na biblioteca ou mesmo na ala de quimioterapia. Cada professor dá aula para um aluno por vez, seguindo os conteúdos que a escola em que o paciente está matriculado determina e considerando o que o aluno está com vontade de aprender. “O sentimento que os alunos têm é de que a aula é algo que pertence a eles, que eles administram com o professor. O aprendizado está em suas mãos, o aluno é o dono do conhecimento. Tudo é negociado: se um aluno está tendo muita aula de matemática, porque gosta dessa matéria, vamos até ele e propomos outras disciplinas”, explica Amália Covic, coordenadora do setor.

Chama a atenção do aluno a diferença entre as escolas convencionais e a móvel. “Eu aprendi mais aqui do que na escola. Lá, os professores às vezes não passam lição. É bom por um lado, mas é ruim por outro, porque não dá pra aprender”, diz John Jairo Claros Robles, 13 anos, aluno do 9o ano, que trata uma leucemia.

Desde 2000, mais de 3 mil pacientes entre 4 e 23 anos frequentaram os cursos. Por mês, são atendidos cerca de 260 alunos, com o auxílio de uma equipe de quinze professores, duas coordenadores e dois orientadores escolares, que faz o acompanhamento escolar dos pacientes, da educação infantil até o 3o ano do ensino médio. Há alunos se preparando para as provas do Enem e de vestibulares,  que serão aplicadas no próprio hospital.

Por trás dos números que comprovam o alcance do projeto, é importante perceber o que significam as aulas para esses pacientes que vivem um momento tão delicado. “É o símbolo da escola: o livro, a lição de casa, a prova, o conteúdo. Eles sentem falta disso. Pedem pra ter lousa, ter giz”, conta Amália Covic. O giz não pode ser usado, porque pode causar reação em alguns pacientes. Mas são utilizados papel, caneta e até tablets. “Esse trabalho ajuda no tratamento no sentido de que a criança e o adolescente continuam se desenvolvendo, se sentindo útil, capazes de aprender. Porque esse sentido de continuidade faz parte da natureza humana”, encerra Covic.

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