O Linfoma de Hodgkin é um câncer raro do sistema linfático, mais comumente observado em adolescentes ou adultos jovens. Sintomas como suor noturno (intenso, a pessoa chega a precisar trocar o pijama e a roupa de cama mais de duas vezes por noite), febre, perda de peso e aparição de nódulos no pescoço e na virilha, são possíveis indicadores da doença, que tende a acometer mais os homens. A boa notícia é que este tipo de tumor tem grandes possibilidades de cura: mais de 75%, mesmo quando diagnosticado em estádio avançado, sendo uma das terceiras neoplasias mais curáveis.
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No entanto, segundo o chefe da Disciplina Hematologia e Hemoterapia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Otávio Baiocchi, de 20 a 30% dos pacientes vão recidivar ou serão refratários ao tratamento. Ou seja, mesmo que o médico entre com a quimioterapia logo após o diagnóstico, ele não vai responder ao processo e o câncer vai progredir. “Imagina eu chegar para um paciente jovem no começo e dizer: ‘calma, seu câncer é altamente curável. E alguns meses depois anunciar que ele não respondeu ao tratamento e que as chances dele irão diminuir consideravelmente. Isso acontece com uma minoria que não é tão minoria assim.”
A alternativa, neste caso (se o paciente não tiver diversas doenças crônicas associadas, não for idoso nem obeso mórbido), é o transplante autólogo de células tronco (TACT) – um procedimento que substitui células não saudáveis produtoras de sangue por células saudáveis. A taxa de sucesso pode não ultrapassar os 50%. À outra parcela que não consegue um resultado satisfatório destinam-se somente cuidados paliativos para reduzir a dor ou o cansaço, sintomas que tornam-se bastante comuns. [relacionados]
Desde janeiro, entretanto, já está disponível no mercado brasileiro (somente para usuários de plano de saúde) um medicamento para o tratamento do Linfoma de Hodgkin e do Linfoma Anaplásico de Grandes Células (um tipo mais agressivo de câncer sanguíneo), direcionado justamente para esses pacientes recidivados ou refratários, que não responderam ao tratamento convencional.
O brentuximabe vedotina, segundo o diretor clínico do Hemocentro da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, dr. Carlos Chiattone, é um medicamento muito importante neste sentido, pois é um anticorpo droga-conjugado, ou seja, uma combinação que associa o anti CD-30 brentuximabe guiado por uma toxina (a vedotina), que funciona como um míssil para atingir as células de câncer. “Basicamente, você conhece a estrutura CD-30 do ponto de vista bioquímico e sabe como ela funciona. Então, você vai até o laboratório e desenvolve um anticorpo contra uma pequena parte desta estrutura. Dessa maneira, além deste anticorpo atingir a célula cancerígena por si só, ele agrega uma toxina quimioterápica que atinge em cheio as células doentes. Como se fosse um cavalo de tróia.”
A nova droga faz parte das chamadas terapias-alvo que possuem ação específica sobre as células tumorais, preservando assim as células saudáveis e produzindo menos efeitos colaterais. Por enquanto, o medicamento não está disponível no SUS, mas na opinião do dr. Baiocchi é questão de tempo. “Assim que o serviço privado começa a utilizar, já passa a haver uma pressão sobre o SUS. Mesmo sabendo que não está disponível, eu não vou deixar de indicar aos meus pacientes, porque é uma opção de tratamento que até então não existia. E os pacientes se informando, indo atrás, também constituem uma forma de pressionar a liberação”, afirma.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.