Instituto Vencer o Câncer aborda novos conhecimentos na área no 7º Seminário para pacientes e familiares
“O câncer de mama é muito pesquisado hoje em dia, não é sentença de morte”. A frase de Bruna Faleiros, 38 anos, foi registrada no vídeo que abriu o 7º Seminário para pacientes e familiares do câncer de mama, evento realizado de forma online pelo Instituto Vencer o Câncer (IVOC), em 01/10, dando início às ações do Outubro Rosa. A afirmação da paciente poderia ser uma boa conclusão do conteúdo informativo apresentado pelos participantes, oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC, e a oncologista Debora Gagliato, membro do Comitê Científico do instituto. A mediação foi feita pela jornalista Natalia Cuminale.
No vídeo, Bruna conta um pouco de sua trajetória, desde a descoberta de um câncer de mama metastático até a redescoberta de si mesma. Foi sem querer que ela sentiu um caroço na mama direita; quando a nutricionista com quem fazia acompanhamento soube, sugeriu investigar. “Todo mundo dizia que não era nada. Dois dias depois descobri que tinha dois tumores na mama direita e metástase no fígado”, recorda. A grande vontade que sempre teve em viver lhe deu forças.
Como estava espalhado pelo corpo, precisou primeiro fazer um tratamento adjuvante, para depois ir para cirurgia. Foram seis meses de quimioterapia antes da operação que retirou um terço de cada mama. Depois, radioterapia e reconstrução. “Eu escutava muitas pessoas dizendo: quero ficar viva pela minha filha, pelo meu marido. Um dia, falei: quero ficar viva porque quero ficar viva”. No início de 2018 descobriu que o tumor tinha voltado porque o corpo criou resistência à hormonioterapia. “Fiquei pensando: fiz tudo e esse negócio voltou”, diz, comentando que pesquisava bastante sobre a doença e vivia para se cuidar. “Percebi que algumas coisas fogem ao meu controle e por decisão até inconsciente fui viver minha vida. Comecei a me identificar mais com a pessoa que eu era antes de descobrir o câncer”.
Livro Vencer o Câncer de Mama: segunda edição disponível no site
Um dos destaques do evento foi o lançamento da segunda edição do livro Vencer o câncer de mama, de autoria dos oncologistas Antonio Buzaid, Fernando Maluf e Debora Gagliato – com vídeo da apresentadora Ana Maria Braga, embaixadora do Outubro Rosa do IVOC, falando da importância das informações, especialmente sobre novidades no tratamento e avanços da Medicina. Nosso objetivo é que as pessoas tenham informação de qualidade, possam ser mais críticas e que, quando estiverem em tratamento, consigam questionar os médicos”, afirma Buzaid, um dos fundadores do IVOC. A versão digital pode ser baixada gratuitamente aqui.
“O acesso à informação respaldada, embasada por literatura de qualidade, às vezes é difícil”, alerta Débora Gagliato. O livro é extenso e abrange diversos temas, como medidas preventivas, como se portar para ter diagnóstico precoce, tratamentos e novas drogas, doença avançada, subtipos do tumor, entre outros. A oncologista conta que a obra é bastante completa e aprofundada. “Tivemos o privilégio de contar com colegas especialistas na área”.
Fernando Maluf ressalta que essa segunda edição consegue transmitir informações baseadas nos estudos mais importantes da literatura, de modo profundo, transparente e de fácil entendimento. “Quem ler o livro estará por dentro do que há de mais novo e mais relevante, com um formato que possibilita entender”, diz. “Traz também um conceito importante: estamos numa era em que o tratamento se adequa ao paciente. E junto com o tratamento clássico tratamos de assuntos como nutrição e atividade física, que têm se mostrado importante, além de uma ótima cirurgia, radioterapia e quimioterapia”.
Informação e exames: armas poderosas
“De cada dez mulheres, uma terá câncer de mama. Não é incomum, mas felizmente muito curável”, diz Maluf, lembrando que o primeiro grande avanço foi o desenvolvimento de testes que garantem diagnóstico melhor do que a palpação e que os exames estão avançando também para avaliação após tratamento, trazendo mais informações. “Temos maior entendimento da doença através de testes genéticos para refinar o tratamento a cada tipo de tumor, com características diferentes que não sabíamos enxergar”.
A informação ajuda ainda as pacientes, garantindo maior adesão ao tratamento, diminuindo medos e dúvidas. Débora Gagliato afirma que um dos principais temores após o diagnóstico é o medo de ter mutilado um órgão que representa a feminilidade. Para tranquilizar, a oncologista avisa que antigamente as cirurgias eram mais agressivas, mas isso mudou, nem sempre é necessário tirar o tumor com grandes margens. “Os tratamentos sistêmicos, além de prevenir recidiva, podem reduzir o tumor na mama e limpar o linfonodo na axila. São tão ativos que às vezes conseguem erradicar por completo e na cirurgia basta tirar um quadrante, um segmento pequeno, e fazer a simetrização. É frequente vermos mulheres que se sentem melhor com a mama nova, com autoestima preservada”.
Outra contribuição para a qualidade de vida da mulher é a prescrição de medicamentos de suporte, para prevenção de náusea e vômito. Débora considera inadmissível a mulher ficar passando mal, pois há medicamentos potentes para evitar. “Também conseguimos minimizar os riscos de infecção, com medicamentos que estimulam a medula para que a defesa não fique baixa”.
Outro temor das pacientes, a perda de cabelo, encontra aliados, como lembra Maluf: “Temos hoje mecanismos que conseguem preservar o cabelo em algumas mulheres, dependendo do tipo de quimioterapia”. Além da touca de resfriamento, que em alguns casos previne a queda, há próteses. “A gente vem caminhando em uma Medicina que a missão número um é curar, mas aprendemos que ao longo da estrada precisamos de um trabalho melhor do que fazíamos em amenizar as dores físicas e emocionais; e melhorar a autoestima, que ajuda na aderência ao tratamento”.
Diagnóstico, mamografia e teste genético
Pesquisas indicam que as mulheres que fazem mamografia anualmente a partir dos 40 anos têm menos risco de morte por câncer de mama do que as que começam com 50 anos. Assim é possível diagnosticar precocemente tumores iniciais, elevando as chances de cura a 90% a 95%. “Quando encontramos algo pré-maligno ou maligno que ainda não é perceptível ao toque da mulher, as chances ficam perto de 100%”, comemora Maluf.
Débora conta que a mamografia, além de diagnosticar tumores invasivos, ajuda no diagnóstico de lesões de risco e doença precoce, visualizando alterações não proliferativas na mama. Com isso, explica a oncologista, é possível usar tratamento preventivo para nunca desenvolver o tumor.
Entre os avanços nessa área destacam-se as biópsias líquidas, testes em mulheres que não têm doenças visíveis e verificam se há sinal do tumor no sangue, uma análise de sequência para ver mutação – além de auxiliar na indicação do tratamento, pode ajudar a avaliar se o tratamento está sendo efetivo. A expectativa, para o futuro, é que a biópsia líquida possa substituir a biópsia do tumor para personalizar o tratamento.
Importância de direcionar o melhor tratamento para a paciente
Saber o subtipo do tumor é essencial para definir o melhor tipo de tratamento. “Precisamos, por exemplo, saber se ele é alimentado por hormônio, se é triplo negativo ou é HER2 positivo. Temos tratamentos específicos para cada subtipo”, avisa a oncologista. Acrescenta que o subtipo é importante até para determinar a melhor sequência de tratamento, que nem sempre é começar pela cirurgia – nos subtipos triplo negativo e HER2 a sequência mais comum atualmente é iniciar pelo tratamento sistêmico e operar depois.
Maluf afirma que nos tumores de mama de subtipo triplo negativo e HER 2 a conjunção de remédios tem produzido uma resposta patológica completa – quando opera a mama parcial ou total, não vê mais células vivas, porque o tratamento matou tudo; tem apenas tecido cicatricial. “Para o tratamento de HER2, antes usávamos quimioterapia; hoje utilizamos a quimio com droga que bloqueia o HER2. As taxas de resposta foram crescendo de modo importante; quem tem resposta completa, possui chance de cura que suplanta 80% a 85%. No caso do triplo negativo, chegaram medicamentos que aumentam a taxa de resposta completa em 15%”.
“Se você não faz a melhor sequência, pode comprometer a chance de cura”, avisa Débora.
Para isso entra a atuação do patologista, que vai avaliar o tecido retirado da biópsia da mama, verificar marcadores e classificar o câncer por seu subtipo. A oncologista lembra que os tratamentos estão tão específicos que às vezes vão além do subtipo, usando ainda uma avaliação molecular para saber o tipo de mutação que o tumor adquiriu, porque há medicamentos direcionados às mutações, que atuam de acordo com a alteração molecular.
Quimio oral para melhorar acesso e qualidade de vida
Quando os médicos falam em quimio oral, referem-se a uma gama de medicamentos que não apenas a quimioterapia, mas incluem drogas hormonais e biológicas. Para o câncer de mama há três drogas biológicas aprovadas que são importantes nas doenças metastáticas de tumores que se alimentam de hormônio. Também há para pacientes com HER2 positivo.
Conforme Maluf, as drogas orais atualmente perfazem 70% a 80% dos medicamentos contra câncer. “Por ser modernidade, muitas vezes não há substituto endovenoso”.
O problema, alerta o oncologista, é que muitos medicamentos não estão acessíveis a grande parcela de pacientes por uma questão que precisa de solução – e pela qual o IVOC vem lutando. Quando a Anvisa, órgão que analisa a eficácia e segurança dos medicamentos, aprova uma droga endovenosa, no dia seguinte os pacientes dos planos de saúde já têm acesso a ela. Quando a droga é oral – ainda que seja o mesmo medicamento – precisa passar por uma segunda aprovação, que pode levar de dois anos a três anos e meio antes de entrar para o rol da ANS (Agência Nacional da Saúde) e ser disponibilizado para quem tem convênio médico. “Dessa forma, um remédio que já está aprovado no país é negado pela saúde suplementar (planos de saúde) porque não está no rol”.
Em seu projeto Sim para quimio oral, o Instituto reivindica que os mesmos critérios usados para os medicamentos endovenosos sejam aplicados às drogas orais.
Dúvidas frequentes
Uso de pílula anticoncepcional aumenta chance de desenvolver câncer de mama?
Estudos apontam que os anticoncepcionais causam um discreto aumento do risco, de 10% a 15%, que deve ser levado em conta na conversa com o médico, considerando que os anticoncepcionais passaram por avanços ao longo dos anos, chegando às pílulas de baixa dosagem. Avaliando inclusive opções anticoncepcionais sem hormônio, como alguns tipos de dispositivos intrauterinos (DIUs)
E a reposição hormonal, aumenta o risco?
Os estudos indicam que há um aumento discreto do risco, especialmente quando existe combinação de estrógeno e progesterona em uso prolongado. É preciso balancear com o médico em comparação com os benefícios da reposição em qualidade de vida e diminuição dos efeitos da menopausa, como perda de massa óssea, prevenção cardiovascular, perda da libido, secura vaginal, ressecamento da pele e fogacho. Em números absolutos, o risco é pequeno e passa a ser maior em grupos de risco (com histórico na família de câncer de ovário ou de mama precoce, por exemplo, além de lesões pré-malignas).
Com os avanços da Medicina, o câncer pode virar uma doença crônica?
Os resultados de estudos fazem crer que sim, porque mesmo pacientes que tiveram doença metastática obtêm qualidade de vida boa, tratando há anos, mantendo qualidade de trabalho e cuidado com a família. Especialmente em alguns subtipos é possível vislumbrar a possibilidade de tornar-se uma doença crônica, com medicamentos e avaliação médica por anos.
Os hábitos de vida influenciam?
Sabe-se atualmente que o estilo de vida é bastante importante tanto para prevenção quanto para evitar recidiva. Há comprovações de que a obesidade é fator de risco para desenvolver câncer de mama e recidivar. A indicação é que as pacientes mantenham o peso adequado; façam atividade física – porque o sedentarismo também é fator de risco importante; e tenham alimentação saudável – evitando processados e consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Os efeitos do tratamento são melhores com a prática de atividade física. Na quimioterapia, uma caminhada diária de dez minutos melhora a fadiga e o condicionamento físico.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.