A químio e radioterapia têm como papel fundamental destruir as células cancerosas, impedindo que elas cresçam e se multipliquem. Entretanto, no meio do caminho, o medicamento acaba afetando células sadias, causando assim os efeitos colaterais. Náuseas, vômitos, anemia, fadiga, mucosites e vários outros podem acontecer, mas isso não quer dizer que todos pacientes vão passar pelo problema.
O dr. Felipe Cruz, coordenador de oncologia clínica do centro de pesquisas do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer), explicou as ocorrências mais frequentes e como alguns medicamentos existentes já podem ajudar a aliviar este transtorno. Em outras publicações, já explicamos sobre as queixas dermatológicas mais comuns e também falamos sobre os possíveis efeitos em relação à infertilidade e perda de libido.
Náuseas e vômitos
“A quimioterapia faz com que o nosso organismo pense que está ocorrendo uma invasão, porque as células boas também são agredidas”, explica o médico. Por exemplo, quando as células que atuam no revestimento do estômago são atingidas pelos medicamentos, o nosso cérebro já emite sinais e a primeira providência é tentar expulsar esses agentes tóxicos. Como? Induzindo o paciente a ter náuseas e vomitar. Por isso esse sintoma é tão comum e atinge quase 80% dos pacientes por volta da segunda ou terceira sessão de químio.
Outra forma de o organismo tentar expulsar o agente agressor (na verdade o quimioterápico) é com diarreias. Se o número de evacuações aumentou num período de 24 horas (mais de 4 episódios de evacuação), é importante entrar em contato com o serviço de saúde para avaliar a necessidade de implantar alguma terapia de controle do problema ou de receber fluidos intravenosos para substituir a água e nutrientes perdidos com a diarreia.
Tudo isso, pode ter um impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, já que retira o prazer de beber e de comer e pode diminuir a aderência ao tratamento. “Existem alguns fatores pré-disponentes. Se a pessoa costumava ter muitos enjoos ou se sentia mal durante uma viagem longa de carro, o efeito pode ser agravado durante o tratamento”, explica Felipe.
Atualmente, já é possível controlar esse mal-estar. Os antieméticos são medicamentos utilizados na prevenção e controle desses sintomas. Alguns agem impedindo que as células do estômago enviem sinais ao cérebro, enquanto outros impedem a ação das células receptoras (chamadas de receptores), fazendo com que o cérebro deixe de receber os sinais de vômito. Por isso, é importante conversar com seu médico e ver se você pode tomar esse tipo de remédio.
Mucosite
A mucosite é uma inflamação da parte interna da boca e da garganta semelhante às aftas e que pode levar a úlceras dolorosas e feridas nessas regiões. Tanto a químio como a radio podem ser as causadores deste problema. As células da mucosa da boca são as que se proliferam mais rapidamente, por isso são preferencialmente atacadas pelos quimioterápicos. Isso explica o motivo da grande maioria dos pacientes sofrerem com as aftas, feridas e irritações.
Dessa maneira, é de extrema importância ter uma higiene oral adequada, usar uma escova macia, uma pasta dental menos abrasiva e um enxaguante bucal sem álcool. Além disso, antes de começar a químio/rádio, marque uma consulta com um dentista para ver se não existem lesões pré-existentes que podem se agravar durante o tratamento.
Uma dica importante para aliviar as feridas é fazer bochechos diários com bicarbonato de sódio em água fervida (aplicando à temperatura ambiente). Além disso, mantenha os lábios lubrificados com cremes à base de vaselina ou cacau.
Anemia e fadiga
A anemia é um dos efeitos que merece atenção especial do médico e do paciente. A palidez da pele e a fadiga (cansaço extremo) talvez sejam os sintomas mais óbvios da presença do problema. Ela pode ter várias causas, desde uma perda de sangue decorrente de uma cirurgia para retirar o câncer, ou então advir do próprio tumor, como os de intestino ou endométrio, que ocasionam sangramentos recorrentes e tendem a causar anemia.
Por isso, antes de iniciar o tratamento faz-se uma avaliação inicial por meio hemograma, que pode identificar o problema. O tratamento pode consistir em medicações que ajudam a estimular a produção de glóbulos brancos no organismo, mas em casos extremos e complexos pode ser necessária transfusão sanguínea.
Como a químio atua em todas células que estão se multiplicando e as células produzidas na medula têm um ritmo de multiplicação bem veloz, com o tratamento pode haver diminuição da quantidade de glóbulos vermelhos (anemia) e de glóbulos brancos (risco aumentado de infecções). Quando os exames de sangue mostram alguma alteração na produção das células do sangue, em geral a quimioterapia é suspensa por alguns dias até o organismo se recuperar.
Para tratar a fadiga ocasionada pelo tumor, a dica fundamental é fazer exercícios aeróbicos diários de baixa intensidade, com 30 minutos de duração. Mas certifique-se com seu médico sobre essa possibilidade.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.