Garantir acesso aos medicamentos é uma das lutas da entidade. Evento abordou dificuldades de adesão, cuidados importantes e as vantagens dessas formas de tratamento.
Garantir a aderência ao tratamento e administrar os efeitos colaterais. Esses são dois grandes desafios dos antineoplásicos orais, medicamentos que são usados, entre outras aplicações, no lugar da quimioterapia tradicional. “Muitas vezes, por causa dos efeitos colaterais, o paciente para o tratamento sem conversar com o médico. Quando volta na consulta, avisa: ‘parei’. Se tem efeito colateral, precisar avisar ao médico que não está bem”, diz o oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). A explicação fez parte da declaração do médico durante a abertura do 2º Simpósio de Farmácia Clínica realizado pelo Instituto no dia 17 de setembro. Buzaid também chama atenção para a dificuldade enfrentada para garantir a inserção automática das medicações aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que determina os medicamentos e procedimentos que os planos de saúde devem fornecer aos pacientes. “O remédio é aprovado, mas leva de 2 a 3 anos para o seguro garantir o medicamento aos pacientes. É importante um equilíbrio, a sustentabilidade do sistema, mas o doente tem que ter acesso ao medicamento”, avalia Buzaid.
A melhoria ao acesso para a quimioterapia oral é uma das lutas da entidade. Por isso, Andrea Bento, advogada especialista em Direitos dos Pacientes com Câncer e colaboradora do IVOC, apresentou as ações realizadas durante a campanha Sim para quimio oral, com esse objetivo. Ela lembrou que em 2014, graças à reunião de várias ONGs, os usuários de planos de saúde passaram a ter direito às quimioterapias orais que estavam no rol da ANS. “Todos os medicamentos intravenosos que passam pela análise de eficácia da Anvisa são automaticamente incorporados ao rol, mas os quimioterápicos orais não entram. Por que, se é mais benéfico, mais barato e mais cômodo ao paciente? ”, questiona a advogada. Uma conquista recente da campanha foi o avanço do andamento do Projeto de Lei 10.722/2018, que trata do acesso à quimioterapia oral pelos usuários de planos de saúde, depois que representantes da entidade entregaram documentos ao ministro da saúde. Andrea comenta que o projeto segue agora na Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados e espera logo ter bons resultados.
Adesão e eventos adversos
“Essa classe de medicamentos demanda bastante orientação. Os pacientes perguntam sobre interação medicamentosa, que horas devem tomar, se precisa estar com o estômago cheio”, comenta o farmacêutico Kaléu Mormino Otoni, que participou do debate com o tema Adesão e eventos adversos dos antineoplásicos orais, moderado pelo médico oncologista Fabio Schutz, que teve ainda a participação da nutricionista Mariana Ferrari e da enfermeira Thays Scarpelli. Como o medicamento é administrado em casa pelo próprio paciente ou cuidador, Otoni chama atenção ainda ao fato de que é preciso ter cuidados com o armazenamento.
A nutricionista Mariana lembra que com a quimioterapia oral o contato com a equipe multidisciplinar é menor; por isso o paciente deve sempre avisar quando tiver eventos adversos, como náuseas, vômito, mucosite ou outros, para que o profissional possa agir preventivamente ou o quanto antes. “Assim não prejudica o estado de saúde nutricional do paciente. Até a perda de massa muscular pode influenciar na toxicidade do tratamento”.
Para Thays, o uso de antineoplásicos orais demanda uma maior customização da assistência ao paciente, que leve em conta a complexidade da rede de apoio, capacidade de entendimento, nível socioeconômico, entre outros fatores. “Precisamos acompanhar o paciente de perto, entre os intervalos das consultas, e adaptar o tratamento”.
O oncologista Fabio Schutz explicou que a quimioterapia oral traz uma rede de novos eventos adversos, alguns até diferentes dos da quimioterapia endovenosa. “Vários medicamentos têm reações de pele, feridas nas mãos e nos pés, na boca (mucosite) ”. O médico conta que alguns pacientes têm mais dificuldade para entender a prescrição, detalhes sobre o modo de tomar o medicamento, por isso orienta que voltem à consulta quando recebem o remédio e, de preferência, acompanhado de um parente para um apoio na hora da administração da medicação.
Veja mais informações e orientações, mitos e verdades sobre quimioterapia oral.
Imunoterapia
“A imunoterapia estimula o sistema imunológico do paciente a lutar contra o câncer. Hoje temos aprovados medicamentos para vários tumores”. A explicação do oncologista Fabio Schutz abriu a segunda parte do evento, com o tema Como acompanhar o paciente em tratamento de imunoterapia.
Schutz apresentou várias aplicações da imunoterapia, destacando que esse tipo de medicamento não funciona para todos, mas os organismos dos pacientes que respondem positivamente ao tratamento acabam tendo uma ótima resposta. “É uma resposta profunda e duradoura – esse é o grande entusiasmo”, diz o médico. “De forma cautelosa, arriscamos dizer que alguns estão curados, tamanha a resposta – usando a palavra ‘cura’ com cautela, porque é preciso mais literatura médica. O termo usado é que eles estão em remissão”.
Como a imunoterapia provoca um grande estímulo no sistema imunológico, o corpo pode reconhecer alguns órgãos como ‘estranhos’, provocando efeitos colaterais autoimunes – alguns menos graves, outros mais graves. “Virtuamente, qualquer parte do corpo pode ser afetada, mas os mais comuns são efeitos na pele, na tireoide, diarreia e pneumonite”, afirma o oncologista. Ele avisa que muitos efeitos colaterais são manejáveis e cessam após o tratamento – em alguns casos é preciso, depois do fim do tratamento, um acompanhamento para readaptar o sistema imunológico.
As pesquisas agora, segundo o médico, avançam em busca de identificar os pacientes que terão melhores respostas a esse tipo de tratamento – e quais poderão desenvolver mais efeitos colaterais.
A enfermeira Thays, que também fez uma apresentação sobre o tema, comentou detalhes sobre o papel do sistema imunológico no câncer e destacou o desafio de entender o paciente e a necessidade de um processo de enfermagem contínuo.
“O compromisso do Instituto Vencer o Câncer é levantar essa bandeira, cobrar o governo e os serviços de saúde e levar informações sobre inovações no tratamento aos pacientes. O IVOC segue nesse caminho”, concluiu a diretora do instituto, Neide Rocha.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.