“A curabilidade é acima de 90% na maioria dos casos em que a doença é diagnosticada precocemente”, avisa o oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer, referindo-se ao câncer de próstata, o segundo mais comum entre os homens no Brasil – ficando atrás do câncer de pele não melanoma. A notícia é muito boa para os 68.220 homens que devem ser diagnosticados com a doença, estimativa para 2018 do Instituto Nacional do Câncer (Inca). “Outra boa notícia é que os tratamentos melhoraram”, comenta o oncologista.
Foi justamente graças ao diagnóstico precoce que Antonio Augusto da Mata, 67 anos, pôde acompanhar a melhora nos tratamentos, seguir se cuidando e ter qualidade de vida após mais de 13 anos da descoberta do câncer de próstata, em junho de 2005. Como havia precedente na família – seu pai também teve esse tumor – desde os 37 anos ele se cuida, fazendo exames de rotina a cada seis meses e toque retal anualmente. “Meu pai não morreu disso”, avisa. Um exame de sangue acusou o PSA alterado e um mês depois Mata passou por uma cirurgia.
“Depois de dois anos e meio, o PSA subiu de novo e eu entrei em parafuso. Fiz umas 29 sessões de radioterapia. Eu sofria muito emocionalmente, ficava tenso, angustiado. Tive que tomar ansiolítico”, recorda. Os níveis se equilibraram com medicamentos, mas voltaram a subir em 2010, motivando mudanças na medicação.
Mata continuava realizando exames, que eram acompanhados de tensão e nervosismo. Em 2012, decidiu mudar essa postura. “Eu me perguntei por que estava naquela tensão, já que não levava a nada”, recorda. Em maio de 2014 o PSA aumentou novamente. “Eu me tratei, melhorei e tomei uma decisão mais radical: não pergunto nada. Faço meus exames, mas não retiro os resultados. Quando tiver que dizer alguma coisa, a equipe vai falar comigo. Hoje não tomo mais ansiolítico”. O paciente afirma que continua se cuidando – faz exames e consultas a cada três meses e só quer saber de questões operacionais, mudanças nos medicamentos, que podem melhorar sua qualidade de vida.
Mesmo com alterações no PSA ao longo desse tempo, ele sempre seguiu com a vida normal: trabalha, viaja, passeia. E depois que tomou a atitude de não se preocupar, sente-se cada vez melhor.
Tratamento evoluiu
Quando aborda os avanços no tratamento do câncer de próstata, Maluf cita inclusive a opção de não fazer tratamento e seguir com o protocolo chamado vigilância ativa. “Sabemos que mais ou menos um terço dos pacientes com diagnóstico de doença localizada não precisam ser tratados; podem ser seguidos com segurança através de exames de sangue, imagem, exame físico e depois novas biópsias”.
Para os outros 70% que necessitarão de tratamento, o oncologista avisa que houve evolução tanto na parte cirúrgica quanto na radioterapia. “As cirurgias são feitas hoje com muito mais expertise, delicadeza, com muito mais detalhamento. E a radioterapia, que é um outro modo de tratamento local, também melhorou muito, mais direcionada ao ponto sem afetar tanto os órgãos ao redor, como por exemplo o reto e a bexiga”. Além de melhorar os índices de cura, os avanços permitiram diminuir os efeitos colaterais.
Na área cirúrgica, o cirurgião oncológico Cláudio Quadros, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) explica que as técnicas minimamente invasivas são o que há de mais novo e fazem com que o tratamento cirúrgico seja feito com menos complicações. Ele cita tanto a cirurgia via laparoscopia quanto a robótica. “Temos os mesmos critérios oncológicos, os mesmos resultados, menos sequelas e menos dor. O paciente pode voltar às suas atividades em menos tempo”.
Outra vantagem, segundo o cirurgião, é a possibilidade de fazer uma cirurgia com mais precisão, preservando melhor a enervação em volta da próstata. “Com isso, diminui o risco de incontinência urinária e impotência sexual”. Quadros esclarece que a cirurgia robótica permite movimentos diferenciados, com mais precisão, pela angulação dos braços mecânicos.
O urologista Rafael Coelho, chefe do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo da Universidade de São Paulo (USP) e chefe do departamento de câncer de próstata da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), cita como um dos avanços da radioterapia o hipofracionamento – uma alternativa com número menor de frações, para o paciente fazer um tratamento mais curto. “Classicamente o paciente fazia de 30 a 36 sessões. Agora conseguimos realizar o tratamento com 20 sessões – o paciente precisa ir menos ao hospital”. Ele destaca que os avanços nas pesquisas permitiram maximizar o uso da radioterapia. “É possível graças às melhorias técnicas e estudos que testaram frações menores, conseguindo provar que é seguro o fracionamento”.
As melhorias também chegaram aos casos em que a doença se apresenta em uma fase avançada – de cada 10 pacientes, um ou dois poderão ter a doença avançada. “Esse é um dos tumores que teve mais novas drogas aprovadas. Além dos tratamentos que diminuem a testosterona, que é o alimento dessa célula maligna, temos pelo menos duas drogas novas de hormonioterapia, drogas novas de quimioterapia, drogas radioativas que matam o tumor por radiação feita dentro do corpo e contamos agora com estudo sobre imunoterapia”, relata Maluf. “Hoje, mesmo com a doença muito avançada, conseguimos manter os pacientes bem, com boa qualidade de vida por muito tempo”.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.