Em entrevista ao portal do Instituto Vencer o Câncer, a Dra. Karina Fontão, vice-presidente de Medical Affairs International da Unidade de Oncologia da AstraZeneca, fala sobre o impacto dessa área para o avanço do controle do câncer e para a construção de um sistema de saúde mais inovador e acessível.
A cada avanço no tratamento do câncer, há um elo fundamental por trás: a pesquisa clínica. Essa jornada de transformação conta com a Rede Vencer o Câncer de Pesquisa Clínica, criada pelo Instituto Vencer o Câncer para ampliar o acesso a estudos, fortalecer centros de pesquisa em diferentes regiões do país e levar informação de qualidade a pacientes e profissionais de saúde.
A iniciativa conecta especialistas, hospitais e organizações, favorecendo diagnósticos mais rápidos, tratamentos inovadores e uma participação mais diversa da população brasileira em estudos globais. O objetivo é oferecer mais oportunidades para pacientes, impulsionar a inovação em saúde e posicionar o Brasil como protagonista no cenário internacional de estudos clínicos.
A farmacêutica AstraZeneca é uma das apoiadoras da Rede. Com faturamento global de cerca de US$ 54 bilhões por ano, a AstraZeneca destina aproximadamente 25% dessa receita à pesquisa e inovação, para o desenvolvimento de novas terapias e tecnologias de saúde. Leia, abaixo, a entrevista com a Dra. Karina Fontão.


IVOC – Dra. Karina, como você avalia o ciclo virtuoso da inovação em saúde e o valor que a pesquisa clínica, especialmente para o câncer, gera para o sistema, para os pacientes e para a sociedade?
Karina Fontão – O investimento em pesquisa clínica é fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias para atender pacientes. Especificamente no câncer, a maior parte, ou praticamente todos os avanços, vêm de pesquisa clínica.
Você precisa sempre descobrir se esse novo medicamento é melhor do que o que existe atualmente. E isso só é possível por meio de estudos, que são desenhados de forma bastante ética, com comitês especializados e aprovação de órgãos regulatórios no Brasil e no mundo, incluindo comissões de ética em pesquisa. É tudo muito bem estruturado.
É importante que os pacientes entendam que participar de pesquisa clínica é bom para eles, para o sistema de saúde, para quem desenha diretrizes de tratamento e para a comunidade médica, que pode promover o avanço das tecnologias e o acesso a elas.
As parcerias da AstraZeneca com o Instituto Vencer o Câncer vão desde a educação e divulgação para pacientes sobre o quanto participar de estudos é importante, até o desenvolvimento de centros de pesquisa fora do eixo Rio–São Paulo–Porto Alegre.
O Instituto está construindo centros pelo Brasil, incluindo estados como Rondônia, Norte e Nordeste, e a AstraZeneca apoia e fomenta esse trabalho. É interessante para o país e para a indústria farmacêutica ter diversidade populacional nos estudos. É uma forma de colaboração onde todos se beneficiam.
IVOC – Existem gargalos que ainda limitam a expansão da pesquisa clínica no Brasil? O que seria necessário para destravar esse potencial?
Eu acompanho esse tema há mais de 25 anos, desde que comecei a trabalhar na indústria farmacêutica. Sou pneumopediatra de formação, mas trabalhei muito mais com pesquisa no setor privado do que na época de faculdade ou residência.
Pude acompanhar a evolução de um país que praticamente não estava no radar para um dos principais em número de pacientes em estudos clínicos. Melhoramos infraestrutura, qualidade das instituições, capacidade de publicação científica e rede de médicos, tudo isso aliado a um avanço importante no ambiente regulatório.
IVOC – Você acredita que agora estamos seguindo um caminho mais seguro e promissor nesse investimento no país?
Hoje, o tempo para aprovação de um estudo é bastante ágil e competitivo em relação a outros países. Digo “competitivo” porque, em um estudo global com, por exemplo, mil pacientes, se o Brasil começa depois, conseguimos incluir poucos participantes.
Se começamos junto com Estados Unidos e Europa, temos um ritmo de inclusão mais equilibrado. Há alguns anos, estávamos atrás e não figurávamos entre os países mais rápidos na aprovação. Agora, conseguimos aprovar em poucos meses, e isso fortalece meu argumento como indústria para pedir mais estudos para o Brasil.
Quando a aprovação levava anos, era difícil convencer. Hoje, como embaixadora do Brasil nas empresas em que trabalhei, tenho um argumento consistente, baseado em dados práticos.
O ambiente atual é muito favorável. O Brasil é extremamente atrativo para estudos clínicos, temos médicos excelentes, centros bem desenvolvidos e estamos em um momento bastante positivo.