Um estudo feito e divulgado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostra que o câncer foi a segunda causa de morte em adolescentes e jovens adultos de 15 a 29 anos, entre 2009 e 2013, ficando atrás apenas de “causas externas”, como acidentes e mortes violentas. Se considerarmos somente as doenças, o câncer é a principal causa de morte nesta faixa etária. O Inca também divulgou dados sobre a incidência: os carcinomas do trato geniturinário (aparelhos genital e urinário) atingiram 41,28 por milhão de mulheres entre 15 e 29 anos. O tumor de colo de útero é o principal deles. E entre as mulheres de 25 a 29 anos, esse tumor foi a principal causa de morte por câncer.
“Apesar de uma incidência baixa nessa faixa etária (de 15 a 29 anos), diferentes estudos apontam uma maior agressividade ou um prognóstico mais complexo para o carcinoma de colo uterino em mulheres jovens. Acredita-se que a exposição precoce a mais de um tipo de papilomavírus humano (HPV) e a provável elevada prevalência do vírus em população mais jovem estejam associados ao surgimento precoce do câncer de colo uterino”, afirma o oncologista clínico e diretor da Unidade hospitalar do INCA destinada à ginecologia oncológica, Paulo Mora.
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Para o oncologista e um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer Fernando Maluf, o aparecimento desse tipo de tumor nesse grupo de mulheres está ligado à falta de prevenção. “Isso pode indicar que as mulheres nessa idade estão deixando de fazer a prevenção com a vacina (contra o HPV), deixando de fazer os exames ginecológicos preventivos como o Papanicolaou e, eventualmente, podem estar tendo hábitos que as coloquem em maior risco como a relação sexual sem camisinha e a má higiene que também são fatores de risco para o câncer de colo de útero”, afirma.
O câncer de colo de útero está relacionado principalmente à infecção por HPV (papilomavírus humano). Há mais de 150 subtipos dele e alguns, como o HPV-16 e o HPV-18, aumentam o risco de desenvolvimento da doença. A transmissão é feita principalmente na relação sexual. “Quando alguém tem o câncer de colo de útero aos 30 anos é porque teve em 95% das vezes a presença do HPV habitando aquele colo do útero por 10 a 15 anos antes e ele foi causando alterações que levaram a lesões pré-malignas e depois malignas. Ou seja, é potencialmente é muito prevenível porque tem história natural muito longa até se transformar no tumor”, explica Fernando Maluf.
A prevenção deve ser feita com a vacina contra o HPV e uso de preservativo na relação sexual. A imunização de meninas de 9 a 14 anos e a de meninos de 12 a 13 anos pode ser feita gratuitamente nos postos de saúde. “É justamente em adolescentes e mulheres jovens o maior risco de ter o primeiro contato com o HPV e desenvolver a infecção crônica que pode levar ao câncer de colo uterino. Acredita-se que isso acontece pelo amadurecimento do sistema imunológico que evolui e se consolida nessa faixa etária. Daí a necessidade de vacinação de meninas antes de um provável primeiro contato com o vírus. A vacinação de meninos, além de prevenir as neoplasias relacionadas ao HPV em homens, como câncer de pênis, canal anal e cavidade oral, também reduz a prevalência do vírus na comunidade, diminuindo o risco global de contaminação”, acrescenta o oncologista Paulo Mora.
Além disso, é fundamental que as mulheres façam periodicamente o Papanicolaou que pode detectar lesões precocemente. O Ministério da Saúde recomenda que o exame seja feito a partir dos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual. Os dois primeiros exames devem ser feitos com intervalo anual e se em ambos os resultados forem negativos, ele deve ser realizado a cada 3 anos. O Papanicolaou deve ser feito até os 64 anos de idade.
O câncer de colo do útero é o terceiro mais frequente nas mulheres. No ano passado, foram 16.340 novos casos no Brasil, de acordo com INCA.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.