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Ajuda que faz a diferença

História da Amanda, que teve ajuda no tratamento

Instituto Vencer o Câncer traz histórias inspiradoras de pacientes no mês do Dia Mundial do Câncer

 

Em 2013, Amanda Vieira sentiu uma bolinha entre o pescoço e a clavícula, que não doía nem diminuía de tamanho. No ultrassom a profissional disse que era um cisto e ela não foi atrás para saber do que se tratava. Depois sentiu dor de garganta sem estar com inflamação e voltou ao médico quando começou a sentir dor no tórax, no final da respiração. “Eu tinha sintomas, mas fiquei postergando para ver o que era. Em 2014 tive diagnóstico de Linfoma de Hodgkin e comecei a fazer quimioterapia. Congelei óvulos porque a médica avisou que talvez eu não pudesse engravidar depois”.

Ela tinha 24 anos, havia acabado de se formar em engenharia de produção, estava trabalhando e precisou se afastar por três meses para fazer tratamento. Depois da quimioterapia, fez radioterapia e entrou em remissão. Na época não conhecia outras pessoas que faziam esse tratamento, nem alguém jovem como ela que tivesse o mesmo diagnóstico. Por isso ficou surpresa quando uma amiga postou mostrando que estava cortando o cabelo em homenagem a uma amiga com câncer. Amanda decidiu chamá-la e descobriu que a paciente era da sua idade, também tinha linfoma e já havia começado a quimioterapia. “Ela me passou o contato da Carla. Eu ainda ia começar o tratamento e falar com ela, que estava um pouco à frente, ajudou muito. Nós nos chamávamos de amiga de cateter, porque tínhamos colocado cateter para fazer a quimioterapia. Acabamos virando amigas”.

Quando o cabelo de Amanda começou a cair, em um encontro com Carla, que estava careca, sentiu vontade de raspar a cabeça. “Teve uma vez que a gente se viu e o cabelo dela estava crescendo. Então pensei que pelo tempo que ela raspou a cabeça, se eu fizesse isso logo, o cabelo iria crescer e eu poderia voltar a trabalhar com o cabelo já grandinho”. Foi o impulso que precisava para raspar o cabelo.

“Nos encontramos novamente, ela queria fazer foto da minha careca, quando eu mostrei, a Carla perguntou: ‘Cadê sua careca? Seu cabelo está crescendo, você não vai mais usar o lenço’. Parei de usar o lenço”, sorri, lembrando da importância dos incentivos da amiga. “Tudo que ela mandava fazer, eu fazia”.

Amanda considera que o primeiro tratamento acabou sendo mais tranquilo do que imaginava, apesar dos efeitos colaterais. “Arrumei outra coisa para fazer no tempo em que estava bem, comecei a vender cosméticos. Participava das reuniões, ia para a radioterapia e voltava para outra reunião”.

Terminado o tratamento, a médica recomendou que ela esperasse cerca de três anos para tentar usar os óvulos, para ver se a doença não voltaria. Ela voltou a trabalhar em janeiro de 2015 e no final do mês engravidou. “Ainda não tinha feito o último exame para saber se estava zerado e não pude fazer porque estava grávida. Levei bronca da médica, ela disse que o bebê poderia nascer com problema porque eu tinha feito radioterapia, mas no final deu tudo certo”, comemora, lembrando que a gravidez foi tranquila, trabalhou até o nascimento do filho, que foi em outubro.

Seis meses depois, quando ia retornar da licença maternidade, um novo exame apontou uma mancha embaixo da costela, no lado esquerdo, e a biópsia indicou uma recidiva. Depois de um mês e meio de trabalho precisou tirar outra licença para um novo tratamento em que precisava ficar alguns dias internada para tomar medicação.

Entrou novamente em remissão e em novembro de 2016 fez transplante com a própria medula. “O mais difícil era ficar longe do meu filho. Ao mesmo tempo, como ele estava em casa com minha mãe, ela não estava sofrendo comigo, porque se dedicava a cuidar dele. Por isso digo que tudo faz sentido, até ter engravidado naquele momento, porque depois do transplante ficaria mais difícil”.

Um novo exame indicou que a mancha continuava, Amanda precisou se tratar com imunoterapia e no final de 2017 sentiu um nódulo na mama direita: a biópsia confirmou linfoma e o médico encaminhou para transplante alogênico, com doador. Como uma irmã apontou compatibilidade, fez o transplante em janeiro de 2018.

“Saí empolgada, parecia que nem tinha feito transplante. Estava marcando reuniões. Três meses depois comecei a precisar internar direto, tinha febre, ficava 15 dias no hospital em tratamento e voltava para casa. Internei 11 vezes em um ano. Dei uma desanimada total, tinha feito vários planos. Não queria mais fazer planos”. O transplante deu reação no pulmão, no fígado e na pele – essa última ficou crônica e ainda demanda tratamento.

Um ano após o transplante Amanda teve outra recidiva, voltou a fazer quimioterapia. Nesse período conheceu o Movimento Todos Juntos contra o Câncer. “Até então eu não era muito ligada nas coisas que aconteciam no mundo oncológico. Eu encontrava amigas no hospital que me contavam o que estava acontecendo, me explicavam e me chamavam para ir; muitas vezes eu não podia por causa das internações”. Assim que diminuiu o ritmo do tratamento, começou a frequentar os grupos de pacientes, ia em todas as reuniões e se sentiu novamente animada. Passou a ajudar também outras pacientes, a compartilhar a experiência de tantos tratamentos, a fazer parte do comitê da Abrale.

Ficou quase dois anos sem precisar se tratar. Depois de uma nova recidiva, a quinta, fez tratamento e terminou a quimioterapia em novembro de 2021. Segue fazendo acompanhamento e ajudando pacientes que lhe procuram para buscar esperança. “Eu me sinto útil de alguma forma. A gente fica só indo de casa para o hospital, do hospital para casa. Participando das atividades me reanimei, voltei a ter vontade de fazer coisas, fazer planos. Hoje dou apoio a outros pacientes, faço acolhimento. Quando a pessoa recebe o diagnóstico não sabe o que será dali para a frente, se terá vida normal. É importante ver quem passou pelo mesmo que ela, conseguindo fazer o tratamento e apesar de tudo estamos aqui, estamos bem, levando a vida da melhor forma que podemos”.

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