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Como está seu check-up? Dê atenção a ele, porque pode ajudar a salvar sua vida

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Texto por Viviane Pereira

Quando o assunto é câncer – assim como tantas outras doenças –, a primeira prioridade é a prevenção, quando é possível, porque nem todos os tumores são preveníveis. A segunda prioridade é descobrir logo – o que os médicos chamam de diagnóstico precoce. Você já deve ter ouvido falar sobre ele, mas sabe por que os profissionais de saúde o consideram tão importante? 

Porque ele pode ajudar a salvar vidas! 

A descoberta do tumor precocemente faz toda a diferença para ter mais opções de tratamento, no seu resultado e em qualidade de vida depois. E a principal ferramenta para garantir o diagnóstico precoce é o check-up, com consultas periódicas e exames que podem até descobrir um sinal antes mesmo de existir o câncer – é o chamado screening ou rastreamento

“O rastreamento caracteriza-se pela aplicação de testes em pessoas assintomáticas, em uma população-alvo definida, com o objetivo de reduzir a morbimortalidade atribuída a uma doença específica” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020; ZONTAR et al., 2017)

Para as mulheres: mamografia e Papanicolau

Juliana Pimenta afirma que considerando a parte oncológica, os principais check-ups são a mamografia, para o câncer de mama, e o Papanicolau, para o câncer de colo de útero. Em relação a esse último, faz questão de lembrar de uma ação de prevenção primordial: a vacinação. “A vacina contra o HPV diminui bastante a chance de a pessoa ter um dos cânceres associados a esse vírus – o principal deles é o câncer de colo de útero –, por isso tem importante impacto na redução desse tumor”. Saiba mais sobre o tema com a campanha Unidos pela Vacina HPV e Prevenção do Câncer, realizada pelo Instituto Vencer o Câncer e o Grupo Mulheres do Brasil.

Papanicolau

Câncer de colo de útero: deve ser feito a partir do início da vida sexualmente ativa, e em especial a partir dos 20 anos – a recomendação oficial é 24 anos.

Mamografia

Câncer de mama: apesar da maior parte dos guidelines recomendar fazer a partir dos 50 anos, no serviço privado é comum o ginecologista indicar a partir dos 40 anos. “Nessa faixa a mulher deve começar a fazer mamografia, além de seguir as orientações para conhecer o próprio corpo e, se notar alguma coisa diferente, procurar o ginecologista”, diz a oncologista.

“O screening muitas vezes nos permite fazer um diagnóstico de lesões que potencialmente podem virar um câncer e interrompemos esse processo através de algum procedimento”, pondera Fabio Rodrigues. O mastologista explica que a indicação de periodicidade para realização de mamografia muda de acordo com a sociedade pela qual o médico irá se guiar. 

“A Sociedade Brasileira de Mastologia orienta anualmente a partir dos 40 anos. O Ministério da saúde preconiza a partir de 50 anos e bianual. Existe um debate mundial sobre a periodicidade, porque há trabalhos demonstrando que eventualmente a realização bianual não é inferior à anual”, informa. “Mas quando avaliamos de forma mais apurada, são situações em que a paciente tem mais acesso, sendo examinada pelo médico, que consegue identificar melhor as pacientes com maior fator de risco para câncer de mama. Por isso a recomendação geral é de mamografia a partir de 40 anos de forma anual”.O seguimento com exames pode começar ainda antes quando há fatores de risco.

O seguimento com exames pode começar ainda antes quando há fatores de risco.

Fatores de risco do Câncer de Mama

>> Histórico familiar, com parentes de primeiro e segundo grau com câncer de mama
>> Diagnóstico de mutações que aumentam risco para desenvolver esse tumor.

O mastologista Fabio Rodrigues afirma que pacientes com fatores de risco devem ter um seguimento individualizado, exemplificando: “se a mãe teve câncer com 40 anos, a paciente com esse antecedente começa a fazer screening dez anos antes da idade em que o tumor apareceu na mãe dela, no caso do exemplo, seria com 30 anos”.

Ultrassom de mamas é método complementar

O ultrassom de mama, pondera Fábio Rodrigues, não é um método de screening, mas um exame complementar, em pacientes que às vezes não é possível ter uma boa visualização na mamografia. “Mas a mamografia continua sendo importante, porque algumas lesões pré-malignas só se manifestam em imagens mamográficas”.

O exame clínico de palpação da mama também é fundamental para detectar alterações na mama, na pele, secreção que esteja sendo eliminada pelo bico. 

“Com o screening conseguimos reduzir a mortalidade, fazendo o tratamento cada vez mais precoce, descobrindo o câncer nos estadiamentos iniciais, o que garante um desfecho oncológico melhor. O paciente vive mais, a intervenção é menos agressiva, e a mulher não precisa ficar muito tempo fora das suas atividades”. E Fábio Rodrigues complementa seu recado para as mulheres: “Não precisa esperar outubro, não se deve adiar uma avaliação de saúde. Todo mês é rosa, todo momento é adequado para fazer seus exames

Juliana Pimenta ressalta que é fundamental a mulher estar atenta para cuidar da sua saúde de forma geral e visitar periodicamente seu ginecologista, que faz uma avaliação global da saúde ginecológica. 

Destaca ainda um tumor que merece especial atenção: o câncer de endométrio. “A maior parte dos cânceres não tem aumentado a incidência; ou está diminuindo ou estável. Mas o câncer de endométrio está aumentando e para ele não temos check-up efetivo”, avisa, lembrando que um dos potenciais motivos para esse fato é o aumento da obesidade na população. Para descobrir o câncer de endométrio precocemente a mulher deve estar atenta e procurar o médico em caso de algum alerta, como sangramento vaginal anormal.

Para os homens: autoexame dos testículos, exame de toque e PSA

Marcelo Wroclawski explica que as recomendações de check-up variam de acordo com a idade. “Para os meninos, que estão entrando na adolescência, uma das recomendações é o autoexame dos testículos. Assim como a mulher faz autoexame da mama, o adulto jovem precisa examinar periodicamente o testículo, porque o câncer de testículo é a neoplasia maligna mais prevalente nessa faixa etária de todas, não só das neoplasias urológicas”.

Por isso, acrescenta, quando a criança está entrando na adolescência deve ter consulta com urologista, que irá examinar e ensinar a fazer o autoexame. “Nessa idade o jovem está começando suas experiências sexuais e é interessante falar sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e gravidez”.

Exame de toque e PSA

Câncer de próstata:

indicado para homens a partir dos 45 anos, mas quando há algum fator de risco para esse tumor, o recomendado é começar aos 40 anos. 

Fatores de risco:

>> Herança familiar – homens com parentes de primeiro grau que tiveram câncer de próstata têm cerca de duas a três vezes mais chance de ter câncer de próstata mais agressivo.

>> Os homens negros têm mais chance de ter câncer de próstata de maneira mais precoce e possuem risco maior de câncer de próstata mais agressivo.

Há variações de indicação de periodicidade para realizar os exames. “Alguns estudos indicam de dois em dois anos, outros de quatro em quatro anos. Vai depender dos fatores de risco e do exame anterior. Via de regra recomendamos que os homens procurem o urologista anualmente”, conta Marcelo Wroclawski.

Por que devo fazer esses exames?

O urologista explica, em números, a diferença que realizar os exames pode fazer na saúde do homem, considerando que eles ajudam a diagnosticar o câncer de próstata precocemente, antes que o tumor se espalhe para outros órgãos.

  • Nos tumores localizados, ou seja, aqueles que estão restritos à glândula prostática, a sobrevida em 5 anos é maior do que 99%.
  • Quando a doença é avançada, já metastática – saiu da próstata para outros locais – a sobrevida em 5 anos é por volta dos 30%. 

“Eu diria que a importância não é só em sobrevida, mas também em qualidade de vida. Porque quanto mais cedo identificamos a doença, conseguimos escolher melhor o tratamento, que algumas vezes sequer envolve cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou hormonioterapia. Em alguns casos propomos o que chamamos de vigilância ativa, um protocolo de seguimento que envolve diversos exames para acompanhar tumores que são considerados de baixo risco, preservar a qualidade de vida sem ter prejuízo na chance de cura”, informa. 

“Mesmo quando precisamos indicar algum tratamento, que pode ser cirurgia ou outras opções – hoje temos, por exemplo, terapias ablativas que tratam só a lesão -, com um diagnóstico precoce podemos optar por um tratamento com maior chance de preservar a ereção e a continência”.

O especialista chama atenção ao fato de os exames serem ainda mais importantes porque o câncer de próstata é uma doença silenciosa – os sintomas aparecem quando a doença já está muito avançada. “O câncer de próstata não causa dificuldade para urinar, sangramento na urina, ardência, jato fraco, nada disso. Quem causa isso é o crescimento benigno da próstata, que não frequentemente acontece concomitante ao câncer de próstata”, diz. 

“O câncer de próstata é assintomático. Temos que correr na frente e achar a doença enquanto ela ainda não dá sintomas. Porque se ela vier a dar sintomas, isso é um sinal de que a doença provavelmente é mais avançada. Nesse caso, esquecemos de todos aqueles benefícios que falamos”.

O INCA, no entanto, não indica realização de exames de rotina com finalidade diagnóstica e recomenda que esta decisão seja compartilhada entre médico e paciente.

A ressonância magnética é uma boa novidade para os homens

O urologista destaca essa importante novidade que talvez em breve seja incorporada aos exames de diagnóstico de câncer de próstata. “Já está cada vez mais disponível, embora ainda não amplamente disponível, a ressonância magnética multiparamétrica, que é focada na próstata. Ela consegue demonstrar o risco de estarmos diante de uma doença clinicamente significativa, um câncer, com potencial de agressividade maior”.

Com essa informação é possível selecionar os pacientes que realmente precisarão de biópsia, além de guiar melhor a biópsia. “Antes mapeávamos a próstata e tirávamos um fragmento de cada lugar, de forma randômica. Com a ressonância podemos fazer biópsia de regiões alvo, apesar de ainda ser de forma randômica, com maior acurácia e melhor taxa de detecção do tumor”.

O melhor, avisa, é que já existem estudos demonstrando que essas novas tecnologias são, em boa parte, custo-efetivas, ou seja, é possível demonstrar aos gestores que a médio e longo prazo o investimento promove economia de recursos, trazendo melhores resultados.

“Nós buscamos o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Infelizmente não há como prevenir, mas sabemos o que pode ajudar a evitar: dieta balanceada, não muito calórica nem muito rica em gordura animal, com substâncias antioxidantes, rica em frutas, legumes. Sabemos que algumas substâncias podem ajudar, como o licopeno, que está presente na casa do tomate, e o chá verde – há alguns trabalhos, principalmente chineses, que embora envolvam uma quantidade grande de chá verde difícil de atingir, indicam que pode ser benéfico. Fazer exercício físico e não fumar também”. 

O que é importante para homens e mulheres

Colonoscopia e sangue oculto nas fezes

Juliana Pimenta lembra da importância desses exames que para prevenção e detecção de câncer de intestino – indicado para homens e mulheres a partir dos 50 anos.

A colonoscopia atua de forma preventiva: permite fazer diagnóstico de pólipos, que podem ser retirados/ressecados, evitando câncer de intestino no futuro. Como o exame exige sedação e oferece alguns riscos – embora baixos – em casos em que não é recomendado, pode-se fazer exame de sangue oculto nas fezes – mas ele só serve para avaliar quando já há tumor, diferente da colonoscopia, que é preventiva.

Exames cardiológicos

Apesar de não serem oncológicos, Juliana Pimenta ressalta a importância do monitoramento cardíaco, com acompanhamento do cardiologista e realização de exames para acompanhar pressão alta, diabetes etc.

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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