Crônicas de Outubro – Na sala de aula, aprendendo a voltar a sonhar 

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Ana Maura sentia-se confiante quando atravessou a porta da sala de aula. Estava animada para sua primeira aula no curso de Psicologia, no dia 8 de setembro de 2025.

Elegante, com calça e blusa brancas e uma camiseta preta por dentro, caminhou até uma das cadeiras e se sentou. Sentiu como se tudo ao redor se movesse em câmera lenta. Talvez pela emoção de estar ali; talvez pela vontade de aproveitar cada segundo. Provavelmente um pouco de tudo isso.

Aquela data marcava muito mais do que o início de uma segunda graduação — um sonho antigo. O primeiro dia de aula foi, na verdade, a concretização de algo mais profundo: o resgate da capacidade de sonhar.

Por muito tempo, ela acreditou que isso não seria mais possível depois do diagnóstico de câncer de mama, em maio de 2023. Tinha medo de fazer planos. E, principalmente, de se comprometer com algo que levasse tanto tempo para se realizar. “Eu posso sonhar”, disse a si mesma, ao decidir enfrentar o medo e voltar a olhar para o futuro.

“Durante o processo, fiquei com medo de sonhar; tinha medo de fazer planos — ainda mais um curso que dura cinco anos. Durante o tratamento era algo que eu não sabia se iria viver para viver. Venci o medo e voltei à sala de aula. Hoje, aos 40 anos, fazer uma graduação me mostra que eu consegui resgatar meus sonhos.”

O dia em que tudo mudou de lugar

Naquela tarde de sábado, em maio de 2023, Ana Maura Matos dormia sem imaginar o que o futuro lhe reservava. Ao acordar, colocou a mão na mama e sentiu um nódulo.

Na hora, pressentiu o que viria. A mãe estava em tratamento de um câncer de mama, e ela a acompanhava nas consultas. “Quando fiz meu ultrassom e vi lá BI-RADS 4, já tinha noção do que significava.”

Os exames complementares confirmaram a suspeita: havia câncer também na outra mama. O tratamento, que seria uma quadrantectomia, passou a ser uma mastectomia bilateral. O oncogeneticista levantou a hipótese de uma mutação genética — o que foi confirmado e levou a uma nova etapa, incluindo a ooforectomia (retirada dos ovários).

Foram 16 sessões de quimioterapia — 12 brancas e 4 vermelhas — seguidas da cirurgia com reconstrução mamária imediata. Depois, uma histerectomia e, por último, a ooforectomia, realizada no ano passado. Hoje, Ana segue em acompanhamento a cada quatro meses.

Quando a cura ganha outro sentido

Ao concluir o tratamento, precisou lidar com uma das maiores frustrações do processo: a ausência de garantias.

“O médico me disse que nem ele, nem qualquer outro, poderia afirmar que isso nunca mais vai acontecer. Quando fazemos todo o tratamento, tudo que queremos ouvir ao final é: acabou, você se curou, não tem mais risco. Mas sabemos que nenhum médico pode dizer isso. Só pode dizer que, naquele momento, está tudo bem.”

Diante dessa realidade, Ana precisou ressignificar o conceito de cura. 

“Cura, para mim, é acordar todos os dias e não sentir dores. É ver meus exames normais. Hoje entendo que a cura é uma vitória diária.”

Texto de Vivi Griffon

Publicação: 24/10/2025 | Atualização: 24/10/2025

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