Foi por acaso que Maria José Madi, 58 anos, descobriu que estava com câncer de rim. Ela ia operar a vesícula biliar e o médico pediu um ultrassom de rotina que acabou detectando um tumor no rim direito. Após exames complementares, recebeu o diagnóstico de câncer e três dias depois foi internada para fazer a cirurgia de retirada do órgão. Quatro anos mais tarde, descobriu metástase no pulmão e hoje segue fazendo tratamento. “Não me entrego. Mas tive momentos que questionei o porquê disso tudo. Fiquei deprimida, não queria mais me cuidar, não queria mais sair. Demorei muito tempo para entender que agora é que eu tenho que aproveitar minha vida. Então aproveito cada minuto”, afirma.
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Assim como aconteceu com Maria José, o câncer de rim é, geralmente, descoberto por acaso, quando a pessoa procura o médico por outros motivos. Por ser uma doença silenciosa, o diagnóstico é mais difícil. E a desinformação e a falta de atenção com eventuais sinais acabam retardando a descoberta. “Quando você tem uma pedra no rim você vai urologista. Mas, no caso do câncer de rim, boa parte que vem com a doença pra gente foi primeiro ao ginecologista no caso da mulher ou descobriu por acaso. O mais difícil é que às vezes se ‘come uma mosca’ nesse trajeto pelo não especialista. Então qualquer suspeita que aparecer no exame tem que ser encaminhada para o urologista”, enfatizou Romolo Guida, da Sociedade Brasileira de Urologia, durante o simpósio “A jornada do paciente com câncer de rim”, promovido p elo Instituto Oncoguia.
As pessoas também precisam ficar atentas a alterações no organismo. Na maioria dos casos de câncer de rim não há sintomas, mas sinais como sangramento na urina não podem ser ignorados. “Quando o sangramento existe, ele precisa ser investigado porque pode ser indício de câncer ou de outras doenças. Eu já atendi paciente que teve sangramento na urina e não deu atenção, não procurou logo um médico e depois de 6 meses descobriu que era um tumor de rim avançado”, diz o oncologista Fábio Schutz, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. Aumento do volume abdominal e dor abdominal podem ser outros sintomas da doença.
Se informar sobre câncer de rim também é importante para reconhecer sinais e saber qual especialista procurar, onde fazer o tratamento, quais os direitos do paciente. “Eu não sabia de nada da doença até saber que eu estava com câncer. Agora participo de campanhas e palestras. É uma forma de ajudar”, diz a paciente Maria José. As organizações não-governamentais têm papel fundamental na disseminação de informação. A “Kidney International Cancer Coalition” (IKCC), por exemplo, é uma rede internacional que trabalha dividindo experiências e trocando informações no mundo todo. Para isso, criou o Dia Mundial do Câncer de Rim (21/06) e propõe que as pessoas se questionem e busquem respostas sobre a doença.
O câncer de rim é mais comum em pessoas com mais de 60 anos e é mais frequente no homem do que na mulher. O tabagismo é o principal fator de risco para o aparecimento da doença. A obesidade, a hipertensão e a história familiar também aumentam as chances de desenvolvimento do tumor. Ter hábitos saudáveis, como a prática regular de exercícios, dieta adequada e não fumar, é a melhor forma de prevenção.
Quando a doença está localizada, em estágios iniciais, a cirurgia é considerada curativa. “Cada caso é um caso, mas sempre que puder poupar o rim, a gente vai poupar. Há casos em que a cirurgia pode ser parcial, apenas na região do nódulo. Mas isso vai depender de alguns fatores como onde está o tumor e o tamanho”, explica o oncologista Fábio Schutz.
Tratamento da doença metastática evoluiu nos últimos anos
Quando o câncer de rim está avançado, o paciente pode apresentar metástases nos ossos, pulmão e outros órgãos. O tratamento nesses casos evoluiu nos últimos anos. A imunoterapia tem proporcionado bons resultados. No Brasil, ela está aprovada para a segunda linha de tratamento, quando a terapia alvo falhou. “Provavelmente isso deve mudar porque nos Estados Unidos já foi aprovada a combinação de ipilimumab e nivolumab (imunoterápicos) na primeira linha de tratamento porque estudos mostraram aumento da sobrevida global. Então, a expectativa é de aprovação de medicamentos de imunoterapia para primeira linha de tratamento aqui também”, afirma o oncologista Fábio Schutz.
No Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, a ASCO 2018, foi apresentado um importante estudo sobre a nefrectomia citorredutora (cirurgia para retirada de rim) em pacientes que têm a doença metastática. Até então, acreditava-se que mesmo tendo metástase era importante a retirada do tumor primário do rim para aumentar a sobrevida do paciente. No entanto, pesquisadores avaliaram nesse estudo que a cirurgia não é necessária para aumentar a sobrevida.
Foram comparados pacientes que foram tratados apenas com sunitinibe, que é uma terapia alvo, com aqueles que fizeram cirurgia para retirada de rim seguida de sunitinibe. Os pesquisadores concluíram que fazer somente a terapia alvo não provocou resultados inferiores ao procedimento convencional. “Isso muda aquele conceito que tínhamos de que era necessária a nefrectomia para aumentar a sobrevida global desses pacientes. A gente vai fazer a cirurgia agora somente quando o paciente tiver algum sintoma forte relacionado ao tumor do rim, como dor e sangramento”, diz o oncologista.
Para o paciente isso é importante porque ele poderá ser poupado dos riscos do procedimento. “Também posso poupar parte da função renal do paciente porque se eu tiro um rim, ele perde parte da função renal”, acrescenta Fábio Schutz.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.