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Doação de sangue: o valor da substância preciosa que salva vidas

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Há uma substância muito preciosa, que salva vidas e apesar de todo seu valor, não custa nada: o sangue. “O sangue não é um produto fabricado, que temos na prateleira, mas que obtemos através de doações. É um produto finito e por isso precisamos de conscientização para ter em quantidade e poder armazenar”, alerta Breno Moreno de Gusmão, do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer, onco-hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e da Oncoclínica, no Distrito Federal.

Os benefícios que a doação de sangue garante podem ser confirmados pelos pacientes e familiares, como Mara Rubia Marques Arquaz, filha de Maria Aparecida Silva Marques, que em 3 de abril de 2019 foi diagnosticada com leucemia e passou por algumas transfusões de sangue nesse período. “Foi uma benção todas as vezes que ela conseguiu transfundir, porque dava muita qualidade de vida para ela. Quando chegava do hospital após a transfusão a gente via que ela recuperava a força nas pernas, a disposição para fazer as coisas, porque ela é muito independente. Minha mãe é muito guerreira”, comenta Mara, com orgulho da mãe de 79 anos que aos 51 começou a ter problemas de saúde. “Mamãe sempre foi muito forte, até o meu pai falecer. Depois disso, começou a apresentar problemas. O primeiro sério foi um infarto e ela fez cirurgia de carótida”, diz, recordando que nesse período a paciente também precisou de transfusão de sangue. Vieram algumas complicações posteriores, o que levaram Maria Aparecida a precisar colocar vários stents.

Quando ela teve problemas de saúde em 2019 e estava debilitada, os médicos encontraram alterações no sangue, como número alto de plaquetas, levando a um exame de medula, que confirmou o diagnóstico de leucemia. Mara lembra que ela passou um período em que ficou bastante frágil, precisou de diversos ajustes na medicação e de transfusão de sangue. “Depois disso ainda precisou transfundir mais três ou quatro vezes”, afirma a filha, acrescentando que “por ironia do destino” não pode doar. Uma alteração no sangue descoberta há cerca de dez anos sem saber a causa e com o histórico de leucemia na família, o hematologista recomendou que ela não doasse. “Está se apresentando recorrente a leucemia na minha família, além da minha mãe, também minhas tias: uma faleceu há dois anos e meio e tinha leucemia e uma outra tia está investigando. Não sou médica, mas estou acostumada a ver os exames da mamãe, as alterações, porque procuro entender o processo. Ela está internada e passando por transfusão”, comenta sobre a desconfiança de a tia ter o mesmo diagnóstico.

 

Solidariedade e empatia

Desde o início do tratamento, a saúde de Maria Aparecida passa por muitas oscilações, com períodos em que precisou suspender a medicação por estar com uma anemia profunda. Em uma das transfusões teve uma sobrecarga cardíaca, o que levou a receber somente sangue fenotipado. Felizmente, afirma a filha, a família consegue mobilizar muitas pessoas para doar. “No dia 13 de abril ela precisou transfundir plaquetas, porque os médicos estão suspeitando de neoplasia no pulmão. Iam fazer broncoscopia, mas as plaquetas estavam baixas e recebeu plaquetas também. Ela teve pneumonia e diverticulite, precisou tirar pólipos e dessa vez, por causa do estado de saúde, não pode fazer colonoscopia; pode estar com sangramento, tem duas bactérias na corrente sanguínea e os rins não estão bem, talvez precise de hemodiálise”.

Apesar do estado de saúde delicado da mãe, que mora com ela há sete anos, Mara segue otimista e chamando atenção para a importância da doação de sangue, que tanto ajudou sua mãe, e tenta levar a mensagem a mais pessoas. “Sou analista pedagógica de uma escola municipal e minha relação com a comunidade é muito boa. Quando minha mãe precisa, muitas mães de alunos doam, meu sobrinho tem muitos amigos que fazem doação, minha filha mais nova também doa. Todo mundo que pode quer doar”. Na última transfusão a família já tinha disponibilizado as doações, mas não seria mais o hemocentro da cidade, Uberlândia, que iria fornecer o sangue e derivados, e sim uma empresa de Belo Horizonte. De qualquer forma Mara pediu a quem ia doar para sua mãe, para fazer a doação, porque iriam ajudar a muitos outros.

“Queria eu poder doar, meu sonho. Iria doar sempre”. A quem pode doar sangue, deixa sua mensagem: “Um dia você dá, em outro você recebe. Nunca sabemos quando vamos precisar, e mesmo que nunca precise, a empatia e a solidariedade são virtudes que podem literalmente mudar a vida das pessoas. Pode salvar a vida e o mundo, porque se você tem empatia e solidariedade, está participando da construção de um mundo melhor não só para você, mas para as pessoas que ama”.

 

Uma doação pode salvar quatro vidas

“Precisamos lembrar sempre que doar é uma forma de ajudar ao próximo. Uma doação de sangue pode salvar até quatro vidas”, ressalta Gusmão. O onco-hematologista explica que há várias situações em que as pessoas podem precisar de doação, desde vítimas de um acidente grave a alguém que passa por uma cirurgia de grande porte que pode ter muito sangramento. Entre as doenças hematológicas, há mais demanda principalmente nas leucemias e aplasias medulares; pacientes com linfoma ou mieloma também podem necessitar, devido à toxicidade do tratamento ou do estágio avançado. “Nunca sabemos quando alguém vai precisar. De cada doação tiramos uma bolsa de hemácia, para transfusão, mas também extraímos dessa bolsa plaqueta e plasma, fracionando o sangue nos seus componentes. Por isso uma doação pode salvar até quatro vidas”.

A doação de plaquetas, por exemplo, pode ser feita a partir de um só doador com técnicas específicas, mais demorada, para retirar uma quantidade maior de plaquetas, ou fazendo um pool de plaquetas de vários doadores.

Gusmão comenta que nas doenças onco-hematológicas o paciente pode necessitar de transfusão até pela toxicidade dos tratamentos, como a quimioterapia. “Quase todo paciente hematológico pode, em algum momento, precisar de transfusão, por isso sempre fazemos alerta para doações”. Cita o caso dos transplantes de medula óssea quando necessitam de quimioterapia prévia para eliminar a medula óssea velha – que é responsável pela fabricação do sangue – e abrir espaço para a nova medula. Nesse período em que ela fica sem funcionar, costuma ser necessário realizar transfusão – a quantidade vai variar pelas condições de cada paciente, idade, tipo de transplante, o protocolo que recebeu previamente. “O transplante autólogo pode não precisar, ou necessitar apenas de algumas unidades de transfusão. O transplante alogênico geralmente precisa de um pouco mais. Há estimativa, por exemplo, que no transplante autólogo vai de 0 a 4 bolsas de sangue e de plaquetas. No alogênico é mais difícil prever”.

 

E quando falta sangue?

Além de escasso, o sangue é perecível, diz o médico: uma plaqueta dura apenas uma semana no banco de sangue; já as hemácias têm durabilidade de 56 dias, porém se o paciente precisa receber sangue que foi tratado previamente com radioterapia para evitar rejeição e evento colaterais, o prazo diminui para 28 dias.

Apesar da vida curta, o material não chega a vencer nos bancos de sangue, porque o que acontece mais é a escassez, não ter quantidade suficiente para as pessoas que precisam receber. “O consumo é alto, não chega a perder a validade. Por isso pedimos que os pacientes nos ajudem nas campanhas, convocando familiares, amigos, colegas de trabalho”, afirma.

Quando o estoque está muito baixo, avisa Gusmão, a equipe avalia quem são os pacientes que não podem ficar sem transfusão e os que têm condições de adiar para outro dia. “Nesses casos as cirurgias programadas de grande porte serão adiadas, por conta de não garantir o estoque naquele dia, porque se precisar não haverá sangue suficiente. Utilizamos estratégias de prioridade e chamamos campanha para aumentar o estoque”.

A baixa de estoque acontece principalmente nos feriados, quando muitas pessoas vão viajar e há uma diminuição das doações. Por isso, dias antes os bancos costumam fazer chamados prévios, acionando os doadores que já passaram do prazo mínimo e podem voltar a doar: a cada três meses para homens e quatro para mulheres. Para o especialista, apesar de haver maior conscientização sobre a necessidade de doar sangue, a correria do dia a dia e a rotina acabam atrapalhando. Na pandemia, com o isolamento social ficou mais difícil ainda, porque as pessoas tinham receio de ir à unidade doar e se contaminar com Covid-19. Para driblar a escassez, a estratégia é buscar alternativas, além do chamamento, oferecer opções de horários flexíveis para quem trabalha em horário comercial e mesmo doações aos finais de semana.

Felizmente, ressalta o onco-hematologista, a modernização dos tratamentos oncológicos, com menor toxicidade e menos efeitos colaterais, ajuda a não haver tanta demanda nessa área. “Temos que pensar que a doação de sangue não é apenas para pacientes hematológicos ou onco-hematológicos. Pensar no contexto geral da população e saber que doar é um ato seguro, bem protegido”. E pode salvar quatro vidas.

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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