Resultados de estudo realizado nos Estados Unidos com mais de 3 mil mulheres podem ajudar a educar médicos e pacientes sobre a prevenção e gestão de linfedema após o tratamento do câncer de mama. O trabalho foi publicado na edição de março do Journal of Clinical Oncology.
Entre 2005 e 2014, o estudo avaliou pacientes em tratamento de câncer de mama no Massachusetts General Hospital, em Boston, e investigou a associação entre o volume do braço e leituras de pressão arterial, injeções e exames de coleta de sangue, além de investigar a associação entre viagens aéreas e presença de linfedema.
O linfedema é uma condição que pode aparecer em pacientes tratadas para o câncer de mama, principalmente após cirurgia ou radioterapia, e ocorre quando o vaso linfático é incapaz de drenar adequadamente o fluido corporal, também chamado de linfa. Nesses casos, além do desconforto causado pelo linfedema, existe a possibilidade de complicações, o que reforça a importância de conhecer melhor os fatores de risco.
Métodos e resultados
Entre 2005 e 2014, as pacientes em tratamento de câncer de mama no Massachusetts General Hospital foram selecionadas para avaliação de linfedema. Medições bilaterais da circunferência do braço foram realizadas no pré e pós-operatório. Em cada medição, as pacientes relataram o número de exames de sangue realizados, injeções que receberam naquele braço e as leituras de pressão arterial, assim como o número de viagens aéreas realizadas.
Em 3.041 medições não houve associação significativa entre a presença de linfedema no braço em mulheres que receberam injeções ou foram submetidas a um ou mais exames de sangue ou leituras de pressão sanguínea. Entre as mulheres que realizaram viagens aéreas, o número de vôos ou a duração também não foi positivamente associado com a presença de linfedema.
Os fatores estatisticamente associados ao linfedema e ao aumento do volume do braço foram sobrepeso ou obesidade (índice de massa corporal acima de 25), cirurgia para a dissecção de linfonodos axilares, irradiação dos linfonodos regionais e celulite, que é a presença de inflamação ou infecção no tecido subcutâneo.
Em conclusão, o estudo sugere que, embora a celulite aumente o risco de linfedema, a coleta de exames de sangue não foi positivamente associada à presença de linfedema e ao aumento do volume do braço, assim como injeções, leituras de pressão sanguínea e viagens aéreas.
“São resultados que mostram que é preciso desmistificar determinados fatores de risco no linfedema após o câncer de mama”, diz o oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe-geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM) da Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do comitê gestor do Centro de Oncologia e Hematologia Dayan-Daycoval do Hospital Israelita Albert Einstein.
“O estilo de vida, prevenindo o sobrepeso e a obesidade, deve ser uma preocupação mais presente que medir a pressão ou viajar de avião”, recomenda.
Referências
Impact of Ipsilateral Blood Draws, Injections, Blood Pressure Measurements, and Air Travel on the Risk of Lymphedema for Patients Treated for Breast Cancer
Chantal M. Ferguson, Meyha N. Swaroop, Nora Horick, Melissa N. Skolny, Cynthia L. Miller, Lauren S. Jammallo, Cheryl Brunelle, Jean A. O’Toole, Laura Salama, Michelle C. Specht e Alphonse G. Taghian
JCO Mar 1, 2016:655-658; published online on December 28, 2015;
https://jco.ascopubs.org/content/early/2015/12/07/JCO.2015.61.5948.abstract
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.