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Julho Verde: Hora de saber mais para prevenir e diagnosticar precocemente tumores de cabeça e pescoço

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Após fumar 50 anos, paciente ficou sem voz e descobriu o câncer. Tabagismo é o principal fator de risco, potencializado pela ingestão de álcool.

 

Um dia, no início de 2016, o gráfico José Carlos Cecaroli, 68 anos, acordou sem voz. Depois de tentar recuperá-la com pastilhas para a garganta, sem sucesso, procurou um médico, que o encaminhou a um especialista. Logo descobriu que tinha câncer de laringe.

Passou por cirurgia, em que precisou tirar toda a laringe, e fez 30 sessões de radioterapia. Chegou a ficar quase um ano sem conseguir falar, até que voltou a se comunicar com uso de uma prótese. “Hoje estou ótimo!”, comemora José Carlos, avisando que trabalha, corre e come de tudo. “Levo uma vida normal”. O motivo do desenvolvimento do tumor, ele sabe bem: fumou por 50 anos.

“O tabagismo é o fator mais importante para causar tumores de cabeça e pescoço e talvez a cessação do tabagismo seja uma das maneiras mais eficazes para prevenir”, destaca o oncologista William William, diretor de Oncologia e Hematologia da BP de São Paulo e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). O alerta é um dos principais destaques de aviso de prevenção da campanha Julho Verde, promovida pela Associação de Câncer de Boca e Garganta – ACBG Brasil para conscientizar sobre os tumores de cabeça e pescoço, que já é o segundo mais comum entre os homens e o quarto mais incidente entre as mulheres no Brasil.

William William chama atenção para outros fatores de risco, como a ingestão de álcool. “Apesar de não ser tão forte quanto o tabagismo, quando a pessoa fuma e bebe potencializa muito o risco, especialmente se é um hábito contínuo e de longa data”. O médico avisa que a infecção pelo HPV (papiloma vírus humano) também contribui para o desenvolvimento desse tipo de câncer, especialmente na orofaringe, região atrás da língua, no fundo da garganta. A infecção por HPV se dá por meio das relações sexuais sem preservativos, mesmo no sexo oral. O oncologista lembra que para prevenir há disponível, inclusive na rede pública, a vacina contra o HPV.

“O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê” é o tema do #JulhoVerde deste ano da campanha, para chamar atenção à importância do diagnóstico precoce, que aumenta as chances de cura. Atualmente, segundo estimativas, de cada quatro novos casos da doença, três são descobertos em estágio avançado. Os tumores de cabeça e pescoço têm origem nas vias aerodigestivas e atingem boca, língua, palato mole e duro, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe, esôfago, tireoide e seios paranasais.

A presidente da ACBG Brasil, Melissa Ribeiro, explica que a entidade foi fundada há 4 anos e trabalha pautas que visam dar acesso à reabilitação dos pacientes que foram laringectomizados em virtude do câncer de laringe e perderam a voz. “Precisamos ser a voz de brasileiros que não têm. Nosso objetivo é alertar sobre os fatores de risco, muito presentes entre a população brasileira, e falar da importância do diagnóstico precoce. Os vícios socialmente aceitos estão causando isso à nossa população”, destaca Melissa.

 

Tratamento deve ser multidisciplinar

“As chances de cura dos cânceres de cabeça e pescoço causados pelo HPV são maiores que os relacionados ao cigarro. No caso dos tumores localmente avançados, a chance de cura pode chegar a 80 – 90%”, avisa William William. “Quando a doença é relacionada ao tabaco, as chances de cura são menores, mas existem. Eu diria que quase metade dos tumores localmente avançados podem ser curados com estratégia agressiva de tratamento, que pode envolver radioterapia, quimioterapia, cirurgia, entre outras”.

O principal aspecto a ser considerado para o tratamento da doença, avisa o oncologista, é ter um tratamento multidisciplinar, que envolva várias especialidades: cirurgião de cabeça e pescoço, radioterapeuta, oncologista clínico, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, enfermagem. “É um tratamento complexo e precisa ser multidisciplinar para ter maior chance de cura e menos sequelas e garantir um tratamento mais moderno, mais eficaz e com menor chance de efeito colateral”.

Em fase inicial, esses tumores geralmente são tratados com radioterapia ou cirurgia. O tumor localmente avançado – quando não é tão inicial, mas não se espalhou para outras partes do corpo – costuma usar combinações que podem envolver radioterapia, quimioterapia e cirurgia – o chamado tratamento multimodal. “Em tumores bem avançados e que se espalharam para outras áreas, o tratamento pode envolver ainda terapia-alvo e imunoterapia, que aumenta o sistema imunológico do paciente, fazendo com que ataque o tumor e deixe a doença sob controle”, explica o membro do comitê científico do IVOC.

 

Atenção para diagnóstico precoce

O oncologista destaca que é importante tomar cuidados para garantir o diagnóstico precoce, como visitar regularmente o dentista e estar atento aos sinais do corpo – muitas vezes o tumor inicial é visível. Diante de qualquer sintoma, deve-se procurar logo ajuda médica.

Sintomas:

– Tumor visível na boca, língua ou gengiva – pode ou não sangrar e doer.
– Gânglio ou íngua (caroço) no pescoço. Nem todo caroço é um tumor; pode ser uma infecção e, nesses casos, desaparece após tratamento ou o próprio organismo se livra da infecção. Quando é tumor, costuma permanecer e pode crescer com o tempo. Nem sempre tem dor.
– Dificuldade de fala ou rouquidão prolongada por mais de 15 dias.
– Sensação de algo na garganta ou dificuldade para engolir, às vezes acompanhada de dor, especialmente quando é persistente, não passa depois de alguns dias.
– Ardor na garganta.
– Lesões na língua, como afta, que não cicatrizam após tratamento.

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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