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I Consenso brasileiro para o tratamento do carcinoma urotelial define melhores práticas para a doença com oncologistas, urologistas e rádio-oncologistas de todo o país

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Chancelado pelas sociedades médicas, documento leva informações a especialistas e ajuda a reforçar a necessidade de ampliar acessibilidade nos setores privado e público.

 

As melhores práticas para o tratamento dos pacientes com carcinoma urotelial, desde o diagnóstico até os tratamentos, seguimento e avaliação de risco da doença hereditária foram debatidas durante o I Consenso brasileiro para o tratamento do carcinoma urotelial, que reuniu oncologistas, urologistas e rádio-oncologistas de todo o país. A iniciativa foi organizada pelo Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG-GU), Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).

“Esse é um consenso muito importante do grupo de uro-oncologia, que envolve urologistas, rádio-oncologistas e oncologistas para indicar o melhor tipo de tratamento do câncer de bexiga e também do trato urotelial superior, desde as fases mais precoces até as fases mais avançadas, procurando direcionar e orientar médicos do país inteiro às melhores opções diagnóstica e tratamento”, destaca o oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer. “Saem guidelines com o melhor manejo desses pacientes, usando a melhor evidência da literatura, e nas questões que não envolvem uma literatura tão sólida, a melhor percepção dos especialistas, a fim de beneficiar o paciente com câncer do trato urotelial”. Para Maluf, o consenso traz ainda importantes discussões em relação ao câncer metastático, por exemplo, selecionando melhor o papel da quimioterapia e de drogas inteligentes em pacientes que têm alterações moleculares específicas.

Para o oncologista Andrey Soares, diretor Científico do LACOG – GU, o consenso tem importante atuação em cenários de dificuldade de decisão, seja por ausência de medicação ou literatura que suporte convicção, ou para pacientes em que os tratamentos falharam. Andrey Soares cita as discussões em relação à doença metastática, em que o grupo reconheceu o avanço das novas terapias, como imunoterapias, especialmente para pacientes que falham em primeira linha e em primeira linha para pacientes que não podem receber terapia intensiva, que pode ser opção para um determinado grupo. “São selecionados por um marcador questionável, o PDL1, mas hoje é o melhor biomarcador para selecionar quem deve fazer tratamento com imunoterapia ou quimioterapia sem cisplatina. Cerca de metade dos pacientes no cenário de primeira linha não têm condição de receber quimioterapia com cisplatina, por contraindicações, seja por insuficiência renal, performance, problemas cardíacos, entre outros”.

Ele acredita que no final do ano haverá mais resultados da combinação de quimioterapia com imunoterapia. Também destaca a chegada no país, nos próximos meses, de droga alvo, primeira para câncer urotelial, um inibidor de FGFR. “Esse marcador é importante; estima-se que 20% têm a mutação FGFR”, diz o oncologista. “A comunidade médica também espera novos medicamentos inteligentes, que se ligam à superfície da célula tumoral, internaliza e libera quimioterapia”.

 

Sociedades brasileiras de especialistas

Um dos pontos importantes do consenso é reunir opinião de especialistas das sociedades médicas brasileiras para embasar decisões de profissionais tanto no setor privado quanto público. “A ideia foi fazer um consenso multidisciplinar que envolva as principais questões que a gente tem hoje com relação ao câncer urotelial”, ressalta o urologista Lucas Nogueira, coordenador de câncer urotelial da SBU. “Na parte da urologia discutimos sobre indicações de RTU (ressecção transuretral); com relação à doença recorrente ao BCG, debatemos as melhores opções aos pacientes que fizeram uso do BCG e depois têm que ser retratados, porque houve recorrência ou foi refratário. Também houve discussão sobre técnica cirúrgica com relação principalmente a pacientes irradiados e que receberam tratamento prévio”.

Para Nogueira, é uma oportunidade de envolver todos os profissionais das áreas ligadas ao tratamento da doença. “Tem muita literatura e nós estamos sedimentando conceitos, que reforçam e dão substrato a algumas condutas que ficam um pouco indeterminadas na literatura”. O urologista acredita que o consenso ajuda, inclusive, quando há falta de medicação, por exemplo. “Vivemos situações de black out mundial de fornecimento de BCG. Esse consenso dá substrato à utilização de outras técnicas, outros tratamentos que não são ótimos, mas precisamos ter um substrato para utilizar. No SUS ajuda até a fazer pressão sobre o tratamento ideal e reforçar que a população tem direito a ser tratada dessa forma. Serve para que tratamentos com maior eficácia e menos efeitos colaterais sejam disponibilizados no sistema público”.

 

Dr. Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC, durante consenso de câncer urotelial.
Dr. Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC, durante consenso de câncer urotelial.

 

O oncologista clínico Volney Soares, tesoureiro da Sboc, acredita que a interação entre as especialidades médicas é importante para educar os especialistas e melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes no Brasil. “Quanto mais conhecimento médico difundido, melhor a qualidade do atendimento e o acesso dos pacientes a esses tratamentos”.

Para Volney Soares, em relação à oncologia clínica, o principal ponto do consenso é a adição do uso correto da imunoterapia e dos marcadores na doença metastática. “Acho que essa é a principal novidade na oncologia no tratamento do câncer de bexiga. Ficou muito tempo parado, sem muito estudo nem investimento e agora a imunoterapia vem entrando com bastante força no tratamento do câncer de bexiga. Há vários estudos e tratamentos aprovados no Brasil e é importante os médicos conhecerem a fase ideal para entrar com esse tratamento”, comenta. “Como o consenso é chancelado pelas sociedades médicas, serve ainda para aumentar a pressão, para aumentar o acesso aos tratamentos de melhor qualidade. Não só medicamentos, mas radioterapia de melhor qualidade, cirurgia de melhor qualidade”.

O rádio-oncologista Ícaro Thiago de Carvalho, tesoureiro da SBRT, acredita que o consenso servirá de base para vários profissionais no Brasil conhecerem quais são as opções de tratamento para o câncer de bexiga. “Dentre elas uma que é pouco conhecida e pouco utilizada, justamente a radioterapia, de maneira a preservar a bexiga do paciente que está com câncer, sendo uma opção à cirurgia em alguns casos selecionados”, avalia.

Além de debater as opções de uso da radioterapia, outro aspecto importante discutido foi a definição da tecnologia mínima para tratar os pacientes com a técnica. “Seria uma radioterapia conformacional, tridimensional, que não é a realidade do país, mas espero que as autoridades, os colegas possam ver isso como mínimo a ser oferecido de qualidade para os pacientes. Colocamos qual seria o cenário ideal, pelo qual a gente tem que lutar”.

Andrey Soares avisa que o documento com os resultados dos debates do consenso deve sair em seis meses, depois de passar pela revisão e concordância de todos os autores. O objetivo é publicar até o segundo semestre e fazer a primeira apresentação no congresso da Sboc, em outubro.

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