A indicação de medicamentos mais eficazes e com menos toxicidade evidencia os progressos no tratamento do câncer de mama, principalmente para quem recebe o diagnóstico de doença avançada. Além dos melhores resultados, as pacientes têm conquistado melhor qualidade de vida.
“Em pesquisas para câncer de mama, felizmente, nós passamos por um momento de muitos avanços”, destaca a oncologista Debora Gagliato, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. “Recentemente, publicamos dois artigos com foco, principalmente, nas duas classes de drogas novas que têm sido usadas no tratamento de mulheres com câncer de mama. São eles os inibidores de ciclina 4 e 6 e os imunoterápicos, que estão sendo utilizados cada vez com mais sucesso para o combate e controle desta doença”, explica a médica, primeira autora dos dois papers divulgados em revistas internacionais.
Os medicamentos analisados pelos estudos dos pesquisadores brasileiros já possuem uma eficácia bem estabelecida, tanto em termos de taxa de resposta como em controle da doença. “Vemos que essas drogas são associadas a menos efeitos colaterais comparadas ao padrão prévio, de quimioterapia citotóxica, em que tínhamos uma terapia que atingia todas as células. Então, observamos a tendência de tratamentos selecionados e eficazes, menos tóxicos e melhor tolerados”, ressalta Debora Gagliato.
O artigo de revisão “Imunoterapia no câncer de mama: prática atual e desafios clínicos”, é uma análise extensa sobre o uso desta classe de medicamentos em pacientes com câncer de mama localizado e avançado.
Os autores – além de Débora Glagliato, o trabalho é assinado por Antonio Buzaid, Jose Perez-Garcia e Javier Cortes – destacam que a imunoterapia está atualmente aprovada para um subconjunto de pacientes com diagnóstico de câncer de mama triplo negativo avançado.
Embora essa aprovação seja limitada a apenas um grupo de pacientes, as estratégias para expandir as indicações no câncer de mama para essa modalidade de tratamento estão sendo amplamente avaliadas. Para isso, é necessária a identificação das características da paciente, com o conhecimento das configurações da doença e a análise de marcadores imunológicos, além da avaliação da sequência ideal com terapias anticâncer tradicionais.
Neste contexto, os autores também citam o estudo KEYNOTE-522, em que os resultados da associação de imunoterapia à quimioterapia representaram um grande avanço no combate ao câncer de mama triplo negativo, com 65% de resposta patológica completa. A avaliação de expressão de PD-L1 (proteínas existentes na superfície das células do câncer, que impedem que o organismo estabeleça uma resposta anti-tumoral) é fundamental, porque pode auxiliar na previsão de resposta à imunoterapia.
O outro trabalho – “Inibidores de CDK4 / 6 em câncer de mama metastático com receptor hormonal: prática atual e conhecimento” – revisa o papel dos inibidores de ciclina (proteína que controla a progressão de uma célula) em tumores avançados, uma classe de medicações que revolucionou o tratamento das pacientes com a doença.
A adição de inibidores de CDK4/6 à terapia endócrina, seja no cenário de primeira linha de tratamento ou após progressão para um inibidor de aromatase (enzima envolvida na produção hormonal), melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão da doença. Os resultados foram observados em comparação com a terapia endócrina isolada no tratamento de mulheres pós e pré-menopausa com câncer de mama avançado. Os benefícios já se mostraram consistentes, independentemente do número de tratamentos anteriores recebidos, estado da menopausa, idade e locais de doença metastática.
Os autores destacam que, atualmente, os inibidores de CDK4/6 “são incorporados e estabelecidos como um novo tratamento padrão para câncer de mama com receptores hormonais avançado. Um atraso maior para a exposição à quimioterapia e a preservação dos escores de qualidade de vida estão entre os desfechos mais importantes em um grupo de pacientes com doença incurável, em que o bem-estar físico, emocional e funcional são extremamente importantes”.
O artigo indicou, no entanto, que apesar da melhoria dos prognósticos com a combinação dos inibidores de ciclina e a terapia endócrina, a resistência ocorre. “Um melhor conhecimento destes mecanismos pode levar a combinações com outras terapias direcionadas, que podem prevenir ou retardar a resistência ao tratamento”. Até hoje, nenhum biomarcador molecular ou clínico é capaz de identificar de forma confiável um grupo de pacientes que pode ou não se beneficiar da adição dessas drogas à terapia endócrina.
Por isso, os autores indicam que são necessárias mais pesquisas para diferenciar tais pacientes, que terão a chance de receber um tratamento mais individualizado, que irá poupá-las de medicamentos que agregam toxicidade e efeitos colaterais, com um considerável custo financeiro. Este é o foco da Medicina Personalizada, que pretende concentrar a combinação de tratamento para os indivíduos que alcançarão definitivamente um benefício com as novas drogas e terapias.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.