Quando uma pessoa é diagnosticada com câncer, a prioridade é o tratamento da doença e durante esse período o paciente pode ter dúvidas sobre o que pode e o que não pode fazer. Tomar ou não uma vacina é uma delas.
As chamadas vacinas atenuadas (contra sarampo, rubéola, varicela, febre amarela, herpes zoster, poliomielite, rotavírus e BCG) devem ser evitadas. “Como o paciente com câncer é um paciente no qual o sistema imunológico está “fraco”, devido a presença do câncer que debilita as energias do organismo, o uso de vacinas atenuadas pode implicar em risco de desenvolvimento de doença. Assim, toda vacina atenuada não deve ser aplicada em pacientes com câncer”, explica o oncologista Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer.
Já as vacinas feitas de micorganismos mortos, toxinas de microrganismos ou proteínas (hepatite A, hepatite B, HPV, alguns subtipos de influenza, pneumonia) podem ser tomadas desde que o paciente não esteja fazendo quimioterapia. Se ele estiver em tratamento quimioterápico, não poderá toma-las. “É preciso lembrar que pacientes em quimioterapia a imunidade pode ficar muito baixa, suscetíveis a infecções fatais por microrganismos que vivem em nosso próprio corpo, incapazes de formar uma reposta ou memória imunológicas. Por isso, em pacientes fazendo quimioterapia, não devemos aplicar qualquer vacina”, enfatiza o oncologista.
Quando há aumento de casos de doenças como a febre amarela, o paciente oncológico deve se proteger não indo às áreas de risco e usando repelente. É extremamente importante que ele sempre esclareça suas dúvidas com o médico responsável pelo seu tratamento.
A seguir, você lê a entrevista completa do oncologista Fernando Maluf.
– Quais vacinas o paciente em tratamento de câncer pode tomar?
As vacinas são preparados biológicos que tem por função estimular no hospedeiro imunidade adquirida contra certo agente causador de alguma doença específica. O princípio por trás da vacina é o de expor o indivíduo a uma substância que se assemelha a um microrganismo causador de certa doença.
Essa exposição é feita com inoculação de formas enfraquecidas ou mortas do micróbio, das suas toxinas ou de uma das suas proteínas de superfície. O contato do sistema imunológico com essas substâncias estimula a formação de resposta imunológica de longo prazo, protegendo o indivíduo da enfermidade real caso entre em contato com o agente causador de uma doença específica.
As vacinas fabricadas com formas enfraquecidas ou atenuadas do agente etiológico de certa patologia têm o potencial de causar a doença a qual foram designadas a proteger, se o organismo no qual forem inoculadas também estiver enfraquecido. Ou seja, se o sistema imunológico do receptor da vacina não estiver forte o suficiente para formar uma resposta e memória imunológicas há o risco de desenvolver a doença a qual deveriam proteger. Dessa forma, como o paciente com câncer é um paciente no qual o sistema imunológico está “fraco”, devido a presença do câncer que debilita as energias do organismo, o uso de vacinas atenuadas pode implicar em risco de desenvolvimento de doença. Assim, toda vacina atenuada não deve ser aplicada em pacientes com câncer.
As vacinas atenuadas são: sarampo, caxumba, rubéola, varicela, febre amarela, herpes zoster, poliomielite oral (Sabin), rotavírus e BCG. Essas vacinas não devem ser usadas em pacientes com câncer. É preciso lembrar que pacientes em quimioterapia a imunidade pode ficar muito baixa, suscetíveis a infecções fatais por microrganismos que vivem em nosso próprio corpo, incapazes de formar uma reposta ou memória imunológicas. Por isso, em pacientes fazendo quimioterapia, não devemos aplicar qualquer vacina. Tanto o risco de desenvolvimento de doença quanto o fato da vacina não provocar resposta e memoria imunológicas são argumentos para a proscrição de vacinas durante quimioterapia.
As vacinas que podem ser usadas em pacientes com câncer, mas que não estejam em quimioterapia ou qualquer terapia imunossupressora, são as feitas com microrganismos mortos ou toxinas de microrganismos ou proteínas de sua composição: vacinas pertussis de células inteiras ou a acelular; vacinas inativada poliomielite; tétano; difteria; alguns subtipos de influenza; hepatite A; hepatite B; HPV; pneumococo e meningococo.
– Por que ele não pode tomar a vacina contra a febre amarela? Se o paciente morar em área de risco, ele não pode tomar mesmo assim?
A vacina de febre amarela é feita a partir de vírus vivo atenuado. Em pessoas com imunidade comprometida, como é o caso de pacientes com câncer, o uso dessas vacinas pode acarretar no aparecimento de febre amarela vacinal, ou seja, causada pela cepa de vírus que constitui a vacina. Assim, seu uso é proscrito nesses pacientes mesmo em áreas de risco. A chance de se desenvolver a doença por meio do vírus da própria vacina acaba sendo maior do que o risco do contágio ambiental.
– Se o paciente oncológico sofrer um ferimento e necessitar tomar, por exemplo, a vacina antitetânica, ele pode?
A vacina antitetânica é feita a partir de da toxina liberada pela bactéria que causa o tétano. Assim, o paciente com câncer que se acidentou e necessita de aplicação da vacina antitetânica poderá fazê-lo. Não devemos usar a vacina contra o tétano em casos de reação alérgica grave (por exemplo, anafilaxia) após uma dose anterior ou a um componente de vacina; ou se o paciente apresentar uma condição chamada encefalopatia (por exemplo, coma, diminuição do nível de consciência ou convulsões prolongadas) não atribuível a outra causa identificável dentro de sete dias após a administração de uma dose anterior da vacina. Se o paciente com câncer estiver muito debilitado em consequência da doença, também não é recomendável a aplicação da vacina contra o tétano nesses pacientes.
– E a vacina contra o H1N1, é recomendada?
A vacina contra a infecção do H1N1 é feita a partir de vírus mortos e pode ser usada em pessoas com câncer. Inclusive, estudos da literatura médica mostram que pacientes com câncer hematológico boa capacidade de gerar resposta imunológica satisfatória contra o vírus do H1N1 quando comparados aos que não receberam vacina.
– É importante que os parentes do paciente oncológico estejam com a carteira de vacinação em dia?
Sim. Existe um conceito chamado de imunização de rebanho que nos mostra que em uma dada população, se alcançarmos um número certo de pessoas imunes a certa doença, toda a população estará protegida. Nesse conceito, o número de pessoas vacinadas é inferior ao número total de indivíduos da população. Portanto, se conseguirmos vacinar o maior número possível de pessoas em uma certa população, maiores nossas chances de tornar toda aquela população imune, mesmo que nem todos os indivíduos tenham recebido a vacina. Assim, se as pessoas próximas a um paciente com câncer estiverem vacinadas e imunes a certa doença, a chance dessa mesma doença acometer o paciente é muito pequena.
Devemos lembrar que os parentes de pacientes em quimioterapia, ao tomarem vacinas de microrganismos atenuados, podem transmitir esse agente etiológico atenuado para outras pessoas. Devem, dessa forma, evitar contato com a pessoa em quimioterapia pelo risco de a contaminarem com o microrganismo atenuado da vacina. O contato pode representar um risco de doença real para quem faz quimioterapia.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.