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Mãe escreve livro para contar ao filho que a avó dele estava com câncer

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O diagnóstico de câncer afeta não só o paciente, mas os parentes também. E quando há crianças na família, uma dúvida dos pais é como falar para elas sobre a doença, ainda mais se o parente doente for alguém do convívio diário delas. “As crianças têm uma capacidade muito grande de observação e uma sensibilidade diferenciada para captar o clima que está envolvendo a família. Esconder delas o que está acontecendo pode trazer importantes conflitos no mundo interno. Por isso, a família deve contar e a estratégia para comunicar o que está acontecendo pode variar de acordo com a idade. A família pode se valer de instrumentos lúdicos, como histórias e desenhos”, explica o psiquiatra Rodrigo de Almeida Ramos. A gerente de mercado financeiro Priscilla Ferri de Barros passou por essa situação. Quando soube que a sogra estava com câncer decidiu fazer um livro para falar sobre a doença com o filho.

Priscilla mora na Austrália com o marido e o filho de 6 anos. No ano passado, depois um mês da mudança para lá, sua sogra, que morava no Brasil, descobriu que estava com câncer no pulmão em estado avançado, com metástase no fígado e no cérebro. “Ficamos todos devastados. Estou com meu marido há 21 anos e minha sogra era como uma mãe para mim. No começo é sempre um choque, um baque para a família toda. Mas depois vem a força, a fé de que tudo pode se resolver”.

A família ainda se adaptava à nova vida, ao país. O filho, Gabriel, aguardava ansiosamente a visita da avó nas férias de julho, mas a viagem foi cancelada por causa do tratamento. “Estávamos em um momento de muita mudança, não sabia como contar para ele, queria que fosse de uma maneira menos dolorida. Tive a ideia de contarmos isso de uma maneira mais fácil, construindo isso juntos, ele perguntando e eu respondendo. Então, resolver fazer isso através do livrinho. Resolvi escrever o livro para contar para o Gabi, mas também para confortar meu coração e diminuir a angústia por estar longe”, conta.

Priscilla se lembrou, então, de uma história que a avó do marido contava para os netos quando eles eram pequenos, sobre uma menina carequinha que depois de ganhar uma peruca ia feliz para a escola, e a partir dela começou a fazer seu livro com o filho. “Começamos a escrever e a desenhar juntos. No início, era um monte de desenhos e rabiscos. Pouco a pouco ele foi entendendo que a vovó estava doente, que iria ficar carequinha e que não tinha problema em ficar carequinha, que ela era linda e iríamos amá-la do mesmo jeito, pois todos somos diferentes. Ele ficou encantado com a historinha que criamos juntos. Pegava as folhas soltas, cheias de rabiscos e sempre pedia para eu ler para ele antes de dormir.”

A história foi ganhando outros personagens que mostram que as pessoas são diferentes umas das outras, mas “igualmente especiais”, como escreve Priscilla no livro. Além da menina carequinha, há, por exemplo, um cachorro que não tem uma pata, um gigante e o vovô urso, que são personagens criados por Gabriel. Priscilla reuniu os desenhos e os textos e levou tudo para uma gráfica onde imprimiu uma cópia para o filho dar para avó. “Demos para ela quando fomos ao Brasil em julho do ano passado para passar férias. Ela mostrou para a família inteira.”

Em dezembro de 2016, os médicos descobriram mais um tumor no pulmão da sogra de Priscilla e o estado de saúde dela se agravou. O casal e o filho voltaram para o Brasil novamente para passar o Ano Novo com ela. “Chegamos ao Brasil no dia 28, de surpresa, ela não esperava. Passamos um lindo Ano Novo juntos, toda a família reunida. Meu marido quis ficar mais tempo no Brasil e ficamos. No dia 9 de janeiro, ela se foi.”

A descoberta do câncer da sogra fez a família passar por momentos de tensão e de aflição, mas também de união. “Momentos difíceis como esse fazem com que rótulos, máscaras, cobranças, fiquem em segundo plano e criam um objetivo comum, um projeto comum na relação, mesmo que esse projeto seja vencer uma doença. Isso pode ser traduzido em trabalhar junto para distribuir vida e amor para as pessoas que amamos.”

A perda da sogra não foi a primeira de Priscilla. Ela perdeu 6 bebês durante as gestações. “Estamos em paz. Estou feliz por ter conseguido dar um suporte para o meu filho. Quando contei para ele que a avó tinha ido embora, ele no começo ficou triste, mas logo falei: a vovó vai cuidar de seus irmãozinhos. E ele abriu um sorriso lindo. Gosto de imaginar que ela está assim: cuidando dos meus enquanto estou cuidando dos dela.”

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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