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Qualidade de vida é a prioridade para o paciente no tratamento do câncer de bexiga

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Sumário

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O Instituto Vencer o Câncer participou do primeiro dia (16/09) do 12º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), com um painel especial sobre câncer de bexiga. O IVOC apresentou os resultados de uma pesquisa inédita sobre a jornada de pacientes com a doença avançada ou metastática, revelando que 85,7% dos entrevistados priorizam a qualidade de vida em detrimento de simplesmente prolongar a sobrevida, reforçando a importância de um cuidado oncológico centrado no paciente.

Conduzido em parceria com o Núcleo de Pesquisa do IBCC Oncologia e com apoio da farmacêutica alemã Merck, o levantamento também apontou que mais de 95% dos participantes tiveram gastos adicionais significativos, mesmo com cobertura de planos de saúde, e que as maiores dificuldades relatadas vão além das questões financeiras, incluindo espera prolongada e obstáculos para agendamento de consultas e exames. 

A amostra foi composta por 60,7% de homens e 39,3% de mulheres, a maioria com ensino superior e atendida pela saúde suplementar, o que demonstra um público informado e engajado.

O painel, mediado pela apresentadora e conselheira do IVOC Ana Furtado, reuniu os oncologistas Suelen Martins e Felipe Cruz e a nutricionista Narjara Pereira Leite, que discutiram estratégias para apoiar pacientes e familiares durante todas as etapas do tratamento. O cirurgião-dentista José Reinaldo de Souza compartilhou sua experiência pessoal de diagnóstico, emocionando o público.

O cofundador do IVOC, Dr. Fernando Maluf, participou de forma inovadora por meio de holografia, destacando o potencial da tecnologia para ampliar o acesso à informação e fortalecer o debate sobre os desafios do câncer de bexiga. A plateia que acompanhou a apresentação recebeu um “diário” exclusivo, com os principais dados da pesquisa e páginas para anotações, pensado para apoiar pacientes na organização de informações relevantes ao longo de sua jornada de tratamento.

Ao final do evento, o IVOC anunciou o lançamento de um novo episódio do mesacast “Vozes que Inspiram, Conexão que Transforma” sobre câncer de bexiga, com informações sobre diagnóstico e tratamento, com relatos que ajudam a compreender melhor a trajetória dos pacientes. Clique aqui para assistir na íntegra.

Avanços trazem esperança inédita para pacientes com câncer de bexiga

Depois de cerca de três décadas sem grandes novidades, o tratamento do câncer de bexiga está diante de uma revolução. “Foram quase 30 anos sem nenhuma mudança significativa. E nos últimos cinco anos tivemos uma avalanche de novidades”, explica Andrey Soares, oncologista clínico do Centro de Oncologia do Einstein Hospital Israelita e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. 

Segundo ele, essas novas opções já começam a transformar a realidade de pacientes que antes tinham poucas alternativas: “Hoje já falamos em estratégias que aumentam as chances de cura e, em casos metastáticos, prolongam o tempo de vida com qualidade.”

Essas inovações e a qualidade dos tratamentos é que trazem esperança para pacientes como Sonia Maria de Andrade, que se beneficia das vantagens que a imunoterapia trouxe, e Orlando Campos Filho, que segue em tratamento combinado com imunoterapia e terapia alvo e busca manter sua saúde equilibrada para se beneficiar das novas terapias que surgem.

O câncer de bexiga é um dos tumores urológicos mais desafiadores. Além de atingir com frequência pessoas idosas, muitas vezes vem acompanhado de doenças associadas, como problemas cardíacos, pulmonares ou renais — o que limita o acesso a tratamentos agressivos. “É uma doença que a gente precisa entender em três cenários diferentes”, ressalta Andrey Soares.

Cenário 1 – Doença não músculo invasiva

Nessa fase, o tumor ainda está restrito à bexiga, sem atingir a camada muscular. “O tratamento muitas vezes é local, em raspagem feita pelo cirurgião”, detalha o especialista. Dependendo das características, pode ser indicado o uso da vacina BCG (a mesma utilizada contra a tuberculose) aplicada diretamente na bexiga. Esse tratamento pode durar até três anos e tem como objetivo reduzir a chance de recidiva.

A novidade, no entanto, vem de tecnologias que prometem mudar o padrão. “O que é novidade nesse cenário é um dispositivo inteligente, colocado pelo urologista dentro da bexiga, que vai liberando aos poucos a quimioterapia. Parece um ‘pretzel’ com a medicação dentro. Ele fica soltando o remédio de forma prolongada, melhorando muito os resultados.”

Esse tipo de recurso ainda não se encontra disponível no Brasil, mas está em fase avançada de estudo tanto no país quanto fora. Outra inovação em análise é uma nova imunoterapia chamada super agonista da interleucina 15, já aprovada nos Estados Unidos. Há ainda o nadofaragene firadenovec, que é um adenovírus, também aprovado nos Estados Unidos e que em breve deve chegar ao Brasil. “São drogas que estimulam o sistema imunológico. Tem estudos em pacientes que não responderam ao BCG e que mostraram resultados promissores”, explica, acrescentando. “A combinação de imunoterapia (anti PD1) com BCG também já apresentou resultados muito promissores para tratamento de primeira linha dos pacientes, sendo até melhor que a BCG isoladamente”. 

Cenário 2 – Doença músculo invasiva

Quando o tumor invade o músculo da bexiga, o tratamento padrão ainda envolve cirurgia de retirada do órgão. “É um tratamento de grande porte, que impacta muito a qualidade de vida”, reconhece o especialista. Para esses pacientes, a combinação de quimioterapia e imunoterapia trouxe resultados significativos.

“Recentemente aprovado no Brasil, temos tratamento com quimioterapia baseada em cisplatina associada a uma imunoterapia chamada durvalumabe. Esse tratamento não impede a retirada da bexiga, mas aumenta as chances de cura.”

O desafio é que nem todos conseguem receber a cisplatina — cerca de metade dos pacientes não é elegível, devido a doenças associadas. Para esse grupo, uma nova combinação apresentou resultados animadores. “Tivemos dados positivos da associação de imunoterapia (pembrolizumabe) com o enfortumab vedotin, um anticorpo conjugado à droga. É um ‘cavalo de Troia’: ele se liga à célula tumoral e libera a quimioterapia dentro dela.”

Cenário 3 – Doença metastática

No estágio avançado, em que a doença já se espalhou, as inovações também trazem bons resultados. A primeira grande mudança veio em 2020, com a manutenção de imunoterapia após a quimioterapia. Mas os últimos anos trouxeram combinações ainda mais potentes.

“Hoje, a melhor estratégia é a associação de pembrolizumabe com enfortumabe vedotin. Esse tratamento inteligente aumenta o controle da doença e o tempo de vida do paciente.”

Além disso, novos anticorpos conjugados estão em estudo, mirando diferentes alvos nas células tumorais. “É um universo acontecendo. Isso traz esperança para os pacientes, porque muita gente ainda tem aquela ideia de que não há opções para o câncer de bexiga. Cinco anos atrás era compreensível, havia poucas opções. Mas agora a realidade é outra.”

Futuro com protagonismo brasileiro

Entre as pesquisas mais promissoras está um estudo internacional capitaneado no Brasil, que pode mudar protocolos em todo o mundo. “É uma pergunta que nunca foi respondida: para o paciente com doença localizada, o melhor tratamento é a quimioterapia antes da cirurgia ou a radioterapia associada à quimioterapia?”, aponta o médico.

O projeto, liderado pelo oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer, contará com participação de centros brasileiros. “É uma mudança de paradigma global, e é muito importante que o Brasil esteja na linha de frente”, reforça.

Celebrando a vida com gratidão

Sonia Maria de Andrade tinha 63 anos quando recebeu um diagnóstico que mudaria sua vida. Hoje, aos 68, ela relembra o início da jornada contra o câncer com clareza e emoção.

“Eu não percebi nada no começo, apenas senti muita dor que irradiava pelas nádegas. Disseram que era nervo ciático e tentei três injeções oferecidas pelo hospital, mas a dor não passou”, conta. Preocupada com a persistência do quadro, sua filha a levou ao Hospital Nipo-Brasileiro, onde um exame endovaginal revelou a presença do câncer. “Fiquei muito chocada, sem chão, sem entender o que estava acontecendo.”

Ela buscava tratamento especializado e uma conhecida do condomínio indicou o A.C. Camargo. Foi lá que Sonia realizou novos exames e aguardou a biópsia que confirmaria a origem do tumor primário. “Esperei trinta dias com muitas dores até sair o resultado”, relembra. A notícia veio acompanhada de esperança: a oncologista clínica Maria Nirvana Formiga, que Sonia chama carinhosamente de “minha médica maravilhosa”, iniciou imediatamente o tratamento. “Fiz seis ciclos de quimioterapia e já foi indicada a imunoterapia, que faço até hoje.”

Cinco anos depois, o resultado é motivo de comemoração. “Minha metástase nos linfonodos se curou, e estou aqui feliz e contente, graças a Deus e à minha doutora que cuida de mim”.

“Tento manter o estado geral porque posso me beneficiar com novas terapias que vão surgindo”

As primeiras dores vieram como cólicas renais. Orlando Campos Filho, hoje com 72 anos, lembra bem. “Eu tive umas cólicas renais, três ou quatro episódios, e o curioso é que eu não tinha cálculos. Fazia exames, mas não aparecia nada”, recorda do que aconteceu há 11 anos.

As dores passaram e cerca de um ano depois apareceu sangue microscópico na urina. Ainda assim, a hipótese parecia inofensiva. “Eu achava que era de cálculos residuais. Sabe como é médico, a gente negligencia com a própria condição”, comentou o cardiologista, lembrando que os sinais poderiam ter antecipado a detecção da doença.  Só mais tarde uma tomografia e ressonância revelariam a verdadeira causa: um câncer de bexiga, já em estágio invasivo.

Iniciou quimioterapia intensa, interrompida devido a complicações na medula e nos rins. Passou por uma cirurgia extensa, que retirou a bexiga e a próstata, com a reconstrução de uma nova bexiga a partir do intestino. “Meu receio era nem sobreviver à fase hospitalar. Mas com a graça de Deus, eu consegui.”

Pouco tempo depois, Orlando estava de pé em um momento que parecia improvável: o casamento da filha. “Eu não sabia se ia estar vivo. Minha filha queria suspender o casamento, e eu disse: você vai ter a festa comigo presente ou sem mim. E eu consegui estar lá.”

Nos anos seguintes, enfrentou novas etapas da doença: em 2019, uma recidiva levou à retirada do rim esquerdo. Depois, vieram tratamentos com imunoterapia e, mais tarde, terapias alvo associadas à quimioterapia. Radioterapias pontuais também foram necessárias para conter metástases pulmonares. Atualmente, Orlando segue em tratamento combinado com imunoterapia e terapia alvo, acompanhando de perto cada evolução com exames de imagem regulares.

Segue atendendo pacientes, cuidando da saúde, viajando para ver os netos. “Tento manter o estado geral porque posso me beneficiar com novas terapias que vão surgindo.”

E deixa um recado direto, fruto de sua experiência de médico e paciente: “Sempre fazer a prevenção: ir ao médico, a um clínico geral, periodicamente. E não minimizar a presença de sangue na urina, mesmo microscópico. Sempre vai atrás, que alguma causa deve ter.”

Publicação: 22/09/2025 | Atualização: 22/09/2025

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