A alimentação pode ser grande aliada no tratamento do câncer. O paciente bem nutrido tem melhor tolerância ao tratamento, menor índice de complicações, recuperação mais rápido de intercorrências e melhor qualidade de vida. No entanto, as diversas estratégias para o tratamento do câncer podem causar efeitos colaterais com grande impacto na alimentação e, por isso, é importante ter uma atenção especial à nutrição do paciente. Este cuidado com a nutrição engloba a avaliação do indivíduo, seus hábitos alimentares, composição corporal, alterações da sua dieta com o tratamento, preferências, aversões e necessidades nutricionais, buscando orientar e adaptar os alimentos e preparações em quantidade e distribuição adequada para atingir suas metas diárias.
Muitos pacientes optam por excluir o consumo de alimentos crus como saladas e frutas com casca com receio de trazerem risco, já que algumas modalidades de tratamento podem reduzir a imunidade. Porém, estes alimentos são fundamentais para a manutenção da saúde. Além de auxiliarem com o manejo de alguns efeitos colaterais do tratamento, não representam risco, se devidamente higienizados.
Quem disse que não pode comer saladas cruas? Saladas cruas são permitidas durante o tratamento, desde que higienizadas e conservadas de maneira segura! Os carboidratos também geram muitas dúvidas, mas não são proibidos. Dentro de uma dieta equilibrada, o consumo de carboidratos garante o substrato energético para o funcionamento do organismo e, assim, a retirada dos mesmos pode gerar perda de peso e massa muscular. Preferir cereais integrais, pães e massas mais caseiras ou associar pães brancos ou arroz branco a uma boa fonte de fibras pode manter o equilíbrio da dieta. Nos casos de diarreia, os pães brancos, polvilho e tubérculos podem colaborar para o equilíbrio e reduzir o desconforto. A adoção de dietas restritivas não é recomendada durante o tratamento oncológico, assim como também não é indicado seguir com hábitos alimentares inadequados.
Não há necessidade de proibição de alimentos e sim de equilíbrio dos mesmos na dieta, garantindo o consumo de vegetais e frutas em grande quantidade, cereais preferencialmente integrais, leguminosas, carnes magras, castanhas e óleos vegetais. Em alguns casos, o paciente não consegue ingerir as quantidades adequadas e, nesse momento, pode ser indicado pelo profissional de saúde um complemento alimentar da dieta para recuperar ou manter o seu estado nutricional. Os complementos podem ser compostos por um nutriente isolado ou uma combinação deles. Há apresentações em pó, líquidos ou cremes. Podem ser ingeridos puros ou associados a alimentos e são grandes aliados na composição de uma dieta adequada. Consumir os complementos nos intervalos das refeições, fracionados em doses menores ou até associado, quando permitido, a medicações pode ser uma boa estratégia! O incentivo à adoção de hábitos saudáveis de alimentação é de grande importância, não só para a prevenção do câncer, como também para a melhora da resposta ao tratamento oncológico, mas não é necessário restringir alimentos ou grupos de alimentos à dieta. A orientação profissional e avaliação individualizada são a melhor forma de adequar o aporte correto de nutrientes e prevenir ou corrigir eventuais erros nutricionais durante o tratamento, colaborando assim para seu sucesso.
E quem disse que não pode comer um prato de macarrão fresco durante o tratamento oncológico? Um prato de macarrão fresco com molho de tomates, carne moída e acompanhado de uma salada representa uma refeição completa e equilibrada.
Dra. Mariana Ferrari
Nutricionista
Receita
Molho de tomate caseiro:
5 tomates italianos maduros
½ cebola
1 dente de alho
1 talo de salsão
Manjericão, pimenta do reino, azeite e sal a gosto
250 ml de água
Em uma assadeira, coloque os tomates cortados ao meio com a parte da pele em contato com o fundo da assadeira. Coloque também a cebola picada e o alho. Tempere com sal, pimenta, azeite e leve ao forno médio por cerca de 40 minutos. Retire a assadeira do forno, deixe amornar um pouco. Em um liquidificador, bata os tomates, a cebola e o alho sem a casca com a água até obter uma mistura homogênea. Leve o molho ao fogo para apurar com salsão, azeite e manjericão. Está pronto para consumo ou pode ser congelado para ser usado em outras preparações.
Referências bibliográficas
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- CHAVES,A.L.F et al Guia de nutrição para o oncologista. SBOC, 2021. Acesso em 03/03/22
- MUSCARITOLI,M. et al. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in cancer. Clin Nutr. 2021 May;40(5):2898-2913. doi: 10.1016/j.clnu.2021.02.005. Epub 2021 Mar 15. PMID: 33946039.
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- PMID: 34891022.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.