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Entenda melhor o CAR T-Cell 

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Saiba mais sobre esta terapia inovadora utilizada com sucesso para alguns tipos de câncer de sangue.

CAR T-Cell. Poucas letras que podem salvar muitas vidas…

Para esclarecer algumas das principais dúvidas sobre CAR T-Cell, este tratamento inovador, pedimos que o médico Breno Moreno de Gusmão, onco-hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e da Oncoclínica, no Distrito Federal, integrante do comitê científico do Instituto Vencer o Câncer, respondesse dúvidas de pacientes.

CAR T Cell é um tratamento personalizado que usa células de defesa extraídas do próprio paciente e moldadas em laboratório para atuar em alvos específicos e combater o tumor. Isto é, as células são reprogramadas para atuar contra a doença. Esta terapia inovadora, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2022, teve sua aplicação fora de pesquisas no Brasil pela primeira vez no início deste ano. 

Dr. Breno explica que atualmente o CAR T-Cell está aprovado no Brasil para o tratamento de:

∙      leucemias linfoblásticas B pediátricas até 25 anos;

∙      linfomas B agressivos após quimioterapia e transplante autólogo;

∙      linfoma do manto também em recidiva após transplante (deve começar a indicação em breve). 

∙      mieloma múltiplo (ainda não utilizado mas deve começar em breve).

“Esses tratamentos foram excelentes, variando de estudo a estudo, de 65% até 90% nas taxas de respostas dos pacientes que receberam CAR T-Cell para o tratamento de resgate de leucemias e linfomas”, esclarece.

“Também já temos aprovado no Brasil CAR T-Cell para mieloma múltiplo, porém ainda não está sendo utilizado – esperamos que em breve. Vemos resultados sensacionais em pacientes poli tratados – que já receberam várias linhas de tratamento e que agora provavelmente não teriam opção terapêutica. Foram

submetidos a CAR T-Cell e apresentaram resultados fantásticos, de quase 100% de resposta”.

Avanços nos resultados

Quanto aos resultados em comparação a outros tratamentos e uso em fase mais precoce, o onco-hematologista avisa que as análises ainda estão sendo realizadas, como em linfomas, por exemplo.

Contudo, explica que em mieloma múltiplo os dados são bem relevantes em fases tardias, mas também em fases mais precoces, em segundas e terceiras linhas, com resultados bem robustos que provavelmente levarão o CAR T-Cell como uma opção em fases mais precoces, principalmente com pacientes de alto risco, que têm maior probabilidade de resistência aos tratamentos convencionais.

Dúvidas dos pacientes

∙      Cristiane de Brito Rodrigues Robles 

Teve diagnóstico de tricoleucemia no final de 2016, tratou e entrou em remissão. Apesar da melhora, entende que a doença está adormecida e gostaria de saber se poderá ter esperança de, em caso de uma recidiva, contar com esse tratamento. 

“Meu câncer não tem cura, vou viver com ele para sempre. A chance de voltar é grande. A quimioterapia funciona bem, sou a prova viva disso, mas não tem como saber se minha medula vai reagir novamente bem e encontrar um doador compatível é difícil e o corpo pode recusar. O CAR T-Cell parece ser uma opção melhor e eu gostaria muito de saber se haveria esperança dele consertar de vez a minha medula”. Veja aqui o depoimento completo da paciente.

Resposta do Dr. Breno Gusmão 

A tricoleucemia ainda não tem indicação de receber CAR T-Cell. Como não temos resultado nesse tipo de doença, o tratamento não está aprovado. Entretanto, há outras opções de tratamentos-alvo para mutações específicas que podem ser observadas na tricoleucemia. Por isso é importante verificar a biologia da doença com análises específicas para saber se existem as alterações indicadas para se beneficiar desses novos tratamentos-alvo.

∙      Duda Dornela

Teve diagnóstico de leucemia mieloide crônica em janeiro de 2015. Via seu perfil @valorizaravida compartilha experiências e recebe muitas perguntas de outros pacientes, principalmente com recidiva. 

“O que os pacientes mais querem é a cura e sabemos que o CAR T-Cell só está indicado para alguns tipos de doenças, não abrangeu muitas. Queria saber quando esse tratamento vai chegar para todo mundo de forma eficaz e se será expandido para outras patologias”. Veja aqui o depoimento completo da paciente.

Resposta do Dr. Breno Gusmão 

Os tratamentos com CAR T-Cell estão evoluindo bastante, principalmente em câncer de próstata e mama. Há vários estudos em andamento. Para cada tipo de tumor está sendo investigado o melhor alvo terapêutico para que esse linfócito treinado e manipulado em laboratório seja eficaz e não suficientemente agressivo para ser muito tóxico para o paciente.

∙      Andre Torres 

Teve diagnóstico de leucemia aguda em junho de 2018. 

“Como ativista da causa junto aos pacientes queria entender por que não se pode iniciar já com esse tratamento, sabendo que é mais eficaz, menos danoso para o paciente, que não precisaria passar por vários ciclos de quimioterapia nem transplante de medula, que tem um risco grande. Veja aqui o depoimento completo da paciente.

Resposta do Dr. Breno Gusmão 

Todo remédio, para ser colocado no mercado, é testado por pesquisa clínica. Passa por várias fases de testes, desde iniciais, para saber se tem toxicidade e se pode ser usado em seres humanos; depois testa se é eficaz naquele tipo de célula. É testado em comparação com os tratamentos já disponíveis para então ser comercializado, devido à aprovação e aos bons resultados que apresenta em todas as pesquisas. O medicamento tem que ser seguro e eficaz. Quando chega uma nova droga ela não começa já na primeira linha, no tratamento inicial de uma doença. Ela é testada em situações em que não haveria muitas oportunidades de tratamento. Depois que se mostra eficaz vai galgando fases mais precoces para ser avaliada, comparando com outros estudos e outros protocolos de tratamentos, outras combinações, para saber se é eficaz. A partir do momento que se mostra eficaz, vai sendo utilizada, da melhor maneira possível e quando estiver disponível.

∙      Lucas Visconti 

Teve o diagnóstico de leucemia linfoblástica aguda tipo B em janeiro de 2017, aos 21 anos, depois de cerca de dois a três meses com fortes sintomas, como dores de cabeça e tontura. Já teve quatro recidivas. 

“Vemos muitos pacientes fazerem ‘vaquinha’ para se tratar com CAR T-Cell fora do país. Qual é a dificuldade de implantar de forma segura o CAR T- Cell para pacientes que têm recidiva? E qual a perspectiva de se tornar o tratamento de primeira linha para leucemia e linfoma – existe essa perspectiva de no futuro ser o tratamento de primeira linha no Brasil?” Veja aqui o depoimento completo do paciente.

Resposta do Dr. Breno Gusmão 

Todo medicamento passa por um processo de normativas nas agências regulatórias para ter seu registro no país e poder ser comercializado. Nesse caso é preciso montar uma infraestrutura para controle das células, garantindo segurança não só da eficácia e da toxicidade, mas também de que essas células não vão morrer antes de serem administradas. É preciso ter cuidado porque estamos tratando de um medicamento que está dentro de uma célula, exige uma infraestrutura. No mundo inteiro essas células são manipuladas nos mesmos lugares. Coletamos as células dos pacientes, por exemplo, no Brasil, Estados Unidos, Espanha e Japão, e enviamos para uma plataforma de manipulação, seja nos Estados Unidos ou na Europa, que vai fazer o CAR T-Cell para o mundo todo. Precisa de uma estrutura bem complexa de produção. Sobre as perspectivas, o próprio tempo dirá, com os estudos e pesquisas clínicas, se ele é ou não mais eficaz do que os tratamentos convencionais que temos hoje disponíveis. A partir do momento que se mostre mais eficaz, passaremos a avaliar a possibilidade de utilizá-lo em primeira linha.

Viviane Pereira
Jornalista

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