Os tumores de cabeça e pescoço em geral, como o carcinoma epidermoide ou o de tireoide, têm tendência de enviar células metastáticas para os gânglios linfáticos do pescoço. Em outras palavras, o câncer pode se espalhar por essa região. A fim de prevenir ou até mesmo como forma de tratamento, pode ser solicitado um procedimento cirúrgico denominado esvaziamento cervical.
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“Trata-se de uma limpeza dos gânglios do pescoço, pois se houver disseminação da doença para essa região, torna-se necessária a remoção desses linfonodos e de outros tecidos adjacentes”, explica o cirurgião oncológico do A.C.Camargo Cancer Center, Thiago Celestino Chulam. O procedimento pode ser realizado de forma seletiva, ou seja, com a remoção de algumas cadeias de gânglios, ou radical, removendo todas as cadeias. Mesmo nesse último caso, sempre que possível são preservadas estruturas de importância funcional.
Efeitos colaterais comuns
Por conta do esvaziamento, os efeitos colaterais mais comuns são dormência da orelha, fraqueza ao levantar o braço acima da cabeça e desvio do lábio inferior. “De uma forma geral e simplista, o pescoço está dividido em seis níveis cervicais, e cada tumor tem alguma predileção por determinadas cadeias. Temos uma série de estruturas importantes no pescoço, como as veias, as artérias e os nervos. Por meio de alguns desses nervos, por exemplo, é que conseguimos elevar o braço acima da altura do ombro. Então, por conta da intervenção cirúrgica, torna-se um queixa muito comum a dor e sensação de peso no ombro”, explica o dr. Chulam. [relacionados]
Ainda segundo o especialista, a maior parte dos esvaziamento cervicais manipula muito o nervo acessório, que conduz estímulo para o músculo trapézio. Em alguns casos de intensa manipulação, esse nervo pode transmitir o estímulo de forma lenta, ou até mesmo não transmitir, o que pode culminar em fraqueza na musculatura do ombro e sensação de braço pesado. Além disso, alguns pacientes podem passar a sofrer de hipersensibilidade desse nervo e ocasionalmente ocorrer sensação de choque.
A fisioterapia é altamente indicada no pós-operatório, com o objetivo de manter a amplitude do movimento do ombro e fortalecer a musculatura local. “A quantidade de sessões vai depender do paciente, porque a dor e a sensação de peso podem demorar de um a seis meses para cessar. Em alguns casos específicos, ela pode se tornar crônica. Sessões de acupuntura também podem ser utilizadas”, afirma o especialista.
Na região da cicatriz, muitos pacientes reclamam que sentem algo “como se fosse um puxão”. Dr. Thiago Chulam diz que isso acontece porque a cirurgia não é somente aquele corte que aparece no pescoço. Na verdade, o procedimento mexeu com as estruturas de toda região cervical, então é normal que a área fique enrijecida.
Queixas hormonais
Algumas pessoas que passaram por esvaziamento cervical relacionam o procedimento a desequilíbrios hormonais, mas uma coisa não tem a ver com a outra. O que ocorre é que metástases cervicais também podem ser originadas de tumores na tireoide. Nesses casos, a limpeza dos gânglios do pescoço ocorre complementando a remoção da glândula, mas não interfere na questão dos hormônios. “Quando se retira a tireoide, é necessário repor a sua função, senão pode haver um desequilíbrio hormonal. Então, é importante destacar que o esvaziamento cervical não altera o organismo nesse sentido”, explica o oncologista.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.