Em 2015, o Novembro Azul começou diferente. O mês que é marcado pela conscientização acerca do câncer de próstata — um tipo de tumor muito comum entre o público masculino e que acomete mais homens na faixa dos 60 anos — despertou debates acerca da necessidade do exame de toque e do PSA.
Após décadas de iniciativas para que os homens se cuidassem — mais de 50% deles nunca pisaram num consultório de urologista –, começaram a pipocar na internet declarações de que os exames de rastreamento, na verdade, geram mais malefícios do que benefícios. Primeiro foi o Secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo dos Reis. Em entrevista a uma rádio gaúcha, ele disse que o rastreamento populacional (aquele realizado por programas do governo sobre um determinado grupo visando detectar precocemente as doenças) implica em procedimentos invasivos e muitas vezes desnecessários nos pacientes, como biópsias e cirurgias.
Veja aula do dr. Fernando Maluf sobre o exame de toque
O secretário segue a mesma linha do INCA (Instituto Nacional do Câncer), que também não recomendada como política de saúde pública ações de rastreamento e defende que os homens devem demandar espontaneamente a realização de exames. Os médicos de família logo em seguida emitiram nota que declara: “em 2012, o United States Preventive Services Task Force (USPSTF) passou a contraindicar o rastreamento de câncer de próstata baseado em PSA para homens estadunidenses de qualquer idade. Outras entidades, como o Canadian Task Force on Preventive Health Care, o American Academy of Family Physicians e o United Kingdom National Screening Comittee, fazem recomendações semelhantes.”
Diante desse impasse, em que uma hora recomenda-se que os homens façam o exame anualmente a partir dos 50 anos, mas depois saem justificativas dizendo que não é bem assim, é normal que o leitor fique confuso.
Segundo o dr. Fernando Maluf, oncologista e um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer, os tumores que poderiam ser diagnosticados, na maioria das vezes, são de baixa agressividade. Porém, cerca de 20% são tumores agressivos e que podem se espalhar para o restante do corpo. Mesmo levando isso em conta, os estudos de referência para a decisão de não rastrear apontam que não haveria redução da mortalidade com o diagnóstico precoce.
Prevenir é importante
“Entretanto, não quer dizer que a prevenção não funcione, porque funciona. Mas em nível populacional, tais estudos não mostraram a taxa de redução que gostaríamos. Ainda assim, cabe ao urologista realizar a avaliação do paciente para rastreamento da doença, baseado no perfil do indivíduo, no histórico familiar etc.”.
Por exemplo, se o pai ou irmão tiveram câncer de próstata, a incidência é 10 vezes maior do que na população em geral. Nesses casos, o rastreamento é bem indicado e deve ser feito regularmente a partir dos 45 anos, para diagnosticar precocemente o tumor, uma vez que esse indivíduo tem risco de ter um câncer mais agressivo. O mesmo vale para homens negros, que apresentam maior propensão a esse tipo de tumor em comparação com a população branca.
Lucas Nogueira, responsável pelo departamento de Uro-oncologia da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), explica que estudos recentes feitos na Europa mostram que políticas de rastreamento do câncer de próstata estão sim associadas a uma diminuição de até 20% nos óbitos pela doença no futuro, num período de 15 anos. Ele reforça ainda que o interesse das sociedades médicas é na saúde dos indivíduos, portanto, cada caso deve ser avaliado de maneira unitária. “O homem, a partir dos 45, 50 anos, deve procurar um urologista para realizar os exames preventivos, entre eles o toque retal. No caso do PSA, se der menor que 1 ng/mL, nós temos segurança para repetir esse exame somente cinco anos depois. É preciso ter esse equilíbrio, e não soltar resoluções de que não se deve fazer. Isso é dar um passo para trás. Foram anos de conscientização, pois o homem, naturalmente, possui uma resistência a procurar ajuda médica.”
Portanto, se você é homem e tem mais de 50 anos, esse texto é para você. Em relação à saúde pública, pode ter sentido a decisão do não rastreamento. Mas, saindo da esfera populacional e focando no indivíduo, não deixe de fazer consultas anuais e conversar com seu urologista sobre os exames. Se você descobrir um câncer, não faz mais sentido analisar as circunstâncias do momento e, se for o caso, tratá-lo o quanto antes?
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.