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Dinâmica familiar no contexto do paciente oncológico

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Gabriela Loureiro de Lima

O câncer, como toda doença, ocorre em sua dimensão biopsicossocial, ou seja, abrange os aspectos biológicos, psicológicos e sociais dos sujeitos que são acometidos por ela. E no aspecto social se destaca a participação da família, e o impacto para a mesma das consequências desse adoecimento.

Como o câncer afeta a família?


As patologias crônicas trazem implicações significativas, e o câncer ainda carrega um estigma historicamente constituído atrelado ao símbolo da morte, o que também se desdobra em consequências emocionais e psicológicas para à pessoa com câncer e sua família.

As mudanças vão desde o âmbito prático, como acompanhar o paciente em exames, consultas e no tratamento, ao campo social e emocional, como na mudança de papéis dentro do núcleo familiar, bem como pelo sofrimento em ver uma pessoa querida sofrendo, com a presença de sentimentos como tristeza, preocupação, frustração e medo.

Dificuldades frequentes, nesse contexto de perda do mundo conhecido para os familiares, são a presença de estresse, podendo acarretar impactos físicos como insônia, e as perdas financeiras, a depender da contribuição do paciente para a estabilidade do grupo, e dos novos gastos com o cuidado em saúde em si.

O que fazer para ajudar uma família afetada pelo câncer?


Assim, a família passa a vivenciar esse novo cenário e desenvolver maneiras e ferramentas para lidar com as questões que surgem. As formas de enfrentamento comuns geralmente remetem às práticas que a auxiliam ou auxiliaram em outros momentos difíceis em sua vida, como a vivência espiritual ou religiosa, o suporte de amigos e familiares, o aprofundamento em alguma prática que as distraia como trabalho ou algum hobby que a traga prazer.

No entanto, também é possível que familiares desenvolvam mecanismos de defesa não conscientes como a negação, minimizando a gravidade dos eventos de forma a se proteger de um contexto doloroso, ou o silenciamento, evitando falar da doença ou dar voz aos sentimentos indesejados que giram ao entorno dela.

Também se nota com frequência que familiares presentes no cuidado do paciente abandonam seu autocuidado, o que no longo prazo pode prejudicar sua saúde física e mental, devido à sobrecarga nesses campos.

Por isso se mostra fundamental que a família que participa do cotidiano desse paciente seja orientada de maneira ampla e global, acerca dos diversos quesitos que abrangem a terapêutica do paciente oncológico.

Quais são as opções de apoio e suporte disponíveis para famílias afetadas pelo câncer?

Diante de tais questões, podemos ressaltar a importância de que os familiares sejam escutados pela equipe de saúde, que a família possa compartilhar suas angústias e ser acolhida e orientada pelos profissionais que acompanham o paciente, desde a equipe médica, a de enfermagem, psicologia, nutrição, farmácia, fisioterapia, capelania.

Todas essas áreas podem participar em algum momento do cuidado ao paciente oncológico e contribuem sanando dúvidas, acolhendo e se mostrando disponíveis para o grupo familiar.

A equipe de psico-oncologia pode realizar o cuidado tanto do paciente quanto do grupo familiar, atuando na psicoeducação, no apoio psicológico e suporte emocional.

Esse acompanhamento pode gerar benefícios ao longo de todo caminho de cuidado do paciente, e traz ganhos significativos principalmente nos períodos críticos do adoecimento, por exemplo, no seu diagnóstico, ao início de um tratamento, ou ao receber uma má notícia acerca do curso de sua doença.

É importante compreender como o grupo que está próximo à pessoa com câncer se organiza pragmática e psicologicamente para oferecer apoio, reiterando a importância da autopreservação e do momento de autocuidado para quem destina o cuidado ao outro.

De maneira geral, a presença afetiva se apresenta como relevante fator de proteção e sustentação para a pessoa com câncer e seus familiares, presença marcada por palavras, gestos, encontros e também com a facilitação de atividades de cunho prático, que podem aliviar o peso de uma rotina marcada por diversas tarefas indesejadas.

O vínculo sempre será um poderoso aliado no combate ao câncer, e que muitas vezes por si motiva os pacientes a realizarem seus tratamentos. Assim, devemos lembrar que o adoecimento oncológico é um acontecimento compartilhado, vivido junto, e sua cura e cuidado também se dá nesse enlace.

Gabriela Loureiro de Lima é psicóloga formada pela Universidade de São Paulo, especialista em Cuidado ao Paciente Oncológico pelo Hospital Sírio Libanês. Atua como psicóloga clínica e psicóloga hospitalar na área oncológica em São Paulo. É integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.

Fontes:

DE MOURA FETSCH, Camila Fernanda et al. Estratégias de coping entre familiares de pacientes oncológicos. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 62, n. 1, p. 17-25, 2016. https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/175/100

FIGUEIREDO, Tamara et al. Como posso ajudar? Sentimentos e experiências do familiar cuidador de pacientes oncológicos. ABCS Health Sciences, v. 42, n. 1, 2017. https://nepas.emnuvens.com.br/abcshs/article/view/947/759

MONTEIRO, Suelen; LANG, Camila Scheifler. Acompanhamento psicológico ao cuidador familiar de paciente oncológico. Psicol. argum, p. 483-495, 2015. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-835158

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