Última atualização em 27/09/2022
“O que o paciente precisa lembrar é que ele pode não apresentar nenhum desses sintomas das histórias que chegaram até ele. A radioterapia hoje evoluiu muito”, lembra Robson Ferrigno, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, também diretor do departamento de Radioterapia da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
O especialista reconhece que existe mesmo muito desconhecimento. O ideal é que o paciente converse francamente com seu médico para esclarecer as dúvidas e começar o tratamento mais confiante. Outro alerta diz respeito a dúvidas bastante comuns. Com a radioterapia, o cabelo vai cair?
“É uma preocupação frequente. É o momento de explicar que a radioterapia só vai provocar efeito colateral na área tratada”, esclarece Ferrigno. “Então, só vai cair o cabelo se essa região for irradiada”, acrescenta.
Muitos pacientes também acham que podem ficar radioativos durante o tratamento, o que só acontece em casos específicos. “A radioterapia externa não deixa nenhum tipo de radiação remanescente. O paciente pode ficar tranquilo porque sua família, amigos e colegas de trabalho não estarão expostos a nenhum tipo de radiação”, ensina Ferrigno.
O medo de queimaduras e lesões de pele nem sempre tem razão de ser e é outro estigma que costuma acompanhar o paciente e traz dúvidas até mesmo entre profissionais da saúde. “A minha cunhada teve câncer de mama, fez radioterapia, e passava camomila na pele, para amenizar. A enfermeira me falou para fazer banho de assento de camomila e eu ficava imaginando ‘caramba, mas será que vai queimar?’”, conta Luiz Nunes, 67 anos, atualmente em tratamento para câncer de próstata.
“A gente não sabe, não tem experiência, mas se a enfermeira fala isso você pensa, tenho que fazer, né? Aí conversei com meu médico e ele me disse para esquecer essa história, porque no câncer de próstata não tem necessidade”, diz ele, que hoje recebe o tratamento com IMRT, a chamada radioterapia de intensidade modulada, sigla do termo em inglês Intensity Modulated Radiation Therapy.
A radioterapia tem sido empregada desde o final dos anos 90 e permite emitir feixes de radiação de intensidade modulada. Significa dirigir doses mais concentradas de radiação na área-alvo, com a possibilidade de preservar áreas críticas, o que diminui a exposição dos tecidos normais à radiação e reduz os efeitos tóxicos do tratamento.
“Eu acho que a enfermeira devia estar mais informada, porque comprei meia dúzia de caixas de camomila, e já estava pensando que ia ter que comprar mais”, diz Luiz, agora mais aliviado depois de iniciar o tratamento e perceber que a radioterapia podia ser bem diferente do que imaginava de início. “Ainda me preocupo, mas converso com meu médico e ele me tranquiliza. Hoje eu estou otimista, não adianta ficar de cabeça baixa. Primeiro, tem que procurar um tratamento adequado, um médico que transmita confiança, isso é importante. E tem que procurar manter a cabeça no lugar. Levar a vida, né? Procurar o melhor tratamento, confiar e aí seguir em frente, de cabeça fria”, recomenda.
Luiz acabou de fazer a sexta sessão de radioterapia, de um total de 39, e não sentiu nenhum efeito desagradável, a não ser um pouco de desconforto ao urinar. “De resto, não tenho sintoma nenhum, as sessões duram em torno de 10 minutos e saio de lá normalmente.”
Modernização
Com a modernização e o refinamento da técnica, ficou mais evidente o papel curativo da radioterapia. Diferentes tipos de câncer são curados com a radiação, que em casos selecionados pode substituir com vantagens a cirurgia e as morbidades associadas.
“No câncer de próstata, por exemplo, muitas vezes tratamos o paciente com radioterapia com resultados tão bons quanto a prostatectomia, sem os riscos associados”, lembra o radio oncologista.
Nos últimos anos, o planejamento e a execução da radioterapia viveram o impacto dos avanços em hardware e software. Nos casos de câncer que afetam a região da cabeça e pescoço, a radioterapia é cada vez mais utilizada como parte do tratamento.
“Em lugar de cirurgias que poderiam ser mutilantes, a radioterapia se apresenta hoje como excelente opção de tratamento. Hoje mesmo, atendi um paciente com tumor de laringe que vai ser curado só com a radioterapia. Se fosse operado, ele perderia a voz”, ilustra o especialista.
Por essas e outras, antes de alimentar fantasmas e se assombrar com a radioterapia, o melhor é sempre buscar informação de qualidade e conversar com a equipe médica responsável.