Por Viviane Pereira
A ideia do Novembro Azul como uma campanha para que os homens realizem anualmente exames de próstata e PSA não é mais a mesma: evoluiu, acompanhando os avanços que as inovações na Medicina trazem para os diversos tipos de câncer. E também já não se fala apenas nesse tumor, mas de cuidados com saúde de forma geral.
Essas são importantes mudanças ressaltadas por Daher Chade, urologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. “O Novembro Azul começou como um alerta para o câncer de próstata, como é o Outubro Rosa com o câncer de mama para as mulheres. Mas como não há uma campanha específica para a saúde do homem, o momento passou a ser usado para conscientizar sobre a saúde do homem de maneira geral, em todas as idades”.
Jovens: ISTs, câncer de testículo e de pênis
O urologista explica que para os jovens é importante focar em duas questões principais: infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e câncer de testículo.
- Antigamente havia uma maior preocupação com as ISTs – com os tratamentos mais efetivos, o tema foi um pouco banalizado, havendo um descuido no cuidado com a transmissão e proteção.
“Existe uma transmissão muito ampla; as doenças que mais preocupam são o HPV e as hepatites B e C”, diz o especialista. “O HIV continua sendo muito importante, assim como a sífilis, que voltou a aumentar. No auge da epidemia de HIV, que era chamado de Aids, era mais fácil ter medo e convencer o jovem a se proteger. Atualmente, quem contrai essas doenças não manifesta clinicamente a ponto de preocupar amigos e familiares – muitas vezes ninguém fica sabendo que a pessoa tem a doença”.
Um fator relevante na abordagem da proteção contra as ISTs é a mudança de hábitos na vida sexual do jovem, como cita Daher Chade: “antes era muito mais comum ter uma parceira ou um parceiro fixo. Com a facilidade da comunicação, das redes sociais, ampliou muito o número de parceiros, o que possibilita maior transmissão”.
Outro ponto a ser considerado é o fato de o HPV ser uma doença difícil para se proteger mesmo com uso do preservativo – que diminui a transmissão, mas não evita tão efetivamente como HIV e hepatites. Os tratamentos do HPV são um pouco mais acessíveis, mais fáceis, porque são lesões locais tratáveis e podem ser retiradas.
- O problema nesse caso é que o HPV está relacionado ao câncer de pênis no homem – e de colo de útero na mulher.
“Muitas vezes o homem nem sabe que tem HPV e transmite para várias mulheres, que acabam precisando ser submetidas a tratamentos”, avisa o urologista.
No caso do HPV, a boa notícia é o aumento da vacinação masculina contra o vírus, segundo Daher Chade, principalmente entre a classe média alta. “É mais comum os jovens procurarem a vacinação, mas pela rede pública só está disponível para crianças e adolescentes; muitos já passaram da faixa etária e acabam tendo o custo da vacina, o que é limitante”.
Ele explica que a limitação da idade da vacinação entre 9 e 14 anos na rede pública – na rede particular não há esse limite de idade – é feita apenas por uma questão de custo-efetividade para o sistema de saúde brasileiro, que não comportaria vacinar todos os jovens. “Não necessariamente o homem vai contrair HPV no início da sua vida sexual. O jovem de 22 – 25 anos que não contraiu, por exemplo, ainda pode ser protegido”.
Por isso, alerta, a vacinação é recomendada, porque o desenvolvimento da imunidade não está relacionado à idade.
“Qualquer homem, de todo nível socioeconômico, pode ter câncer de pênis, e mais de 60% a 70% dos casos são decorrentes do HPV”.
Além da importância da prevenção e proteção, é essencial procurar o serviço médico assim que verifica a presença de verrugas ou qualquer anormalidade.
- Câncer de testículo é o tumor mais comum no homem antes dos 50 anos.
Como o câncer de testículo é indolor, torna mais difícil fazer sua detecção – por isso, o homem deve passar periodicamente por exames clínicos e também se autoexaminar, para detectar nódulos e alterações. “Apesar de ser o câncer mais comum no homem jovem, sua incidência é muito menor do que câncer de próstata”.
Câncer de próstata: detecção precoce salva vidas e reduz sequelas
A ideia de prevenção ganha outros contornos quando se trata de alguns tipos de tumores, como o câncer de próstata. Para esclarecer melhor as diferenciações, Daher Chade explica:
- Prevenção primária – é a que busca evitar desenvolver a doença, como a proteção para evitar HIV e hepatite.
“No câncer de próstata existem as duas formas: prevenção primária, que é evitar que surja o tumor, e a secundária, que é detectar precocemente – esse é o foco da campanha”, alerta. “Para o câncer de próstata, a prevenção primária é pouco efetiva e as recomendações são parecidas com as orientações cardiológicas: dieta com pouca gordura e evitar o sedentarismo. As duas coisas combinadas ajudam a ter menos câncer de próstata e também a desenvolver de forma menos agressiva”.
- Prevenção secundária é tudo que se faz para descobrir o câncer no início, como exames PSA e de toque, e consultas com especialistas.
Esse tipo de prevenção é fundamental porque quando o câncer de próstata é detectado no início, ele é curável. “Ela é mais efetiva, porque mesmo o homem que não é sedentário e não tem uma dieta hiper gordurosa pode desenvolver esse tumor, por questões genéticas. Mas se ele detectar no início, tem cerca de 90% de chance de cura. Por isso, dependendo do nível de acesso à saúde, temos entre 70% e 80% dos tumores descobertos em uma fase curável”.
Mesmo que o câncer de próstata seja detectado em uma fase mais avançada, ainda pode ser tratado – e esse aspecto também teve melhoras nos últimos anos. “Apesar de não chamarmos de cura, o homem pode viver por muitos anos bem, com qualidade de vida, mesmo em uma fase incurável da doença”.
Importante: a detecção precoce não apenas aumenta a possibilidade de cura, mas também reduz as chances de sequelas – é melhor a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes que detectam o câncer de próstata numa fase mais inicial em relação aos que detectam em uma fase mais avançada.
Cada homem tem sua própria recomendação
Nem todo homem deverá fazer exame de toque e PSA todos os anos – mas isso não significa que não precisa continuar anualmente fazendo sua consulta com o urologista. Pelo contrário: é justamente o especialista que poderá definir a melhor forma de acompanhamento, de acordo com cada caso, cada perfil.
Daher Chade destaca que o ideal, que é o preconizado, é todo homem iniciar a prevenção com 45 anos –, mas, com os avanços, já não existe uma regra com relação à frequência dos exames. “Temos hoje algoritmos, formas de cálculo para saber o risco de cada um desenvolver câncer de próstata, conforme vários fatores clínicos e laboratoriais iniciais”.
São considerados fatores de risco como idade, etnia, histórico familiar e o PSA, que antes era voltado a detectar o câncer e hoje ajuda a estimar o risco futuro.
Os primeiros exames permitem fazer essa avaliação e a partir daí ter as definições individuais, que serão alinhadas com médico e paciente para individualizar o acompanhamento. Há casos que precisam de avaliação anual, outros que podem alternar ano sim ano não. “É uma medicina mais individualizada, mas para isso requer avaliação periódica. Não fazer o exame não quer dizer não ir ao médico”, pondera o urologista.
“O câncer de próstata é muito 8 ou 80. Ou ele é muito curável, com 90% de chance, ou muito incurável, e tem uma linha tênue de divisão. Por isso insistimos para os homens darem atenção ao diagnóstico. Alguns homens fazem exames alguns anos e como os resultados não apresentam nada, acham que nunca vai mudar, o que dá uma falsa segurança. Ficam com a impressão de que o passado define o futuro, mas não é assim”.
Saiba mais sobre o Novembro Azul do Instituto Vencer o Câncer. Clique aqui e veja o VideoCast “Papo Reto”.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.