Quando bem indicada, a radioterapia pode sim ter papel curativo no tratamento do câncer, ser empregada com sucesso no controle da doença ou mesmo na gestão de sintomas em metástases ósseas, por exemplo. No entanto, muita gente ainda tem dúvidas, pois é um tratamento oncológico cercado de estigma e desinformação. Em lugar de uma perspectiva mais realista, não são poucos os pacientes que iniciam a radioterapia assombrados por mitos e histórias de ouvir dizer.
“O que o paciente precisa lembrar é que ele pode não apresentar nenhum desses sintomas das histórias que chegaram até ele. A radioterapia hoje evoluiu muito”, lembra Robson Ferrigno, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, também diretor do departamento de Radioterapia da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
O especialista reconhece que existe mesmo muito desconhecimento. O ideal é que o paciente converse francamente com seu médico para esclarecer as dúvidas e começar o tratamento mais confiante. Outro alerta diz respeito a dúvidas bastante comuns. Com a radioterapia, o cabelo vai cair?
“É uma preocupação frequente. É o momento de explicar que a radioterapia só vai provocar efeito colateral na área tratada”, esclarece Ferrigno. “Então, só vai cair o cabelo se essa região for irradiada”, acrescenta.
Muitos pacientes também acham que podem ficar radioativos durante o tratamento, o que só acontece em casos específicos. “A radioterapia externa não deixa nenhum tipo de radiação remanescente. O paciente pode ficar tranquilo porque sua família, amigos e colegas de trabalho não estarão expostos a nenhum tipo de radiação”, ensina Ferrigno.
O medo de queimaduras e lesões de pele nem sempre tem razão de ser e é outro estigma que costuma acompanhar o paciente e traz dúvidas até mesmo entre profissionais da saúde. “A minha cunhada teve câncer de mama, fez radioterapia, e passava camomila na pele, para amenizar. A enfermeira me falou para fazer banho de assento de camomila e eu ficava imaginando ‘caramba, mas será que vai queimar?’”, conta Luiz Nunes, 67 anos, atualmente em tratamento para câncer de próstata.
“A gente não sabe, não tem experiência, mas se a enfermeira fala isso você pensa, tenho que fazer, né? Aí conversei com meu médico e ele me disse para esquecer essa história, porque no câncer de próstata não tem necessidade”, diz ele, que hoje recebe o tratamento com IMRT, a chamada radioterapia de intensidade modulada, sigla do termo em inglês Intensity Modulated Radiation Therapy.
A radioterapia tem sido empregada desde o final dos anos 90 e permite emitir feixes de radiação de intensidade modulada. Significa dirigir doses mais concentradas de radiação na área-alvo, com a possibilidade de preservar áreas críticas, o que diminui a exposição dos tecidos normais à radiação e reduz os efeitos tóxicos do tratamento.
“Eu acho que a enfermeira devia estar mais informada, porque comprei meia dúzia de caixas de camomila, e já estava pensando que ia ter que comprar mais”, diz Luiz, agora mais aliviado depois de iniciar o tratamento e perceber que a radioterapia podia ser bem diferente do que imaginava de início. “Ainda me preocupo, mas converso com meu médico e ele me tranquiliza. Hoje eu estou otimista, não adianta ficar de cabeça baixa. Primeiro, tem que procurar um tratamento adequado, um médico que transmita confiança, isso é importante. E tem que procurar manter a cabeça no lugar. Levar a vida, né? Procurar o melhor tratamento, confiar e aí seguir em frente, de cabeça fria”, recomenda.
Luiz acabou de fazer a sexta sessão de radioterapia, de um total de 39, e não sentiu nenhum efeito desagradável, a não ser um pouco de desconforto ao urinar. “De resto, não tenho sintoma nenhum, as sessões duram em torno de 10 minutos e saio de lá normalmente.”
Modernização
Com a modernização e o refinamento da técnica, ficou mais evidente o papel curativo da radioterapia. Diferentes tipos de câncer são curados com a radiação, que em casos selecionados pode substituir com vantagens a cirurgia e as morbidades associadas.
“No câncer de próstata, por exemplo, muitas vezes tratamos o paciente com radioterapia com resultados tão bons quanto a prostatectomia, sem os riscos associados”, lembra o radio oncologista.
Nos últimos anos, o planejamento e a execução da radioterapia viveram o impacto dos avanços em hardware e software. Nos casos de câncer que afetam a região da cabeça e pescoço, a radioterapia é cada vez mais utilizada como parte do tratamento.
“Em lugar de cirurgias que poderiam ser mutilantes, a radioterapia se apresenta hoje como excelente opção de tratamento. Hoje mesmo, atendi um paciente com tumor de laringe que vai ser curado só com a radioterapia. Se fosse operado, ele perderia a voz”, ilustra o especialista.
Por essas e outras, antes de alimentar fantasmas e se assombrar com a radioterapia, o melhor é sempre buscar informação de qualidade e conversar com a equipe médica responsável.
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.