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Novembro azul e a importância dos cuidados emocionais do paciente

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Danilo de Freitas Maciel 

O câncer de próstata se desenvolve quando as células da próstata, uma glândula do sistema reprodutivo masculino, começam a crescer de maneira descontrolada. Fatores como idade, predisposição genética e exposição a hormônios sexuais, como o hormônio masculino testosterona, desempenham um papel importante no desenvolvimento desse tipo de câncer.

Saúde do homem

Alguns estudos têm apontado o distanciamento dos homens dos serviços de saúde, além da menor adesão aos tratamentos propostos e de adaptação à nova rotina de cuidados, já indicando sobre sintomas da construção das masculinidades. 

Falar sobre esse contexto se faz necessário, à medida que refletimos sobre quanto o modelo cultural do “homem de verdade” pode estar influenciando o cuidado com a saúde. 

Sendo psico-oncologista atuando em um Centro Oncológico, não só é possível perceber esses fatores, mas também ver que, ainda hoje, é recorrente que homens pertencentes a diferentes grupos sociais e com diferentes níveis de escolaridade resistam à realização do exame de toque retal, frequentemente ainda percebido como uma violação sexual e um comportamento que invalida sua virilidade.

Sabemos a importância dos exames preventivos há anos. Porém, culturalmente, percebemos que deixamos a desejar no momento de trazer para a prática a realização dos mesmos. Outro ponto importante que podemos notar nesse cenário é a dificuldade em lidar com a possibilidade de perder papéis sociais do homem resiliente, independente e autônomo. 

Existem inúmeras metáforas ligadas ao diagnóstico oncológico que justificam o fato dessa doença ser encarada como uma sentença de morte, o que por sua vez dificulta a elaboração dos conteúdos emocionais. Um dos principais medos dos pacientes, sendo o mesmo reforçado pelos diversos estigmas, são os tratamentos e seus possíveis efeitos colaterais.  

Ao se preparar para iniciar o tratamento do câncer, é normal temer os efeitos relacionados a ele. Isso está dentro do esperado. Uma das formas de lidar com o medo e sensação de falta de controle é saber que sua equipe de saúde trabalhará para prevenir e aliviar esses efeitos colaterais.

Conversando com a equipe de saúde 

Antes de iniciar o tratamento, uma indicação importante é a conversa com o médico sobre os possíveis efeitos colaterais. Algumas perguntas podem ser feitas para auxiliar neste momento:

– Quais efeitos colaterais são mais prováveis?

– Quando é provável que aconteçam?

– O que podemos fazer para evitá-los ou aliviá-los?

– Quando e para quem devemos ligar para retirar dúvidas pontuais sobre os efeitos colaterais?

O paciente deve certifique-se de informar a sua equipe de saúde sobre quaisquer efeitos colaterais que ocorram durante e depois do tratamento, mesmo que não considere que os efeitos secundários sejam graves. Esta discussão deve incluir os efeitos físicos, emocionais, sociais e financeiros.

No que diz respeito aos efeitos colaterais, um dos principais pode ser a perda do desejo sexual, por causa dos tratamentos que reduzem a testosterona. Isso fará com que o paciente fique menos interessado em intimidade física e em fazer sexo. O desejo sexual também é influenciado por outros fatores, como satisfação no relacionamento, autoestima e saúde psicológica. Cuidar desses fatores podem ajudar a minimizar os impactos gerados nesse momento. 

Muitas vezes, é útil concentrar-se em outras formas de intimidade e toque sensual, a fim de aumentar a conexão e impulsionar uma sensação de proximidade e satisfação. 

Mais importante ainda, reserve um tempo para se comunicar com sua (seu) parceira (o). 

Sim, a castração química também é uma opção de tratamento para câncer de próstata em alguns casos e precisamos falar sobre os impactos emocionais a partir dessa possibilidade. É importante destacar que a sexualidade e a identidade masculina estão frequentemente ligadas à virilidade e à função sexual na sociedade, como já citamos acima. Portanto, para muitos homens, enfrentar a possibilidade de tratamentos como a castração química pode ser emocionalmente desafiador. 

Não só ansiedade e tristeza podem ocorrer

A perda da função sexual e das características sexuais secundárias devido à redução da testosterona pode desencadear sentimentos de ansiedade e tristeza, mas também questões de autoestima, em função da masculinidade estar ligada à função sexual. 

Um ponto de importância ímpar e pouco falado no Brasil são os grupos de apoio e aconselhamento, que podem surgir como importante recurso de enfrentamento para homens que passam por essas situações. A masculinidade não se limita à função sexual, e é fundamental que os homens recebam apoio para enfrentar esses desafios emocionais enquanto lidam com o contexto de adoecimento.

No Novembro Azul, lembramos a todos que a saúde do homem vai além dos exames médicos. O câncer de próstata afeta não apenas o corpo, mas também a mente e a alma. Como psicólogo, entendo que o diagnóstico e o tratamento desse câncer podem ser emocionalmente desafiadores. Acompanhar um paciente nesse processo é tão fundamental quanto qualquer procedimento médico.

Nossa missão é oferecer apoio emocional, fornecer estratégias para lidar com o estresse e ansiedade, e ajudar os homens a manter sua qualidade de vida. Através do diálogo aberto, promovemos a compreensão de que buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. 

Psicólogo Clínico e Hospitalar, graduado pela Universidade Paulista – UNIP, com curso de aprimoramento em Psicologia Hospitalar pelo Hospital São Luiz – Rede D’Or. Pós-Graduado em Psico-Oncologia pela Universidade in Company de São Paulo – Unisãopaulo. 

CRP: 06/163055

Referências: 

MARTINS, Alberto Mesaque; NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do. “Eu não Sou Homem Mais!: “: Masculinidades e Experiências de Adoecimento por Câncer da Próstata. Gerais, Rev. Interinst. Psicol.,  Belo Horizonte ,  v. 13, n. 2, p. 1-19, ago.  2020 .  

Almeida, A., & Santos, M. (2011). Representações sociais masculinas de doença e saúde. In Z. Trindade, M. Menandro & C. Nascimento (Orgs.). Masculinidades e práticas de saúde. Vitória: GM Editora. 

Gomes, R., Nascimento, E., Rebello, L., & Araújo, F. (2008). As arranhaduras da masculinidade: uma discussão sobre o toque retal como medida de prevenção do câncer prostático. Ciência & Saúde Coletiva, 13(6), 1975-1984.

Martins, A. M., & Nascimento, A. R. A. do. (2017). REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE CORPO APÓS O ADOECIMENTO POR CÂNCER NA PRÓSTATA. Psicologia Em Estudo, 22(3), 371-381.

Modena, C. M., Martins, A. M., Gazzinelli, A. P., Almeida, S. S. L., & Schall, V. T. (2014). Câncer e masculinidades: sentidos atribuídos ao adoecimento e ao tratamento oncológico. Temas em Psicologia, 22(1), 67-78.

Martins, A., & Modena, C. (2016a). Câncer e masculinidades: o sujeito e a atenção à saúde. Curitiba: Editora Juruá

Paiva, E., Motta, M., & Griep, R. (2011). Barreiras em relação aos exames de rastreamento do câncer de próstata. Revista Latino Americana de Enfermagem, 19(1), 1-8.

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