“O desconhecimento da condição de saúde do fígado agrava o risco de desenvolvimento do câncer”
O tumor de fígado é a terceira principal causa de morte por câncer em todo o mundo. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam cerca de 10,7 mil novos casos por ano no triênio 2023-2025. Um estudo recente da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), entidade ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta que a sobrevida do câncer de fígado continua ruim, mesmo em países de alta renda, e poucas melhorias na sobrevida foram apresentadas nas últimas décadas. Assim, prevenir é fundamental para reduzir a incidência e mortalidade por este tipo de tumor. É importante saber mais sobre fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento. É bom reforçar que as informações, no entanto, não substituem a orientação dos profissionais de saúde.
Conheça o fígado
O fígado é considerado o maior órgão interno do corpo humano e realiza funções vitais. Localizado na parte superior direita do abdome, ele metaboliza substâncias nocivas para o organismo, é responsável pela produção de bile para a digestão, transforma várias substâncias em nutrientes necessários para o organismo e produz de proteínas essenciais para a coagulação e a manutenção do equilíbrio de fluidos no corpo. As células predominantes no fígado são os hepatócitos.
Neles se originam os hepatocarcinomas, um dos tumores malignos mais frequentes do trato digestivo.
Sinais e fatores de risco para o câncer de fígado
- Cirrose – Para quem sofre de cirrose, o risco de desenvolver câncer de fígado no decorrer da vida varia de 1% a 4%;
- Vírus da hepatite B – A infecção crônica por este vírus aumenta 140 vezes o risco de hepatocarcinoma. Cerca de 50% a 60% das pessoas com esse tipo de câncer são portadoras do vírus da hepatite B;
- Vírus da hepatite C – A infecção pelo vírus da hepatite C também é fator de risco para tumores no fígado. O maior risco ocorre em pacientes do sexo masculino com cirrose, na faixa etária de 60 a 70 anos, fumantes, infectados cronicamente pelo vírus da hepatite C;
- Doenças metabólicas – a esteatose hepática (o acúmulo de gordura no fígado), além de doenças mais raras, como a hemocromatose, a deficiência de α-1 antitripsina e a tirosinemia são consideradas fatores de risco para tumores no fígado;
- Consumo de substâncias como anabolizantes e alimentos que contêm aflatoxina (compostos tóxicos produzidos por fungos;
- Lesões pré-malignas – os adenomas de fígado muito raramente podem sofrer transformação maligna. Já os hemangiomas, frequentemente encontrados nas ultrassonografias hepáticas, são lesões puramente benignas.
Quando o câncer de fígado apresenta sinais, são comuns dores no lado direito do abdômen com irradiação para a região do ombro direito, cor amarelada da pele e dos olhos, falta de apetite, perda de peso, sensação de cansaço, palidez e febre.
Esteatose x obesidade
Os tipos de câncer de fígado
tumores primários, destacam-se:
-
Carcinoma hepatocelular ou hepatocarcinoma
- É o tipo mais comum, responsável por cerca de 90% dos casos. Como o
próprio nome descreve, trata-se do tumor que se origina dos hepatócitos, o
principal tipo celular funcional do fígado;
- É o tipo mais comum, responsável por cerca de 90% dos casos. Como o
-
Colangiocarcinoma
- Responsável por um em cada 10 tumores malignos hepáticos, surge nos
ductos biliares, estruturas em forma de cano responsáveis pelo transporte da
bile do fígado para o intestino.
- Responsável por um em cada 10 tumores malignos hepáticos, surge nos
-
Carcinoma hepático, variante fibrolamelar
- É pouco frequente e não tem associação aparente com cirrose hepática ou
infecção pelos vírus da hepatite B e C. Tem prognóstico melhor do que o
carcinoma hepatocelular comum.
- É pouco frequente e não tem associação aparente com cirrose hepática ou
Hepatoblastoma
O hepatoblastoma é tumor maligno raro, que atinge recém-nascidos e crianças nos primeiros anos de vida, mais comum no sexo masculino. Com o tratamento correto, as chances de cura podem chegar a 80%.
O diagnóstico do câncer de fígado
A dosagem da alfafetoproteína (AFP), proteína liberada no sangue pela maioria dos tumores hepáticos malignos, também é útil para mostrar possíveis mudanças. Porém, como outras condições além de tumores hepáticos podem levar à alteração deste exame, o resultado deve sempre ser analisado em conjunto com a avaliação clínica de cada caso.
Diagnóstico
O diagnóstico do câncer de fígado, então, envolve geralmente a realização de uma biópsia hepática ou de algum outro órgão suspeito de disseminação à distância. Mas quando o quadro clínico em associação aos exames de imagem é altamente indicativo de algum tumor e a dosagem de AFP for maior ou igual a 400 ng/ml, o diagnóstico de câncer pode ser estabelecido já sem a necessidade de uma biópsia. Vale ressaltar que o hepatocarcinoma tende a apresentar um curto tempo de evolução e cresce rapidamente.
Tratamento
O câncer de fígado é comumente acompanhado de alterações na função do órgão. Por isso, é importante avaliar a função hepática e o grau de comprometimento antes de definir a melhor estratégia de abordagem. O tipo de tratamento é definido a partir do estágio em que a doença se encontra: O tumor pode ser curável por meios cirúrgicos nas fases em que é único e não invadiu os vasos sanguíneos ao redor do fígado (tumor primário).
Se as células do câncer já invadiram os vasos sanguíneos ao redor ou se há múltiplos tumores espalhados pelo fígado maiores que 5 cm, as técnicas mais empregadas são:
- Hepatectomia: retirada de parte do fígado, com melhores resultados em tumores únicos e pequenos. A função hepática precisa estar preservada para garantir que o órgão regenere a porção perdida;
- Transplante de fígado: alternativa no caso de tumores confinados ao fígado e quando o mesmo está com sua função tão comprometida pela cirrose;
- Ablação por radiofrequência e alcoolização: técnicas menos invasivas, que pretendem destruir o tumor utilizando radioenergia ou a injeção de álcool absoluto (100%), realizadas quando nem cirurgia nem o transplante de fígado são exequíveis;
- Quimioembolização: injeção de agentes quimioterápicos diretamente no interior da artéria que nutre a região em que a massa tumoral se encontra. Já para os estádios III e IV, quando as células tumorais atingiram os órgãos vizinhos ou se disseminaram pela corrente sanguínea e pelos vasos linfáticos ou criaram focos metastáticos nos pulmões ou ossos, as técnicas acima, como regra geral, não são suficientes para controlar a doença. São indicadas, nestes casos:
- Terapêutica antiangiogênica – com a utilização de agentes que bloqueiam a formação de novos vasos sanguíneos, impedindo que as células tumorais recebam nutrientes e oxigênio através da circulação;
- Imunoterapia – medicações intraendovenosas que não atacam o tumor em si, mas ajudam o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células malignas.
- Quimioterapia – tratamento pode ocasionalmente ser benéfico em casos particulares, para alguns tipos mais raros de tumores hepáticos.
Seguindo em frente depois do tratamento.
Para muitos pacientes com câncer de fígado, o tratamento pode eliminar a doença. Para outros, o tumor pode nunca desaparecer completamente. O acesso a todas as informações sobre o tratamento é essencial para que a paciente reconheça possíveis sinais de retorno do câncer. Mantenha a frequência das consultas de acompanhamento e dos exames de rotina, converse sempre com seu médico sobre suas dúvidas e siga a orientação da equipe médica. Se você foi tratado com cirurgia, transplante de fígado ou ablação/embolização e não tem sinais de câncer remanescentes, a maioria dos médicos recomenda o acompanhamento com exames de imagem e exames de sangue a cada 3 a 6 meses nos primeiros anos, depois a cada 6 a 12 meses. O acompanhamento é necessário para verificar a recorrência ou disseminação do câncer, bem como possíveis efeitos colaterais de certos tratamentos.
Prevenção
O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.