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Vacina contra HPV: uma imunização que ajuda a prevenir o câncer de colo de útero e outros tumores

Vacina contra HPV imunização previne o Câncer de Colo de Útero e outros

 

Produtor do imunizante, Instituto Butantan explica forma de atuação e destaca estudos comprovando eficácia

A relação entre a presença do vírus HPV e a propagação de tumores começou a ser registrada na década de 1980 e o primeiro pesquisador a documentar essa ligação recebeu prêmio Nobel em Medicina em 2008, avisa José Carlos Mann Prado, especialista de Produção de Vacinas do Instituto Butantan, órgão responsável pela produção do imunizante adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O especialista explica ainda que nos tumores de colo de útero o material do vírus HPV é encontrado em mais de 95% dos casos e que em outros tumores, como vaginal, vulva, anus, pênis, região da cabeça e pescoço, as taxas ficam sempre acima de 50%. 

Nessa entrevista ao Instituto Vencer o Câncer ele traz o exemplo bem-sucedido da Austrália, explica as formas de atuação e eficácia e comenta o processo do desenvolvimento da vacina contra o HPV, em parceria com a empresa americana Merck Sharp & Dhome, através do programa de Parceria para Desenvolvimento Produtivo – PDP, do Ministério da Saúde.

 

Por que a vacinação contra o HPV é importante na prevenção contra o câncer de colo de útero e outros tipos?

José Prado: A vacina contra o HPV combate algumas formas de cânceres. Essa afirmação se consolida nos indicativos entre a presença do vírus, suas propriedades biológicas, tanto de replicação quanto de permanência nos indivíduos infectados, sua forma de propagação entre humanos e sua alta taxa de associação ao desenvolvimento de tumores. 

Essa associação, hoje muito bem documentada através de estudos efetuados em diversas regiões geográficas com diferentes populações, começou seu histórico de registro na década de 80. O pesquisador que primeiro descreveu essa ligação, entre a presença do vírus com desenvolvimento de cânceres de colo de útero, foi laureado com o prêmio Nobel de medicina em 2008. 

Nos tumores de colo de útero, o material do vírus HPV deve ser encontrado em sua esmagadora maioria (>95 % dos tumores). Em outros tumores, vaginal, vulva, anus, pênis, região da cabeça e pescoço, essa detecção varia bastante, mas com taxas sempre altas (> 50 % em todos). 

O câncer de colo de útero se caracteriza como uma doença crônica, silenciosa e de progressão, na imensa maioria das vezes, sequencial. Isso significa que algumas condições patológicas, lesões no epitélio do colo do útero, são anteriores ao desenvolvimento do tumor. Essas lesões são classificadas progressivamente conforme padrões de comprometimento do tecido, maior lesão, em grau de lesões. Existem três categorias, ou grau de lesão. 

Na Austrália, como exemplo, a ampla distribuição de vacina de HPV e também um outro serviço de busca pelos indivíduos que por alguma razão tiveram a imunização não realizada, demonstrou uma queda já nestas lesões pré-malignas. A atividade protetora da vacina de HPV é tão evidente que o seu resultado já demonstra uma enorme diminuição nestas lesões anteriores ao aparecimento do tumor. 

Assim, neutralizando a infecção pelo vírus, impedimos o surgimento dos tumores. Falando em outros tipos malignos em diferentes regiões anatômicas, e tendo o postulado da presença viral como agente causador da doença em comum nesses diferentes tumores, o mesmo efeito protetor se torna diretamente correlato ao demonstrado para colo de útero.

Desta forma, é crucial que jovens se imunizem, independentemente de seu sexo. Essa vacina, assim como a vacina de Hepatite B, visa combater uma doença neoplásica. Doenças neoplásicas afetam não só o paciente, mas a família como um todo. As mães representam a vida. Uma família afetada com a magnitude de perda maternal muitas vezes fica sem seu chão, sendo abalado todo universo familiar.

 

Qual a forma de atuação dessa vacina?

José Prado: Essa vacina, esse imunógeno (imunógenos são substâncias capazes de gerar uma resposta imune) irá atuar no corpo do indivíduo imunizado através da ação de anticorpos capazes de inibir a infecção. Desta forma, os anticorpos gerados têm a capacidade de neutralizar a infecção pelo vírus e, por conseguinte, recebem a denominação de anticorpos neutralizantes. 

Neste ponto, vale a pena discutir a necessidade de vacinar indivíduos na fase pré-exposição ao vírus. A exposição ocorre, majoritariamente, antes da segunda década de vida. Mais especificamente, comprovou-se que, quando aplicada em pré-adolescentes, sua eficácia era ainda maior (um número menor de doses aplicadas em pré-adolescentes, essa vacina é capaz de gerar resposta eficiente). Esses foram os dois motivos de escolha desta faixa etária como sendo a faixa definida pelo Ministério da Saúde. Lembrando que é uma vacina ofertada no Sistema Único de Saúde – SUS, e atua positivamente na vida dos vacinados, protegendo-os do câncer em diversos tecidos com maior atuação, mas não única, no câncer de colo de útero.

 

Como funciona sua eficácia?

José Prado: Sua eficácia imediata se baseia na capacidade de gerar anticorpos nos indivíduos imunizados. A eficácia em gerar respostas foi definida em sendo maior que 95% dos vacinados. Mas como eficácia secundária, e ainda mais importante, em populações nórdicas e na Austrália, onde a vacinação é mais efetiva e de maior cobertura, já são notadas diminuições expressivas nas lesões de colo de útero. 

Essas são lesões que precedem o desenvolvimento de tumores. Então, a lesão pré-maligna já teve sua diminuição registrada e, desta forma, um estudo na Austrália, usando de modelos matemáticos, previu que em poucas décadas o câncer de colo de útero será eliminado. Por essa maravilhosa previsão, a Organização Mundial da Saúde, traçou a meta de ampliar a oferta da vacina de HPV como estratégia para combater essa terrível doença, eliminado seu agente causador e assim combatendo o câncer de colo de útero.

 

Como foi o trabalho do Butantan no desenvolvimento dessa vacina?

Resposta: Essa vacina resulta de uma parceria estabelecida entre o Instituto Butantan e a empresa americana Merck Sharp & Dhome, por meio do programa de Parceria para Desenvolvimento Produtivo – PDP, do Ministério da Saúde. Pela característica do programa do Ministério da Saúde, foi priorizado um produto vacinal que já tivesse sua eficácia demonstrada. Assim, nosso intercâmbio se estabeleceu e prossegue na transferência sobre a produção, formulação e armazenamento da vacina.

 

O Instituto troca conhecimento em relação a essa vacina com outras entidades internacionais, para comparação de estudos, resultados etc.? Há atualizações de informações? Em caso afirmativo, quais seriam as mais recentes?

José Prado: Sempre existe a troca de expertise quanto à produção e às melhorias de processos nas diversas etapas/técnicas que empregamos. A indústria farmacêutica investe muito para o desenvolvimento de vacinas novas, seguras e que possam ser amplamente distribuídas. 

Por esse motivo, muitos pontos de produção, e também demais informações quanto à sua produção, são sigilosos. Mesmo assim, interagimos na busca por produtos com uma maior segurança, efetividade e rendimento, com a nossa empresa parceira.

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