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Câncer de mama e as emoções: além do que os olhos podem ver!

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O Outubro Rosa é um mês muito conhecido pela questão da prevenção do câncer de mama. Diversas ações são realizadas a fim de promover o diagnóstico precoce e o tratamento adequado a muitas pacientes e a uma parcela menor – mais rara, mas extremamente importante de ser considerada – de pacientes do sexo masculino.

No entanto, pouco se fala sobre os aspectos emocionais envolvidos durante todo o tratamento. Os aspectos emocionais mais conhecidos e difundidos na mídia e no senso comum são aqueles relacionados ao evento da mastectomia, onde se lançam luz para a perda da mama e sua relação com a maternidade e com a sexualidade… Mas, o que vai além daquilo que já é conhecido? Existem outras situações e reações que podem ser experimentadas e vividas pelas pacientes?

Diante dessas perguntas importantes, vale pensar que todo diagnóstico de doença oncológica pode ser um potencial desencadeador de estresse, sintomas de depressão e sintomas de ansiedade. O câncer ainda é uma doença estigmatizada e carregada de aspectos negativos… Então, quando nos perguntamos sobre aquilo que se passa na vida emocional das pacientes com câncer de mama durante o tratamento, vale pensar que a grande maioria experimenta ou pode ter experimentado uma sensação de medo, ansiedade, receio, estresse, dentre muitas outras sensações e reações.

Estas reações emocionais podem acompanhar as pacientes durante todo o processo quando estas não têm a chance de contar com uma equipe multidisciplinar preparada para o cuidado, quando não contam com o suporte social satisfatório (por parte de amigos e familiares) e quando não compreendem as etapas e possíveis reações que terão durante o tratamento. E, nesse momento, entramos na primeira situação que pode ser uma das grandes geradoras de estresse na paciente: o desconhecimento das fases e reações do tratamento! 

Aqui, vale pensar em algumas situações/ reações emocionais de pacientes e famílias que podem ajudar a pensar na procura por um suporte psicológico:

Desconhecimento da doença e do tratamento

Como dito anteriormente, vale iniciarmos os nossos tópicos com essa primeira reflexão acerca do conhecimento! Pacientes que têm pouco ou nenhum conhecimento sobre a doença e o tratamento tendem a ter reações emocionais mais negativas, neste caso, além do psicólogo, vale o esclarecimento junto a equipe multidisciplinar! O conhecimento é algo EMPODERADOR e tende a auxiliar na aceitação e adesão ao tratamento!

Mastectomia

“Não importa o tamanho, não importa o quadrante, não importa se a retirada da mama será total: mexer no corpo é COISA SÉRIA!” Cada pessoa reagirá de uma forma diferente! A paciente que terá de fazer alguma intervenção cirúrgica na mama precisa – além de conhecimento – de acolhimento por parte da equipe e da família. A mastectomia pode trazer impactos importantes na sexualidade e na concepção da imagem corporal que a paciente construiu durante toda a vida da paciente e, isso, por si só já É MUITO SÉRIO! É importante que a equipe e a família entendam os medos e receios da paciente… Essas reações são normais e esperadas quando acontecem, contudo, se esse sofrimento se tornar algo prolongado, paralisante ou que possa afetar a adesão ao tratamento, vale pensar no auxílio de profissionais especializados.

Transformações

A queda do cabelo e mudanças corporais em conjunto com a mastectomia: aqui já falamos de mais perdas que podem ser potencialmente importantes, principalmente para as mulheres. As mulheres costumam experimentar uma relação com os cabelos muito associada à feminilidade. Logo, com a queda do cabelo por conta da quimioterapia, o emagrecimento, inchaços ou até o ganho de peso, em conjunto com a questão da retirada da mama, pode, por exemplo, afetar concepção da imagem corporal, necessitado, assim, de um suporte especializado para que a reconstrução emocional desse corpo seja possível.  Sim, construímos o nosso corpo não só fisicamente, mas também emocionalmente! Muitas pacientes podem desencadear sintomas de depressão e ansiedade nesta fase.

O final do tratamento e a cura  

Este é um dos momentos mais esperados pelas pacientes e famílias, no entanto, é neste momento que muitas pacientes podem experimentar uma reação emocional diferente. Muitas relatam que “acionaram o piloto automático” durante o tratamento e “encararam tudo de frente”, mas, após a cura, começaram a sentir-se mais ansiosas, vivenciaram sintomas de depressão e medos importantes frente aos exames de rotina. Pode parecer estranho, mas SENTIR-SE CURADA também é um processo e, por vezes, a paciente poderá precisar de ajuda especializada para isso!

Diante desses tópicos, vale ressaltar a importância do acompanhamento psicológico com profissional especializado ou com experiência em Psico-Oncologia!

Como apontado nos tópicos, passar por alterações no corpo, vivenciar uma possível cirurgia, se deparar com um diagnóstico modificador da vida, conhecer as etapas de um tratamento que pode causar medo e, até mesmo, compreender emocionalmente que está curada, NÃO É TAREFA FÁCIL! Por esse motivo, vale pensar na inserção de um tratamento psicológico em conjunto com seu tratamento oncológico desde o momento do diagnóstico. 

A função do Psico-oncologigista pode tomar diversas frentes, dentre elas, o suporte no início do diagnóstico para a promoção de uma melhor aceitação e enfrentamento; o suporte psicológico para o enfrentamento das perdas ocasionadas pelo tratamento; as intervenções relacionadas a reabilitação psicológica após o tratamento e, até mesmo, a preparação emocional para a realização de procedimentos cirúrgicos.

Vivenciar o câncer de mama não é fácil, mas é de suma importância que a paciente e seus familiares saibam que não estão sozinhos durante esse processo e que as reações emocionais podem ser devidamente cuidadas nessa caminhada!

 

Caio Henrique Vianna Baptista – @CV.PSI
Psicólogo e Psico-Oncologista
Presidente da Estadual SP – Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO)
Psicólogo do Hospital São Luiz – Jabaquara – Rede D’Or – Núcleo Pró-Creare

Logotipo do Instituto Vencer o Câncer

O Instituto Vencer o Câncer é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada pelos oncologistas Dr. Antonio Carlos Buzaid e Dr. Fernando Cotait Maluf, com atuação em 3 pilares: (1) Informação de excelência e educação para prevenção do câncer. (2) Implementação de centros de pesquisa clínica para a descoberta de novos medicamentos. (3) Articulação para promoção de políticas públicas em prol da melhoria e ampliação do acesso à prevenção, ao tratamento e à cura do câncer.

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